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segunda-feira, 25 de abril de 2011

Mulher guerreira

No despertar amargo
dos doces sonhos,
forte, teimosa e bonita,
morre a fada menina,
nasce a mulher altiva.
Calada, passas erguida.
Não te rende a mão amiga,
Não te volta a vida antiga.
De nada vale a derrota,
combates firme, de frente,
corajosa e duramente.
Do amor à dor, finalmente
surge a cria.
Renovam-se as forças, no
combate a vida  cruel e fria.
O destino te golpeia, não
importa. Nada importa !
Ficas de pé, alvissareira .
És forte, não desistes.
Cai o mundo, não ficas
triste.
És mulher, és guerreira !

Conto poético: Consciência

Anoitece no vilarejo de uma comunidade
de pescadores, no litoral do Estado Catarrinense.
O mar revolto, o vento frio, encurralam
os moradores em suas casas.
Da beira dos telhados, escorre a
água deixada pela fraca, mas persistente
garoa que tudo molha.
Os animais domésticos abrigam-se, como
podem,nos porões dos ranchos e das casas.
As ruas, quase desertas, parecem esconder,
silenciar ou segredar algum fato, que não
pode ou não deve ser comentado.
O silêncio é por demais inquietante. Assusta.
Absorto em minhas observações sou
interrompido pelo barulho de uma pequena
carroça, de duas rodas, movida à tração
humana. apropriada para transportar materiais
inservíveis.
Um homem de estatura média, pés descalços,
maltrapilho, trazendo à cabeça um velho
chapéu de feltro, na cor marrom, é o seu
operador.
Revira e vistoria os sacos de lixo, à procura
dos materiais que lhe interessam.

Cansado, senta-se numa pedra  à beira do
caminho, e prepara com um ritual admirável,
o seu cigarro de palha.
Era a minha grande oportunidade de saber
um pouco, sobre aquele mórbido silêncio.
Sentei ao seu lado e. após algumas
provocações, informou-me chamar-se Amadeu
Romildo Siqueira, mas que todos o conhecem
por "Bajú", e que gosta muito do apelido.
Solitário, mas também observador, Bajú
conhece todos os moradores, pois reside
naquele lugar desde que nasceu, no ano de
1910.
Disse haver sido vítima de uma injusta
acusação de latrocínio, e que, por isto,
passou grande parte da sua vida, recluso
em um presídio na Capital.
Foi humilhado, espancado e, finalmente,
julgado por um júri composto por pessoas
acima de qualquer suspeita.
Após cumprir dezesseis anos,  setenta dias e
nove horas de prisão. o verdadeiro
assassino, não mais suportando peso da
consciência, procurou a polícia e confessou,
com detalhes, a sua autoria.
O Senhor Juiz, após alguns dias, determinou
a sua soltura..
O Senhor Prefeito renunciou ao cargo. por
vergonha de ver seu filho  condenado à
prisão.
O Doutor Promotor de Justiça foi embora
deste lugar,
e ninguém sabe do seu paradeiro.
Dois jurados ainda vivem.
Perguntei-lhe como suportou a prisão por
tanto tempo, sendo um homem inocente ?
Ao que, prontamente, respondeu-me :
"Ah, meu filho, exatamente por isto. Meu
corpo estava encarcerado, mas a minha
consciência sempre esteve em liberdade ."

domingo, 24 de abril de 2011

Acácia negra

Término do verão.
O ar se arrefece.
Começa uma nova estação.
A aparência exuberante do
mundo vegetal, cede lugar a
um cenário de auto destruição.
As sementes adormecem,
enquanto o encantador verde
das folhas, é substituído,
silenciosamente, pelo mórbido
amarelo, precursor da mortalidade.
Está instalado o aviso prévio  da
natureza...
Tudo há que ser mudado.
Entretanto, no mundo vegetal
infinito, uma espécie, desobediente
e corajosa, se nega a morrer.
Mantém suas folhas e flores
intactas, numa rebeldia à ordem
natural, sem precedentes.
De aparência rústica, ostentando um
verde escuro e flores amarelas,
refletindo o astro rei, floresce quando
neccessário, e sempre atenta, não à
ordem da natureza, mas à situação
social.
Símbolo dos homens de bem, foi
plantada, oficialmente, em 1717.
Acácia Negra, a trincheira do amor e
da moral.

sábado, 23 de abril de 2011

Conto poético: A força do destino

Só, com os seus pensamentos, o homem maltrapilho,
sentado à beira do caminho, contempla um vazio.
Observa a vida ou a morte, não se sabe.
Nada responde, também não pergunta.
Não aceita oferendas, nem pão e água.
Quer, apenas, recordar. Nada mais.
Seus olhos, sem brilho, pareciam guardar
um sério segredo.
Seus lábios indicam o sofrimento de quem
não sorri.
Suas mãos, ásperas, tremem.
Seus pés, descalços, trazem as cicatrizes
de quem caminhou pelo mundo.
Não há mais rosto, somente sulcos
profundos, denunciando as marcas do
tempo e de um impiedoso sofrimento.
No pescoço, pendurada por um cordão, já
sem cor, uma medalha de couro, com as iniciais
m.c.r.
Anoitece,  as pessoas do povoado solicitam
do Delegado de polícia, uma providência.
O velho homem, não podia ali permanecer.
Levado à delegacia, e recolhido a uma
modesta cela, de portas abertas, pernoitou, o
homem, por autorização da autoridade
competente.
Sobre a mesa do  gabinete do Delegado, uma
suntuosa placa, fundida em bronze,  ostentava:
M.C.R. Neto, Delegado de Polícia.

Conto poético: O andarilho

Esta tarde, percebi uma estrela
fortemente iluminada.
Parecia ter luz própria,
muito admirada !
Impossível, alguns a viam e
outros não ?
O mistério logo tomou conta da
Cidade.
É coisa de Deus, diziam alguns.
O fim  do mundo, outros afirmavam.
Um velho andarilho, sentado à
beira do caminho, a tudo assistia,
sem admiração.
Indagado de sua indiferença,
respondeu:
Eu a vejo todos os dias.
Por mais claro que esteja, ela  está
sempre lá.
O sol não a ofusca, porque sua luz é
a luz do sol.
Eles se completam no Universo.
Eu mesmo já tive uma estrela,
um grande amor...
Foi embora, nunca mais voltou.
Hoje só, vago por este mundo de Deus,
a procura de uma estrela, um amor
que, carinhosamente, acolha o meu
calor.
O velho andarilho partiu, e a estrela
nunca mais o sol refletiu...

Conto poético: Mistério em Laguna

As ruas do centro histórico, quase desertas,
silenciosas e abafadas pelo calor de Janeiro,
permitiam, apenas, a presença de cães vadios,
deitados à sombra da espirradeira em flor.
No final da rua, uma pequena concentração
de homens e mulheres, chama-me  à atenção.
Alguma novidade havia à frente daquela casa.
Precisa descobrir, urgentemente.
Murmúrios, choros e lamentações, denunciavam
 a ocorrência de  um fato sinistro.
Acertei. É um velório ! Não perdia um.
Pequeno, ainda, fui entrando,  como se da
família fosse.
Alguns me cumprimentavam, passando a mão
sobre a minha cabeça, tentando confortar-me.
Meus olhos encheram-se  de lágrimas,pelo
esforço que fazia para não sorrir daquela
situação, triste mas, para mim, criança,
divertidíssima.
Ganhei café, biscoitos e gasosa de framboesa.
Uma verdadeira festa.
Sai o féretro, por volta das 16.30 h, em
direção ao cemitério, nos altos do Morro da
Cruz, a pé, como era de costume.
Firme, na sinistra comitiva, lá estava eu,
contente, sem me importar com o calor abrasador.
Era o único menino presente àquela cerimônia.
Todos me confortavam. Senti-me importante.
O coveiro Ibrahim, figura já lendária daquela
Cidade, olhou-me desconfiado, já que conhecia
todos os parentes do falecido.
Seguiu-se o ritual de sepultamento.
Joguei terra e cal sobre o caixão,com o orgulho
 de estar entre os adultos.
Após mais de sessenta anos, retornei aquele
cemitério e localizei o túmulo deste episódio,
pois está mapeado  em minha mente.
Fiquei assustado.
Ao lado daquela sepultura, jaz o Senhor Ibrahim,
aquele coveiro que me reconheceu como um
impostor, falecido dois anos antes daquele
sepultamento...

Divino veneno

O vento que zumbe,
ancora , em meu ser,
o teu sutil aroma.
Amarra as lembranças
que se negam ao tempo morrer.
E passas, por esta vida,
em graciosa harmonia,
 a todos encantando.
Ah, fascinante olhar,
que faz gemer minh'alma.
Mas sufocas, com o silêncio
tumular da indiferença, e
sem piedade, o calor desta paixão.
Assim, só resta o sofrimento,
veneno doce, destilado da
divina essência, que me mata
de tanto amor !

Saudades do futuro

O palco da vida acende as luzes.
Caem as cortinas do passado.
Os protagonistas... sim,  são
os mesmos.
Todos falam de amor.
Lágrimas de alegria e de tristeza...
Ganharam muito, mas perderam,
também.
Todos  modificados pelo cinzel do tempo.
sonharam os sonhos dos amantes, e
traçaram os rumos da felicidade, em
busca de um futuro promissor, onde a vida
seria feita só de amor.
Teu sorriso desapareceu no passado, e
nem lembro mais das juras de amor.
O que seria tão doce no futuro,
 somente a saudade restou.

Que pena !

Escrevi tudo o que pensei,
Falei o que senti e
não agradei.
Falei da tua beleza,
do teu andar e
do teu lindo olhar.
Falei do céu, da terra e do mar.
Prometi o mundo e minha vida,
mas restou, apenas, a despedida.
Hoje sei, não sou o que mereces,
e, assim, continuo só,
abraçado as minhas preces.
Solitário no amor ferido,
vou seguindo, desiludido.
Creia, sinto-me perdido.
Não sou o que deveria ser,
mas sou aquele que te ama,
e que nada pede, nem reclama.
Que pena !

À luz das estrelas

Como o silêncio da sombra,
caminhando macio, cadenciado,
o mundo inteiro te olha, admirado !
És bela, jovem e atraente.
Ao teu redor, todos ficam sorridentes,
e eu enlouqueço, não sou diferente.
Fosse eu parte dos teus sonhos,
conquistaria o céu, a terra e o mar,
depositando tudo aos teus  pés,
esperando, apenas, a misericórdia
do teu lindo olhar.
Venha sentir comigo,
no afago e no carinho,
na brisa fresca do vento,
o aconchego do meu ninho.
Teu corpo, deslumbrante, quero enfeitiçar.
Tua boca linda, de tantos beijos, calar.
De azul do céu, tu'alma pura vou pintar, e
à luz das estrelas, loucamente te amar !

Conto poético: Reconhecimento



Já cansada pelo decurso dos anos, a professora,
com a paciência que Deus lhe concedeu, ministra,
com todo carinho, as lições do aprendizado.
Seu jaleco, impecavelmente branco e bem cuidado,
traduz o amor a sua profissão.
A escola, no interior do estado, dista cerca de quatro
quilómetros da sua residência, percorridos diariamente
e a pé, chova ou faça sol.
Pelo caminho, tem tempo suficiente para meditar.
Pensa em sua família, nos seus alunos, na profissão...
O sol, já quente, desperta as cigarras que cantam
alucinadamente nas árvores, misturando-se ao
gorjeio dos pássaros.
Não muito raro, assiste-se, à beira do rio, preguiçosas
capivaras aquecendo-e em cima das pedras, disputando
espaço com dezenas de  tartarugas imóveis.
Observa, nos cercados que margeiam o caminho, o gado
calmamente pastando.
A paisagem bucólica, enche-lhe os olhos e a alma.
Pensa em sua mocidade...
Foi uma aluna muito aplicada.
Sonhava com prosperidades materiais.
Cidade grande era o seu objetivo, como também  as
festas e amigos importantes.
Seus sonhos foram completamente diferentes, da realidade
que a vida lhe reservou.
É, apenas, uma professora do curso primário, sem
amigos importantes ou riquezas.
Crê que jogou fora a juventude.
Agora, a caminhada terminou.
Ao aproximar-se da escola, uma menina de,
aproximadamente, nove anos, sua aluna, correu em
sua direção, de braços abertos e, afetuosamente,
beijou-lhe a face, dizendo :
"Quando eu crescer, quero ser uma professora igualzinha
a senhora, inteligente e mãe de todas nos.
Todas as noites, peço a Deus para lhe dar muita saúde,
felicidade e que a senhora esteja sempre pertinho de nos."
A professora, chorando, disse à menina:
Querida, agora eu sou a pessoa mais feliz do universo, pois
não preciso de riquezas, cidades grandes,amigos influentes
ou festas.
Vocês são muito mais do que tudo isto.
São a minha vida !

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Conto poético: Coincidência ?

Meados de 1948.
Uma boa esscola pública estadual, no interior
catarinense.
Bons professores, instalações físicas das
melhores.
Os mestres orgulhosos da profissão, e
admirados pela sociedade.
Primeiro ano primário, era assim chamado.
A garotada pobre, na sua grande maioria, mas
cheia de sonhos.
O uniforme, nas cores azul e branco, era
o diferrencial na Cidade, quando do início e
término das aulas.
Seria um momento de grande alegria, não
fosse a incompreensão de um professor de
rfeligião católica, o temido Padre Gregório.
Homem temperamental, genioso e de "pavio
curto ", como se diz nos dias de hoje.
Distribuiu os "deveres de casa "aos  alunos
de, apenas, sete anos de idade.
Consistia no recorte de figuras sacras,
recortadas de revistas.
Um menino não conseguiu cumprir a missão.
Foi chamado à frente dos demais alunos, e
levantado do chão pelas orelhas, como forma de
castigo, pois havia desobedecido as ordens do
Padre Gregório. Que petulância !
O trauma foi grande e a confusão também.
O pai do menino, policial militar, armou uma
tremenda confusão dentro do Grupo Escolar, pois
não admitia tamanha barbárie.
O tempo passou. O menino transsformou-se
num homem, e jamais esqueceu aquele episódio.
Agora, com mais de trinta anos de idade, forte e
sabendo defender-se, quando de uma viagem a Balneário
Camboriú, percebeu, no acostamento da BR-101,
próximo à Cidade de Tijucas, sentido sul/norte,
um homem de idade avançada e esquálido, com o
seu "fusca",levantado no "macaco",com um dos
peneus furado.
O homem pedia auxílio a todos que passavam.
Ninguém parava.
Nosso peronagem parou e, gentilmente, aceitou
seu apelo.
Colocou o peneu furado em seu veículo, e o
homem socorrido, assustado, foi logo comentando:
"As pessoas tem medo de parar. Acho que com razão,
pois tem ocorrido assaltos e outros crimes.
O meu peneu reserva também está furado, e eu
não sabia.
O senhor me deixa na borracharia, em Tijucas. Já
estaará muito bom  para mim. Depois eu arranjo
uma carona de volta, e resolvo o problema.
Ah, sim,  eu sou um religioso, Bispo Gregório
e resido em Joinville."
Nosso personagem ficou mudo.
Sua reação foi esperar o conserto, levar o Bispo
de volta ao seu automovel, trocar o peneu, e,
no final, abraçaar-lhe, desejando-lhe uma boa
viagem.
Não  lhe contou a sua história de menino,
passada em 1948, no Grupo Escolar Jerônimo
Coelho, na Cidade de Laguna/SC, para não
magoar o Bispo.
Já havia passado o ressentimento, e ele não
sabia.
O Bispo Gregório já faleceu, há muitos anos.
Deus, certamente, o julgará.
Ele trocou o peneu e eu roquei o ressentimento
pelo perdão, o que foi ótimo para nos dois.

Conto poético: O preço da traição

Fins do século XVIII.
A freguesia do norte da Província Azul,
no nordeste brasileiro, agigantava-se em pleno
desenvolvimento.
O comércio escravagista, explodia em quase todo
o planeta.
A prosperidade florescia às custas da mão de obra
escrava.
Terras grandes, medidas em léguas, e escravos negros,
como propriedade particular, constituíam os principais
ingredientes para instalação da maldição e da
crueldade.
Os currais humanos, chamados, poeticamente, de
"cenzala ", tornaram-se pequenos para abrigar a população
escrava, que aumentava sem parar.
Neste caldeirão de atrocidades, prosperou a figura  do
"capitão do mato".
Homem rude, temido entre os fragilizados, era considerado
um traidor da sua etnia e, por vezes, das suas raízes.
Parecia ser desprovido de sentimentos.
O sadismo era a sua bússola.
O menosprezo pelos seus pares negros, parecia
uma vingança por haver nascido, também, negro.
Mas, um quilombo  foi descoberto, nas cercanias das matas
da fazenda do poderoso Senhor Samuel de Almeida.
O capitão do mato, Horácio, recebeu a missão de encontrar
os negros, que haviam fugido daquela fazenda.
Horácio, com alguns ajudantes, cachorros grandes, cordas
e grilhões, montados em possantes cavalos, localizaram
e cercaram o quilombo.
Eram dezesseis quilombolas, entre mulheres, homens,
jovens e um velho escravo.
O velho, com dificuldades de locomoção, foi amarrado,
açoitado e  arrastado pelo capitão do mato, Horácio,
sem a menor piedade.
Dias depois, chegou  à fazenda a sinistra comitiva,
orgulhosa pelo sucesso da missão.
Todos foram exemplarmente castigados e acorrentados,
sob o olhar amedrontado dos demais escravos.
Aproximou-se de Horácio, a sua mãe, a escrava Maria
Pálida, que lhe disse:
"Meu filho, este velho que está morrendo, e que esteve
fora da cenzala por mais de vinte anos, é o mesmo que,
um dia, matou um capitão do mato, para te defender do
açoite.
Jurado de morte pelo senhor da fazenda, ficou escondido
durante todos estes anos, no quilombo do Serro Azul.
Eu sempre mandava notícias a teu respeito, e ele ficou
muito triste ao saber que tu passaste à função de capitão
do mato.
Horácio, este velho é o teu pai !"
Horácio abraçou o velho escravo no seu leito de morte
e,  aos prantos, pediu-lhe perdão, no que foi atendido.
Horácio abandonou aquele ofício, fugiu da  fazenda e
fundou um quilombo, para abrigar todos os escravos
fugitivos da região.
Dizem que esta história correu mundo...

Altar do amor.

Da realidade à loucura,
te vejo linda, vestida ou nua !
Olho nos teus olhos,
fito teu suave rosto,
vejo, apenas, o que não  vejo.
Fraco, ajoelho-me aos teus pés,
faço promessas e orações,
juras de amor e tudo mais !
Desesperado, falo dos meus pecados,
clamo pelo Senhor,
faço o sinal da cruz e
vejo a sagração, com muita luz !
Finalmente, transformo-me num herege,
pois a mulher que me enlouquece,
não é  o meu altar, é minha Deusa !

Lamento

Que sentimento é este, que invade minh'alma ?
Louco, percebo o vento uivante, que sopra
a chamar teu nome, nas verdes folhas da mata.
Esvai-se o orvalho, abandonando seu berço
para saciar a sede deste intenso amor.
Procuro, em vão, tua esquiva presença,
suprindo as flores a beleza, e o perfume do
teu corpo ausente.
Vago nos campos e nos céus, acompanhado
da alucinação, que satisfaz a alegria
das lembranças.
Imagino teu triste olhar, agora opaco,
sem perceber a magia da  luz do meu amor.
Assim, sigo em frente meu caminho errante,
levando, como bagagem, apenas o lamento.

Teu corpo ...

Serpenteia minha mente,
atormenta meus sentidos,
mostrando no belo vértice,
o encontro generoso e atrevido.
Quantos mistérios tuas vestes ocultam !
As protuberâncias,
 que não consegues esconder,
transbordam minhas entranhas,
enlouquecem meu amanhecer !
Que maravilha !
Tudo combina em ti.
A realidade com a fantasia,
de mãos dadas, em perfeita harmonia.
Tua face terna,
permanece dirigida ao nada,
expondo o corpo ao predador,
me matando de tanto ardor !
Já não consigo respirar sem te olhar,
pois te olho sem te ver e, assim,
te vejo sem te olhar.
Tudo parece confuso,
menos esta lágrima a rolar ...

quinta-feira, 21 de abril de 2011

O vôo da borboleta

Linda e suave,
desfilas de flor em flor,
pousando em cada pétala,
com muita graça e amor.
Observo teu esforço,
trabalhando sem cessar,
um beijo em cada flor,
não te incomoda o meu olhar.
Como gostaria de ser,
ainda que brevemente,
o cravo doce e cheiroso,
a te prender levemente.
O teu vôo me encanta,
me seduz e me alucina,
não precisas nem da flor,
tua graciosidade é minha sina.
De asas abertas,
oh, pequena formosura,
leva toda minha seiva,
conserva, apenas, minha loucura !

Conto poético: A flauta da liberdade.

Nas encostas do Monte Negro, localizado
abaixo do Cruzeiro do Sul, e  à beira do
Oceano Atlântico, encontra-se uma linda
vila de imigrantes portugueses.
Gente simples, chegada ao Brasil no início
do século XIX.
Sobressaiu-se a família Gálmata, proprietária
de muitas terras, gado, plantações, engenhos
de açúcar e farinha, inclusive muitos escravos
para o trabalho pesado, na fazenda.
O senhor de tudo, Genário Gálmata, descendente
de  imigrantes, possuía quatro filhos, dentre eles,
uma belíssima moça de quinze anos.
Olhos azuis, educada e alfabetizada. O orgulho
da família.
Genésia, era o seu nome, e "Nezinha " o seu
carinhoso apelido.
Logo abaixo da "Casa Grande ", a uns cento e
cinquenta metros, localizava-se a cenzala, com
uma comunidade  de cento e setenta e quatro
escravos, composta  de homens, mulheres e
crianças.
Entre eles, Ditão, um jovem escravo, trabalhador
e muito bom conceituado na fazenda.
Alegre e tocador de flauta, feita por ele mesmo e
de bambu, a todos encantava com as canções que
aprendeu com o seu avô, o "Velho Tongo", como
era  chamado.
Numa bela noite de luar, mas muito fria, Ditão
executava  suas canções, recostado à cerca do curral.
Três escravos, sentados ao chão,  ouviam as   suas
suaves  melodias.
Repentinamente, não se sabe de onde, surgiu  a
sinhazinha Nezinha. Parou a sua frente e aplaudiu
a execução de tão bela canção, vinda da Guiné e
ensinada pelo "Velho Tongo ".
Ditão, emocionado, trocou  em lágrimas um profundo
olhar com a bela moça.
Foi o suficiente para o assunto, por falta de outro,
chegar aos ouvidos do senhor do engenho.
Um escravo olhar para a minha filha ?
Ditão foi amarrado ao pelourinho, e recebeu tantas
e tantas chibatadas que, até hoje, as opiniões divergem
em torno da quantidade.
O rude "capitão do mato ", somente parou o açoite
quando os gritos, também, cessaram...
Mais tarde, o Senhor Genário recebeu a visita da
mãe de Ditão, a escrava Taluda, dizendo-lhe que,
desta vez, ele havia passado dos limites, pois mandou
matar o seu próprio filho, fruto das relações que,
costumeiramente, mantinha com as escravas da cenzala.
Profundamente abalado, mandou retirar o pelourinho da
sua propriedade, jogou ao mar todos os objetos de tortura,
acabou com a figura do "capitão do mato ", e o trabalho
forçado.
Pediu perdão a todos os escravos, e nunca mais retornou
à cenzala.
Nezinha guardou a sua flauta de bambu, aprendeu com
o Velho Tongo todas canções que havia ensinado ao seu
estimado neto, e as executava nas noites de luar, da janela
do seu quarto.
Nezinha, repassou aos seus filhos, netos e bisnetos, e estes
de geração em geração, esta história.
Dizem que  este  acontecimento, também, precipitou
a célebre  decisão histórica  de 13 de maio de 1888,
comovendo a humanidade...

Conto poético: Cantora Lírica.


Esgota-se mais uma tarde, no pequeno povoado.
Foi um lindo dia de outono.
As pessoas, apressadamente e a pé, retornam das
atividades diárias, dirigindo-se as suas casas.
Todos se cumprimentam, gentilmente.
Será uma noite festiva no jardim, frente à Capela
de Santo Antônio dos Anjos.
A movimentação ao redor do coreto, já se faz
sentir.
Os meninos, vendedores de  pinhão e amendoim,
estão presentes e alegres, pois a noite promete.
O aroma das flores, mistura-se ao perfume
artificial das mulheres, e dos vaidosos.
A orquestra, em seu uniforme centenário,
garbosa e disciplinada, posiciona-se.
Enquanto executa suas canções, observo, atônito,
uma linda mulher.
Mãos de gestos  suaves, olhar profundo e triste,
movimenta-se de um lado para outro, sem
trocar, sequer, uma palavra.
Suas vestes brancas e discretas, me dão  a
impressão de conhecê-la.
Termina a apresentação artística, e a mulher
caminha entre o povo.
Eu, curioso, a sigo.
Dirige-se à Casa dos Santos, apressadamente,
e a observo.
Adentro à  sala das rezas e lá está ela, de joelhos
rezando, ainda com a gérbera carmim aos
cabelos e, agora, com um véu branco e
transparente, cobrindo-lhe a face.
Quando notou minha presença, dirigiu-se
à  porta da saída, nos fundos.
Tentei alcança-la, mas o corredor, escuro,
só dava acesso ao campanário e ao cemit'rio.
Por volta da meia noite,misteriosamente, os
sinos da Capela dobraram, sem qualquer
motivo.
Ao amanhecer, no túmulo n. 74, uma
gérbera vermelha repousava junto à fotografia de uma
cantora  lírica, falecida em 1910, e
pertencente à Orquestra Sinfônica, daquele
mesmo povoado...

Conto poético : o Engenho do amor eterno.


No rústico engenho de chão batido,
homens, mulheres e animais domésticos,
se  concentram na produção da farinha de mandioca.
A energia provinda do boi carreiro, dá ao ambiente
um aspecto medieval, bucólico e romântico.
Os tipitis gemem nas prensas e o fogo mantém
aquecidas as tafonas.
A cantoria das mulheres expressa versos de amor e
falam do passado.
As luzes das lamparina projetam, no chão e nas
paredes, um festival de sombras, aguçando a
imaginação.
Os pombos domésticos esvoaçam de um lado para
outro, disputando, com as galinhas, os farelos
sem proveito.
O aroma da farinha torrada, chega ao povoado
dos pescadores, anunciando a produção tão
esperada.
Pendurado no esteio central, um rosário
branco e solitário testemunha a história de amor,
de uma linda mulher, apaixonada por um
tropeiro.
Filha do senhor do engenho, Romão Cassemiro,
que produzia mais de uma centena de barricas
de farinha, por safra, não poderia casar-se com
um tropeiro, que tinha, como dote, apenas, o
seu mais puro e fervoroso amor, além de uma
reputação honrosa, por todos
reconhecida.
Jamilda Feliciana Cassemiro, moça prendada,
humilde e carinhosa, não suportou tamanha dor.
Deixou um breve bilhete pendurado no esteio
central do engenho, pedindo perdão a Nossa
Senhora das Graças, de quem era devota, aos
seus familiares, padrinhos e amigos, e isentou
o pesado boi carreiro de culpa ...
O então rapaz tropeiro, hoje com mais de
oitenta anos de idade, tornou-se, por capricho
do destino, o senhor daquele engenho, e jamais
amou outra mulher.

Palácio Divino

         
Que lugar é esse ?
Tratado como um rei,
pela própria rainha !
Terá sido um sonho,
alucinação ou fruto de
uma doce imaginação ?
Um palácio construído só
de amor, e desprovido de
perguntas ou rancor.
Um tapete, tecido de ternura,
estende-se da terra ao céu...
Cada passo, em direção às alturas,
revela a linda mulher que abandona,
pouco a pouco, a sua majestade.
A delicadeza dos gestos e a humildade
da conduta, dão-me a certeza de
estar diante de uma Deusa.
Conduzido ao sagrado altar,
ajoelho-me diante da sua
imponência, e me rendo,
despido dos preconceitos,
ao seu mais caloroso
desejo de amar !

segunda-feira, 18 de abril de 2011

: Esperança.

Amanhece.
O sol, ainda discreto, estende os seus primeiros raios dourados,
sobre os  velhos telhados da vila.
A curruira- macho canta para atrair a sua amada, enquanto a
minúscula semente gesta uma linda flor.
O sino dobra, freneticamente, chamando os fiéis.
Tudo se transforma, tudo...
Nesta metamorfose, ela  passa ... o silêncio é tumular.
Até o sino emudece, cedendo o palco aos seus delicados
tamancos, que batem na privilegiada calçada.
Mendiga-se, apenas, um olhar...
Caminha, parece desfilar.
Nada desperta sua atenção.
Agora, anoitece.
A vila escurece e as pessoas se recolhem.
O ouro dos telhados é substituído pela prata do
intenso luar.
Somente os batráquios se fazem ouvir.
Mas, ao amanhecer, a curruira voltará a cantar, sob
o aroma doce da flor, o som do sino e,
quem sabe,  com um sorriso carinhoso daquela
linda mulher !

Ressurreição.


              RESSURREIÇÀO.


Uma figura humana,
esquálida, sem sombra,
vaga na noite escura e assustadora.
Percebida, ladram os cães intimidados.
O vento gélido, apressa os
passos dos transeuntes.
É uma mulher.
Evita perguntas e nada responde.
Solitária e ferida na alma, por alguém,
desesperadamente, procura.
Para à frente de um pequeno jardim,
acaricia uma bela rosa branca,
beijando-a com ternura.
Finalmente, desabafa:
Disse estar ali o grande amor da sua vida,
renascido das cinzas, em forma de flor,
e em obediência ao Senhor.
Agora, suas lágrimas regam,
já com saudade, a linda roseira branca,
da Grutinha da Trindade.

Teu lindo olhar

Como é lindo o teu olhar !
Que me encanta e me espanta.
Fito o céu, só a ti vejo...
Na terra, caminho à procura do beijo,
 que partiu antes de chegar.
Somente a saudade do sonho restou,
turvado pela lágrima, que dos meus
olhos rolou.
Sei que te perdi, mas quem ganhou ?
Oh, minh'alma, do que reclamas,
se é uma Deusa que tu amas ?
Tua amada o céu proclama !
Que  te mereça o escolhido,
é o que desejo.
Quanto a mim, nem o desejado beijo,
mas restou o teu lindo olhar.

O pescador errante.

   O PESCADOR ERRANTE.


Oh, ser de rude semblante,
que procuras além do fronte,
senão a travessia da alma pela ponte ?
A ponte que te leva ao nada,
se não enxergas no horizonte,
o belo rosto da mulher amada !
Volta, a vida em terra te espera,
ouça o gemido do vento à vela,
na teimosia do barco, em direção a ela.
Sinta a maldade da ausência, o rigor
do frio que te corre  à espinha,
lembrando a vontade da permanência.
Agora, fala do teu ardente amor,
das lágrimas que encheram o mar,
e fala da promessa ao lado dela,
a vida eternizar.

Mágico abraço.

                 MÁGICO ABRAÇO.


A saudade de poucos dias,
parece uma eternidade.
A ansiedade toma a direção
da vida, e o destino parece
não ter fim.
A imaginação  assume a realidade,
e somente o vento traz  notícias de ti.
No sofrimento da angústia, ainda dou
vazão aos desejos, vestindo a tua
intimidade de branco, preto ou
vermelho.
Assim, teu semblante invade minh'alma,
permitindo prosseguir ao teu encontro.
Ah !   mulher dos meus sonhos, em
desperta consciência, teu olhar me
levita, me  enche de luz.
E num mágico abraço, que felicidade,
carinhosamente  me seduz.

Lembranças.

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LEMBRANÇAS

Os anos se passaram.
Notícias de ti, nunca mais.
Ficaram as lembranças,
apenas as lembranças.
Os dias tão felizes  que
juntos passamos a sorrir,
partiram sem dizer adeus.
As marcas do passado,
espelhadas em minh'alma
pelas doces recordações,
alimentam os sentimentos
desta cruel saudade.
Piedade ?  Nem da natureza,
pois o calor do sol lembra
o teu corpo em brasa, enquanto
a brisa fresca da madrugada,
traduz a serenidade do teu lindo
olhar.
Talvez, nem te lembre mais da
roseira amarela, que juntos plantamos
no jardim dos nossos sonhos.
Tem sido regada, diariamente, pelas
incontidas lágrimas que dos meus
olhos brotam.
O sabiá laranjeira, não resistiu
a ausência dos teus carinhos...
E do nosso amor, ainda te recordas ?
Pois saibas que mandou lembranças,
muitas lembranças para ti...

Sinval -17/4/2o11

domingo, 17 de abril de 2011

VESTIDO NEGRO

Parecia uma tarde como tantas outras.
O verão já havia se despedido.
Iniciava-se uma nova estação, com um vento
frio soprando do mar, e trazendo um forte
aroma de maresia.
As canoas, adernadas na areia branca,
pareciam render-se ao cansaço.
Os pescadores, recolhidos em suas modestas
casas, contavam proezas de pescarias.
Das chaminés dos fogões à lenha, partia a fumaça
que testemunhava a vida em família.
Mas muito próximo, o canto impaciente das gaivotas,
lembrava o compromisso do homem com o mar.
O velho pescador, obediente, confere os seus pertences,
empurra sua pequena embarcação e, auxiliado pelas
nervosas ondas, ganha, como sempre, o fraterno
abraço do mar aberto.
A busca pelo alimento é desigual.
Suas mãos, calejadas  pelo remo, e os braços
já sem forças, pareciam implorar por uma trégua.
Mas o velho pescador não desiste.
Foi a sua última teimosia...
Na pequena casa, sua companheira de tantos anos,
reza por sua volta.
Desta vez, Nossa Senhora dos Navegantes não ouviu
as suas preces...
Com a barra da saia, enxuga as lágrimas que
brotam das fontes do medo e, agora, da saudade.
Levanta-se do pequeno banco, feito com restos
de estivas, rebusca o fundo da mala de papelão,
e retira o vestido negro que a sua falecida mãe
lhe destinou, vestindo-o para sempre.
As gaivotas cobriram de luto as suas asas,
e nunca mais exigiram, dos velhos pescadores,
a presença no mar ...

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Lagrima



TUDO SE HARMONIZA AO REDOR.
O VIOLEIRO NÃO PARA DE TANGER.
O FLAUTISTA, EMOCIONADO,
SOPRA CADENCIADO.
O VIOLINO PARECE CHORAR.
AO LONGE, OUVE-SE O GEMIDO
DE UM REALEJO.
EXECUTA, AR RITMADO, UMA
CANÇÃO SEM BEQUADRO,
INTERPRETANDO UMA LINDA
HISTÓRIA DE AMOR.
RECLAMA DO DESTINO QUE A
SUA AMADA ROUBOU.
FALA DO BEIJO QUE NUNCA ESQUECEU!
DO ABRAÇO QUE, ACHA, MERECEU.
RELEMBRA AS JURAS E AS PROMESSAS,
VENDO QUE NADA RESTOU.
A ARREPSIA INVADE-LHE AS ENTRANHAS;
MAS UMA LÁGRIMA, NO ROSTO DELA,
AINDA ROLOU ...




04/12/0

Rosa Vermelha


UM CORPO CAÍDO AO CHÃO.
INERTE, MAS COM VIDA.
UMA MULHER, MAIS OU MENOS 50 ANOS.
PÉS DESCALÇOS, MÃOS DISTRATADAS
MAS COM VESTÍGIOS DE ESMALTE CARMIM.
CERTAMENTE JÁ EMBALARAM SEUS AMORES.
CABELOS DESALINHADOS, QUASE QUE
ESCONDENDO UM PAR DE OLHOS MIÚDOS.
LINHAS PROFUNDAS QUE O TEMPO,
IMPIEDOSAMENTE, ESCULPIU.
NA BOCA, UM SUAVE E MISTERIOSO SORRISO,
EXALANDO UM FORTE HÁLITO DE ANISETE.
AS PESSOAS PASSAM ...
O TEMPO PASSA ...
TODOS PASSAM ...
CAI A NOITE, A MULHER ACORDA, RETIRA
DO MEIO DOS TRAPOS UMA ROSA VERMELHA
E A DEPOSITA NO LOCAL ONDE DEITARA.
AO LADO, UM BILHETE COM
UMA BREVE MENSAGEM DIZIA:
“FELIZ NATAL A TODOS QUE CUIDARAM DO MEU
CORPO, ENQUANTO EU SONHAVA COM DEUS”.
A MULHER PARTIU E NUNCA MAIS FOI VISTA,
MAS A ROSA CONTINUA VERMELHA E CHEIROSA,
NO CORAÇÃO DE QUEM AMA.

Abandono

AFASTA-SE MINH’ALMA DO SEU BERÇO TERRESTRE.
TUDO É SILÊNCIO NA PAISAGEM MISTERIOSA.
NO HERÓDICO FRIO DAS SOMBRAS, OU NA ARDÊNCIA DO SOL, VEJO PASSAR A GIGANTESCA VIDA.
DIVINA HARMONIA EMBALA ESTRANHOS CORPOS.
NADA SE OUVE, ALÉM DA IMAGINAÇÃO.
TENHO TEMPO ... TODO O TEMPO PARA PENSAR SOMENTE EM TI.
PERCORRES, GRACIOSAMENTE, CADA ESTRELA,
ÉS SAUDADA PELOS ASTROS.
E TU SORRIS.
NA TERRA, NETUNO AGITA OS MARES.
ÉOLO, BRAVIO, SOPRA IMPIEDOSAMENTE.
OS PÁSSAROS EMUDECEM.
AS FLORES NÃO MAIS EXALAM PERFUMES.
O SOL SE ESCONDE E A NOITE NÃO TEM FIM.
TODOS CLAMAM POR TUA VOLTA,
ESQUECENDO- SE DE MIM ...

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Amor desesperado

AMOR DESESPERADO.
O melhor do amor, é amar:
o teu jeito de ser,
o teu lindo sorriso,
o teu meigo olhar.
É te ver caminhar,
e contigo falar.
Apreciar o infinito,
falar com Deus e contigo.
Abraçar-te ao vento, libertando
os teus lindos cabelos.
Ouvir o canto dos pássaros e chamar por ti.
Rezar e, de joelhos, te ver nas minhas preces.
Beijar-te as mãos, as frontes e os lábios e,
se conseguir falar, dizer-te:
Eu te amo desesperadamente !

sexta-feira, 8 de abril de 2011

A DOCE GEOGRAFIA DO AMOR

 
Parecia uma explosão do universo.
A convergência das emoções,
reprimidas nos porões dos sentimentos,
desagua no oceano de uma incontrolável
paixão.
Os corpos trêmulos, ferventes de desejos,
se completam numa alegria interminável.
Um selvagem frenesi se instala, dominando
aqueles dois seres, que se curvam à rendição.
A resistência se torna impossível.
Tudo é, simplesmente, amor !
O céu é arrancado das entranhas do infinito,
para adornar o sagrado ninho das carícias.
Nem a lua cheia e as estrelas, foram poupadas.
E a amante guerreira, tem sob seu completo
domínio, a vida e a morte.
Mas prefere, tão somente, a doce felicidade !

EGOISMO

A lua, desta noite, foi especial.
Mais cheia e mais brilhante, encantando
a todos os amantes.
Imagens verdadeiras e, também, inefáveis,
inspiraram os corações dos brutos e dos
amáveis.
Tudo foi sedução.
Assim, vi o teu lindo rosto a me sorrir ...
Procurei me aproximar, mas o universo,
enciumado, te escondeu, me deixando
abalado.
Tua beleza e teu encanto, são a própria
natureza.
Não importa quem te sinta, quem te
toque ou  deseja.
Continuarás no céu, como símbolo
do amor e da grandeza  !
Agora, vou construir uma ponte,
ligando a terra à lua, e  eternizar
o teu lindo rosto, nas algemas da
formosura !

Amor de Rendeira





SENTADA AO CHÃO, SOBRE UMA
SURRADA ESTEIRA DE PALHA, A VELHA
RENDEIRA TECE A SUA OBRA DE ARTE.
A ALMOFADA POR COMPANHIA, AS
LEMBRANÇAS DA MOCIDADE POR ALUCINAÇÃO.
OS ALFINETES PONTUAM A SUA IMAGINAÇÃO.
OS BILROS DE MADEIRA CUMPREM A MISSÃO.
A LINHA BRANCA, COMO NEVE,
REVELA A APARIÇÃO.
NO CANTO DA PEQUENA SALA,
AINDA ILUMINADA PELA MESMA
LAMPARINA, A DUPLA FOTOGRAFIA,
MUITO RETOCADA E COLORIDA, DE UMA
UNIÃO, SOB JURAMENTO ETERNO E EM
NOME DE DEUS.
E O CORAÇÃO DA RENDEIRA DÁ O TOM
DA CONVERSA AOS BILROS TAGARELAS.
FALAM DE UM GRANDE AMOR ...
DE UMA SAUDADE INFINITA ...
E DE PROFUNDOS SEGREDOS.
DE UM HOMEM QUE JUROU JURAS DE
AMOR E QUE ELA ACREDITOU.
DOS OLHOS QUE CHORAVAM E QUE
SABE, NENHUMA LÁGRIMA ROLOU.
HOJE, PORÉM, AO CONSERTAR SUA VELHA
ALMOFADA, ENCONTROU EM SEU INTERIOR UM
BILHETE QUE SEU GRANDE AMOR LHE
DEIXOU, HÁ MAIS DE QUARENTA ANOS.
FALAVA DA SUA PARTIDA DISCRETA, PEDINDO-LHE
PERDÃO E TAMBÉM A DEUS.
RENOVANDO TODAS AS JURAS, EXTERNAVA
SEUS MAIS PUROS SENTIMENTOS.
A LAMPARINA NUNCA MAIS
ILUMINOU, OS BILROS PARARAM DE CONVERSAR
E O CORAÇÃO DA RENDEIRA PARA SEMPRE EMUDECEU ...
EM OUTRAS ALMOFADAS, AINDA SE
PODE OUVIR OS BILROS CONTANDO
ESTA TRISTE HISTÓRIA DE AMOR.



terça-feira, 5 de abril de 2011

O BRILHO DA FELICIDADE

Uma tarde dourada pelo escaldante
sol de verão, prenuncia uma linda noite.
Sobre o mar calmo, uma estrada prateada,
cruzada, apenas, por aves noturnas,
atraídas pela beleza serena do  luar.
E a magia do ambiente, como sempre,
me leva a pensar em ti.
Tua presença, ainda que ausente,
me faz  delirar.
Ouço tuas meigas respostas,
as minhas loucas indagações.
Tua voz  macia, moldurada por um rosto
angelical, invade minh'alma, dominando
todo o meu ser.
O ninho das carícias, tão delicadamente
por ti preparado, explode em gemidos e
alucinados gritos, substituindo a realidade
pelo inefável.
Agora, já nem sei mais quem sou, pois a
fronteira entre a razão e a loucura, desaparece
na densa névoa dos sentimentos, atormentados
pelos desejos, pelo profundo amor e a dolorosa
saudade ...
Ah, linda mulher da minha vida, como me faz bem
te ver a sorrir.
O carinhoso abraço e a ternura estampada em
teu encantador olhar, refletem em minhas entranhas
o ofuscante brilho da  plena felicidade !
Sinval -02/2011

sábado, 2 de abril de 2011

Paz Para Amar



A noite, silenciosa, hipnotiza o oceano.
A areia branca, lambida pela maré,
renova sua linda aparência.
A água, faceira, parece falar teu nome.
As gaivotas, boêmias, esvoaçam em
rasantes carinhosos, como recadeiras
da felicidade.
O cenário seria perfeito,
não fosse a tua ausência.
O justo clamor da minh'alma se fez ouvir.
Não consigo identificar a nascente, se
do céu, da terra ou do mar.
Mas surges com o esplendor apoteótico
de uma rainha, na imponência, ou de
uma súdita, na humildade da obediência.
E os pássaros te seguem, num sagrado
ritual de amor.
Enquanto caminhas, tudo silencia.
O vento, o mar ...
Teus passos, repentinamente, mudam
de direção, trazendo, a minha frente,
toda a divina mulher, hospedeira absoluta
do meu coração !
O abraço e o beijo, que deixam de
ser longos para serem eternos,
testemunham a união de  dois seres,
que nada exigem da vida, além da
paz, para amar !

Homem do campo


Mãos intumescidas pelo estafante trabalho.
À cabeça, procurando proteger-se do sol escaldante,
o chapéu de palha, símbolo da humildade.
As roupas surradas, denunciam a falsa aparência  da
mendicância.
O deslocamento é longo e o caminho íngreme.
O mato rebenqueia seu corpo, impiedosamente.
Os  ajudantes de tração, bafejam o ar quente
pelas narinas, misturando-se à neblina,
ainda presente.
O cenário é grotesco, medieval.
A tarefa é penosa, pois dos seus braços
depende a sobrevivência.
Tudo lhe é adverso.
O bravo homem, resistindo às intempéries,
reúne suas forças a dos animais, e não
se curva à derrota.
Servindo-se do sacho, maqueia os canteiros,
embelezando-os.
Um enxame de bezouros saúda-lhe, carinhosamente ,
sob o som frenético de pintassilgos e
a crença no sucesso.
Agora, engravidada pelas férteis sementes,
a terra se rende  e os frutos desabrocham.
A admiração pela vitória, prevalece.
Vencem o trabalho honesto e a persistência,
restando, à humanidade, o grande exemplo
do homem do campo !

Coração Recadeiro


De olhar expressivo e gestos delicados,
a linda mulher procura, na multidão, o amor
que o tempo lhe negou.
Plantou tanto carinho e dedicação, colheu,
com fartura, apenas, decepções e dissabores.
Os anos se apresentam amargos.
Negam-lhe os sentimentos. Não lhe permitem
distinguir  o suave prazer, das asperezas da dor,
turvando-lhe a visão do futuro.
Foi às profundezas do abismo, para purificar
sua alma.
Agora, o tempo se esgota.
Entrega-se de corpo, alma e coração ao seu
amado, que o destino lhe reservou.
Pavimenta, com pétalas  de rosas vermelhas,
o caminho do seu querido homem, simbolizando
o mais puro e ardente amor ...
Juntos, transpõem todos os limites das emoções.
As lágrimas, que brotam da fonte da felicidade,
regam a oferenda, misturando-se à seiva das rosas...
Sobre a cama, também coberta de pétalas,
deitam-se dois corpos apaixonados, ligados por
uma só alma.
A libertação dos desejos, marca todo o esplendor
da ausência da culpa...
E a linda mulher só acorda do doce delírio,
ao ouvir a suave voz do seu coração a lhe dizer
sorrindo : "finalmente, sou feliz ".
(Sinval-02/2011)


Uma linda noite de Amor

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Apenas...nada mais

OBSERVO TEU PASSAR AO LONGE.
CAMINHAS SUAVE E CADENCIADO.
DISTRIBUINDO SORRISOS,
EM GRAÇAS SANTIFICADOS,
COMPLETAS TUA JORNADA.
NÃO SE SABE QUEM PASSOU.
O CHEIRO DA FLOR?
A BELEZA EM FORMA DE LUZ?
OU UMA DEUSA VINDA DO CÉU AZUL?
APRESSO MEUS PASSOS ...
PRÓXIMO, SINTO O DOCE AROMA
QUE EXALA DO TEU LINDO CORPO.
ENLOUQUEÇO!
OUSO TE OLHAR, MAS NÃO ME VÊS.
TRÊMULO, TENTO TE FALAR, NÃO ME OUVES.
ENTÃO, SÓ ME RESTA TE ADMIRAR,
APENAS ..., NADA MAIS.
* Sinval Santos da Silveira

Escravo

Ah, saudade que invade minh'alma.
Aperta meu coração, sem pedir permissão para entrar.
Chega devagar, como nada querendo, expulsa meus pensamentos,
tomando logo conta do lugar.
Instala imagens, palavras e sorrisos
de alguém, que deixei por lá, ali ou acolá.
Pediu-me, por favor, para gemer, mas
exigiu-me gritar de tanto amar.
Falou-me com doçura e com tanta ternura,
que me fez chorar.
Ofereceu-me seu sagrado ninho, para
aquele grande amor instalar.
Tratou-me como um rei, mas me transformou
num escravo, do seu lindo olhar!

Amor Infinito

Procurei por ti, na terra e no céu.
Falei com os pássaros e as flores!
Visitei santos e demônios...
Consultei os ventos de todas as direções.
Fui às profundezas da terra e dos mares.
Subi ao infinito.
Finalmente, percebi que estavas próxima,
pois a aragem fresca da noite de outono,
trazia o teu suave aroma,
Da mata, chegavam o carinhoso gorjeio
e o embriagador perfume do jasmim.
A luz prateada do lindo luar, invadia  minhas
entranhas, iluminando minh'alma.
Deus, santos e demônios, desta vez,
estavam enganados.
Tu estavas aqui, bem próxima ao meu
coração,trazendo na bagagem, apenas,
o amor colhido na terra e no céu.
Deusa dos meus sentimentos, seja
bem vinda ao paraíso deste infinito amor!.

O casamento de um Anjo

Amanhece.
Os pássaros orquestram suaves gorjeios, 
saudando a vida e a felicidade.
O vento, já quente, conduz o aroma das 
flores silvestres a uma só direção.
As pessoas apressadas não conseguem notar,
na multidão, duas almas ansiosas ...
E a doce mulher, recebe o seu grande amor
com um divino ritual.
Prepara o caminho com as cores do céu.
Corações anunciam o destino, enquanto
as flores predominam o ambiente. 
O homem amado é recebido com uma 
explosão de pe'talas de rosas, preparada
por um ser tão belo, só comparável a um anjo
vestido de branco.
Com um gesto acolhedor, sussurra ao seu
grande amor um sagrado convite.
A linguagem dos olhos aflitos, dos lábios
e das mãos trêmulos, descrevem promessas
e declarações, só usadas no campo das
profundas emoções.
Na plateia da cerimônia, a agradável imaginação.
Como testemunhas, um envolvente
clima de muito amor.
O despojamento das asas brancas à frente do
espelho, permuta o anjo pelo  corpo encantador
da bela e esplendorosa mulher !
Finalmente, sorrindo, desaparecem  no 
aconchegante ninho de amor, construído
com hortências azuis, colhidas nas estrelas.       
(Sinval - 02/2011)