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terça-feira, 3 de maio de 2011

TRIBUNAL DA CONSCIÊNCIA

          
         
O vento gélido de agosto, sem piedade,
transpassa as leves vestes do velho
mendigo.
Pés descalços, com rachaduras profundas
nos calcanhares, testemunham a vida
miserável e cruél, que o destino lhe reservou.
Sentado ao chão, recostado à uma árvore
plantada em via pública, pouco é notado
pelos transeuntes.
Como companhia, apenas, alguns trapos
que enrolam latas, pães velhos e outras
migalhas, certamente oferendados por
algum coração generoso.
Próximo, confortavelmente sentado em
meu automóvel, ponho-me a observá-lo.
Seu olhar parece perdido no passado.
Por vezes sorri e, em seguida, chora,
enxugando as lágrimas que brolam dos
sofridos olhos, no punho da camisa, já
sem identificação de cor, por falta de
lavagem.
Gostaria de trocar algumas palavras.
Matar a minha curiosidade. De quem
se trata. Nome, profissão, estado civil,
procedência, a sua família, se é que
teve uma.
Com muita cautela e habilidade,
aproximei-me daquele homem, e
comecei obter a sua manifestação.
Disse-me que foi um professor,
muito respeitado por sua dedicação
profissional e austeridade.
Nunca transigiu diante dos vícios.
A imparcialidade, na tomada das decisões,
sempre foi a sua bússola social.
Fazendo parte de uma banca examinadora,
de um importante concurso público,
entre dois candidatos finais, que disputvam
uma única vaga, atribuiu a maior nota ao
que lhe pareceu melhor.
"Não suportando tamanha decepção, o candidato
preterido escreveu
um pequeno bilhete, perdoando a todos, menos
a mim, e foi morar, segundo disse, com a  santa
da qual era devoto...
A partir daí, abandonei o magistério, pois minha
consciência não me deixa em paz.
Acho que fui rigoroso demais e, por isto, quero
depurar minh'alma através do sofrimento
pessoal.".
Já se passaram vinte e dois anos, segundo ele,
e, ainda, se sente culpado...

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