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segunda-feira, 31 de outubro de 2011

SOMENTE POR AMOR

Cegamente, obedeço as tuas ordens.
Somente tu és capaz de me envolver num oceano de
carinhos.
Navego sem, para trás, olhar.
Vejo tua imagem a minha frente, a orientar por onde
devo passar.
Até na densa neblina, estás a sorrir, gesticulando
delicadamente, parecendo me seduzir.
Rendo-me a esta força.
Entrego a minha vida em tuas mãos, em troca de
um punhado de amor!
Para que viver sem isto ? Não resisto.
Sigo tuas ordens. Sabes disto...
Sou feliz até com a tua ausência, pois tua constante
presença, poderia me matar de tanto amor !

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Conto poético: HUMILDE ALEGRIA

Há mais de meio século passado, conheci a
família de um "lixeiro, " vizinha a minha casa.
Seus filhos, foram meus amigos de infância.
Pessoas humildes, educadas e muito esforçadas.
O chefe da família era lixeiro, nome dado às
pessoas que recolhiam o lixo da Cidade, por
parte da Prefeitura Municipal.
Os caminhões coletores, eram de carrocerias
abertas, comuns.
Os trabalhadores despejavam as latas nos
caminhões, devolvendo-as, a seguir, aos portões
das casas.
Serviço rudimentar, mas bem melhor do que a
antiga coleta, feita em carroças, com tração animal.
Certa noite, observei uma festa animada na casa
daquela família. Imaginei um aniversário.
Enganei-me.
O Senhor José, havia sido promovido em seu
trabalho.
Não mais coletaria o lixo.
A partir daquele dia, permaneceria no caminhão,
espalhando, com um grande garfo de feno, o lixo
na carroceria.
Feliz da vida, recebia cumprimentos dos amigos,
colegas da Prefeitura Municipal da Capital...
Somente Deus para entender tudo isto.
Eu, até hoje, não consegui.

Conto poético: CARICO

Um saudoso personagem desta Ilha.
Homem de estatura pequena, negro, possivelmente
filho de ex-escravo.
Dotado de um coração bondoso, afável, sorridente.
Extremamente trabalhador.
Pintor de paredes, vivia sempre respingado de tinta,
contrastando com a sua pele negra.
Hoje me lembra uma obra de arte viva...
Após um dia de intenso trabalho, subia o Morro do
Céu, onde residia, banhava-se, trocava de roupas,
apanhava um balaio cheio de gostosos pastéis,
quentinhos, cheirosos e bem acondicionados,
cobertos por uma toalha branquinha, por sua
velha esposa preparados, e lá ia ele.
Já tinha freguesia garantida.
Com ou sem pimenta, era uma delícia, o " pastel
do Carico ".
Rapidinho, vendia todos.
Mas, tão bom quanto os pastéis, era a sua doce
presença.
Sempre tinha novidades para contar.
Que saudade daquele pastel, e do Carico...
Coisas desta Ilha maravilhosa !

Conto poético: A BABÁ

Que Profissão linda, a de se doar em carinho, e
envolvente amor, a um filho que não é o seu !
Zela pela higiene, alimentação, atenção e, às vezes,
até pela educação.
Não raro se constata, por força da convivência, ser
mais forte o amor entre estes dois seres, do que
com os pais, nem sempre presentes.
A babá AIA, uma negra, filha de escravos, analfabeta,
viveu e trabalhou com uma família tradicional desta Capital,
por mais de cinquenta anos.
Foi uma babá dedicada aos seis filhos do casal, além
dos afazeres da casa.
Ela, mesma, nunca se olhou. Só tinha olhos voltados
para aquelas crianças, que a chamavam de " mãe Aia".
Dedicação, em tempo integral.
Finalmente, todos muito bem criados e, certamente por ela,
educados.
Todos homens, formados e honrados.
Tive a oportunidade de relembrar o passado, com um dos
filhos, por ela cuidado.
Referiu-se àquela mulher, com os olhos mareados, e a voz
embargada.
Não mais a trata de "mãe Aia ", mas, sim, de "minha santa
Aia ".
Não conseguiu prosseguir a conversa.
Pura gratidão, e profunda emoção..

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

O CARRASCO

Forma estranha de amar.
Primeiro ofender, e depois ajoelhar-se,implorando
por afago, dizendo a dor não suportar.
Em crise, recebe o implorado perdão.
Como gratidão, espalha milhares de flores perfumadas,
transformando aquele calvário, num céu de amor !
Sua amada se sente uma deusa.
O homem promete, jamais repetir aquela triste agressão,
recebendo, agora, um afetuoso beijo de gratidão.
Volta à noite.
Cumpre o que prometeu, tratando a sua amada
com a suavidade do perfume da flor.
Não deu certo.
Ela perguntou pelos espinhos, sentindo falta da dor...
Ele foi embora. Nunca mais voltou.

conto poético: A CAMAREIRA

Mulher de gestos delicados, olhos atentos, sorriso franco.
Privilegiada pela natureza, exibe seus dotes físicos
enlouquecedores.
Atenciosa e inteligente, arruma a casa de um oficial militar,
com tanto esmero, que chama a atenção do experiente
guerreiro.
Suas mãos deslizam sobre a cama, com graça, parecendo
um balé, tamanha a expressão corporal.
A graciosidade, com que troca as roupas da cama,
cantando músicas românticas, começam a enlouquecer
o militar que,
viúvo há dois anos, não se interessava por ninguém, até então.
Começou a perder o sono, só em pensar que a cama, onde
dormia, havia sido preparada por aquela mulher, sua camareira.
Fez-lhe várias perguntas, interessando-se por sua vida particular.
A mulher respondeu-lhe com toda atenção e educação,
fato que desapertou, ainda mais, aquele homem, agora
já possuído por uma forte paixão.
Enchendo-se de coragem, finalmente, fez-lhe uma proposta.
Queria viver com aquela linda mulher.
Clara explicou-lhe que estava casada havia treze anos, com
um homem que é o seu grande amor.
Sofreu um acidente na obra, está tetraplérgico, preso a uma
cama, e dependente dela para sobreviver.
Não o abandonaria por nada deste mundo.
Pediu-lhe desculpas.
O homem, também, pediu-lhe perdão, dizendo à mulher que,
a partir daquele momento, passaria ajudar o seu marido, como
se fosse o seu irmão.
Clara beijou-lhe as mãos, num gesto de profunda gratidão...
O velho e austero militar, copiosamente, chorou...

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Conto poético: O VENDEDOR DE AMENDOIM

Por onde andará aquele menino, franzino, maltrapilho e
retraído.
Vendia amendoim, lá na pracinha, todos os dias.
Pontual, parecia ter compromisso empresarial.
Filho de uma senhora, já viúva, era arrimo de família,
e só retornava para casa, depois de vender toda a sua
mercadoria.
Educado, a todos oferecia seu "torradinho, " quase
entoando uma canção.
Uma figura admirável.
Do seu nome, nunca esqueci. Senti saudade !
Voltei àquela Cidade e aproveitei para reencontrá-lo, ou
ter alguma notícia daquele menino, hoje já um homem de
quarenta anos.
Afinal, já se passaram quase trinta anos, da última vez que
o vi.
De informação em informação, cheguei a um restaurante,
moderno e movimentado.
Certamente, um dos melhores da Cidade.
Durante o almoço, perguntei ao garçom por Oscarito.
Com um sorriso de admiração, apontou ao caixa, dizendo
ser aquele homem, compenetrado em seu trabalho.
Paguei a conta, olhei em seus olhos e indaguei sobre os
seus velhos tempos de vendedor de "torradinho ".
Quase chorou de emoção, ao me identificar entre a sua
clientela do amendoim.
Disse-me que, aos quinze anos, comprou um modesto
barraquinho de vendas de sanduíches e, também, de
torradinho.
Sua clientela, aquela do amendoim, nunca o abandonou.
Passou a frequentar, com fidelidade, o seu restaurante,
tornando-o um próspero comerciante.
"Devo tudo a estas pessoas".
Declarou-me, que cuida, muito bem, da sua mãe, pois a
ela deve toda a sua orientação de vida.
Uma mulher sábia...
Na viagem de retorno, fiz uma breve análise dos tempos
passados, com o atual.
Dentre aquelas pessoas, que se reuniam na pracinha,
aquele menino pobre, é o mais bem sucedido na vida...

terça-feira, 25 de outubro de 2011

O LADRÃO

Tenho piedade de ti, oh "ladrão pé de chinelo".
A história já cortou a tua mão, te condenou à prisão, e até
te matou.
Não aprendeste. Estás sempre a roubar.
Já morreste na cruz, ao lado de Cristo, sendo, por Ele,
perdoado, e para o céu levado.
Foste linchado em praça pública. Uma coisa sem graça.
És uma desgraça, odiado por muitos.
Veja só, alguns colegas teus, são chamados de "excelência".
Roubam milhões, estão sempre na mídia, frequentando a alta
sociedade.
Deixa de arrombar residências, e entra logo na política.
Verás como é fácil roubar do povo, pois tens imunidade até
para isto.
Podes prender o atrevido delegado de polícia, que pretendeu
os teus roubos apurar.
Terás grandes escritórios de advocacia, para os processos
desenrolar.
Entra no "esquema ".
Roubar, no meu País, é só uma questão de inteligência, de habilidade... ir preso é muito difícil !
Mas, se não tiveres, pelo menos uma destas qualidades, vá furtar
quinquilharias nas residências, e os teus colegas, sim, continuarão
a ser reverenciados de "excelência.

A DERROTA

Perdi o teu lindo sorriso e, com ele, a alegria
de viver.
A tristeza invadiu minh'alma, corroendo o meu
coração, combalido por tua ausência.
Já não sinto a influência da natureza, pois até
do jasmim, meu perfume preferido, já esqueci.
Do teu olhar, que o meu caminho iluminava,
restou a lágrima da saudade e a dor da maldade.
A gargalhada do desprezo, e a vitória da mentira,
subiram ao pódio, comemorando a queda de um
grande amor.
Do teu belo e sedutor andar, ficou a esperança
de um dia te ver voltar.
Hoje desfilas em minhas lembranças, com a mesma
graça com que fazias, nos dias de intensa alegria !

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

MEU DESTINO É TE AMAR

Não dei trégua ao tempo. Procurei por ti, sem
parar.
Todo o universo sabia disto, linda mulher !
Segui o caminho das flores, das águas, ouvindo
o canto dos pássaros e o caminho das esrelas.
Persegui, sem parar, a sombra do meu combalido
corpo, na tentativa de te encontrar.
Buscava a felicidade, e mesmo sem rosto, te via
nas trevas, bem ali, pertinho dos meus sentimentos.
Como a areia molhada, querendo novamente a onda
do mar alcançar, e a mata verde, esperando pela prata
do luar, aguardava o doce acalento, na esperança da tua
boca beijar.
As flores perderiam o perfume, assim como o sol o calor,
se eu não sentisse o cheiro do teu lindo amor !
Retornaste, trazendo nas mãos, não apenas o calor do sol,
e o perfume das flores, mas todo o universo, repleto de
intensa felicidade, depositando tudo nas profundezas do
meu coração !

UM HOMEM SERENÍSSIMO

Aprendi tanto com os teus exemplos, que até a tua
dor senti.
Creio que o Grande Arquiteto do Universo, desta
vez, se enganou, mas resignação não te faltou.
Tua voz forte bradou, no momento em que mais
se precisou.
Um homem de verdade. Um gigante em dignidade,
austeridade e, também, bondade
Alguém já disse que tornarás ao pó, porque do
pó vieste.
Creio, que foste muito mais obra de Deus, do que
do homem. Então, tua volta será a Deus.
Semeaste o que há de melhor, e a colheita
não poderia ser diferente, pois os frutos já estão
presentes.
Dos teus fartos exemplos, me abasteci, e toda a
irmandade já faz o mesmo.
Sei que és um homem sereno, ou muito mais do que
isto. És um sereníssimo, portador da paz, da justiça e
do amor !
Na tua derradeira morada, tres gigantescas pedras vigiam
o teu sono, como a simbolizar os tres pontos, que tantas
vezes me ensinaste...

domingo, 23 de outubro de 2011

UM GRANDE ARTISTA

Observo, atentamente, um homem simples,
de aparência rude, e mãos calejadas.
Um autêntico e honrado trabalhador.
Chega cedo ao seu posto de serviço, para
suas tarefas efetuar.
Traz, no DNA, a vontade de trocar a caverna,
por uma residência moderna.
A sua frente, montes de materiais diversos.
Nem se acredita, no que podem se transformar.
Diariamente, trabalha sem parar, usando pouca
tecnologia e muita energia.
É uma lição de persistência.
No final de alguns dias, saindo dos buracos, no
chão que cavou, sutgem as primeiras formas, da
obra que programou.
De tijolo, em tijolo, as paredes vão nascendo, e,
também, as portas e janelas.
O material, no terreno espalhado, quase jogado,
vai subindo e dando nascimento ao telhado.
Segue a fase do acabamento, os elogios aparecem,
pois o homem é caprichoso... eu já sabia !
Chega a hora da pintura, transformando tudo numa
grande formosura.
É uma verdadeira obra de arte, nem acredito...
Um homem tão rude, de mãos grosseiras, nem
gravata usa, como pode ser um artista ?
Pois não é.
É um pedreiro brasileiro, que trabalha o dia inteiro,
só para ganhar dinheiro.
Mas é um grande artista !

O GOLPE FATAL

Personagens bonitos. Belíssimos !
Jantar servido às 21.00h. A conversa, muito animada.
Recital de poesias...
Sorriso aberto, gargalhadas. Só alegria !
Muito calor no rosto, brilho nos olhos e lábios molhados.
Muito molhados...
Confissões. Desejos liberados, segredos revelados.
Ansiedade à flor da pele e passos apressados.
O ninho do amor, está preparado.
O relógio marca o término daquele dia, e o início de outro.
Tudo indica uma bela madrugada.
Bastou uma palavra mal colocada...
Não há mais o que fazer.
Espera-se o amanhecer para, novamente, tentar esclarecer.
Chance, nunca mais...
Certamente, o amor era pouco.
Foi melhor assim. Dói menos, pois o golpe fatal, quase sempre mata para, depois, esclarecer.

sábado, 22 de outubro de 2011

O CÉU COMO OFERENDA

Procurei, nos emaranhados da vida, e por toda a
minha vida, a paz de que tanto necessito.
As asperezas dos caminhos percorridos, sem
piedade alguma, embruteceram minha existência,
agredindo meus sentimentos, ferindo o meu
coração.
As noites, as longas noites de solidão, me
enlouquecem.
Na densa neblina do inverno gelado, sem o
sorriso do rosto amigo, e o agasalho do teu corpo
amante, sofro as dores do abandono.
Agora, amanhece, chega o dia, ensolarado, parte
a névoa, cantam as cigarras, anunciando a vida.
Nem acredito no que vejo. Meu coração bate forte !
Volto a sorrir.
As flores voltam a exalar, os pássaros a gorjear,
parecem querer me saudar.
E o céu, em tuas mãos, como oferenda, me entregas.
Deus, os santos e os anjos, fazem parte do presente !
Como retribuição, te entrego o meu amor !

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

A TRANSFORMAÇÃO


Meu coração parece explodir de alegria,
só em pensar que és minha, linda mulher !
Queria dizer-te coisas tão bonitas, falando
da tua beleza, e da tua doce alma.
Queria falar do teu olhar, e o teu meigo
jeito de ser.
Dos teus encantos, que tanto me encantam,
e que me fazem feliz, simplesmente, muito
feliz.
Tudo queria falar, ao som de violino explicar,
a doçura do teu olhar, que me enlouquece de
tanto te amar.
Queria um fundo musical, o mais lindo de todos,
para declinar o meu grande amor por ti.
Mas foi na floresta, no coração da mata, que a
minha orquestra encontrei.
O vento, zumbindo no emaranhado dos cipós,
acompanhava o gorjeio do sabiá coleira, que
festejava a doce alegria, de haver encontrado
a sua mada.
Assim como o passarinho apaixonado, a bondade
venceu a maldade, e a dor se transformou, num
profundo e maravilhoso amor !

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

À ESPERA DO TEMPO

Belas Mulheres

O tempo parou.
Não sei se é dia ou noite.
A dor, na alma, é cada vez maior.
Não percebo o sol. Não percebo a lua...
As estrelas desapareceram. A noite está muito
escura. Nem vestígios da lua...
As flores, embora primavera, já não mais exalam
o perfume, que tantas vezes aspirei.
Por onde andam os passarinhos, que gorjeavam
à beira dos seus ninhos, para aqueles momentos
encantar.
O doce amor, estava no ar.
Sentimento nobre, que vejo hoje mais forte, a me
atormentar.
A dor se instalou em meu coração, e por mais que
saiba não haver reversão, teimoso, chora...
O tempo haverá de tudo isto curar, mas, até lá, só
me resta , com profunda tristeza, lamentar.

O CÉU QUE PERDI

Do meu céu perdi, não apenas, as estrelas e
o sol, mas, também, a felicidade...
Com ela foi a alegria de viver, de amar, e de
sorrir.
O azul, tão bonito, foi trocado por uma cor,
que até o arco íris estranhou. Não existe..
O sol perdeu o calor, ao levar o meu amor.
A dor se instalou no fundo do meu coração,
que geme sem parar, por não mais poder
te amar.
As chagas, agora, se abrem, sangram sem
parar, expondo uma dor, impossível de suportar.
E o grito se faz.
A loucura se instala, trazendo a saudade da
mulher amada.
Ao longe, ouço gargalhadas, felizes pelo triunfo
da maldade ... da mentira e da crueldade.
Somente o tempo, apenas o tempo, poderá
trazer de volta a verdade, se houver tempo...

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Conto poético: O CAVALO VELHO

Todos conheciam, nesta Capital, um carroceiro e o seu
cavalo baio.
Um homem, de nome Cantídio, muito correto,mas parecia
excessivamente austero.
Pouca fala, só estendendo a conversa com quem tinha
algum relacionamento, social ou profissional.
Baio, o seu cavalo, era, igualmente, admirado pela
comunidade, pois era muito bonito, bem tratado e dócil.
Obedecia as ordens, sem precisar ser tocado.
O Senhor Cantídio não usava chicote para comandar o seu
cavalo, pois dizia que o animal era muito obediente.
Baio trabalhou uns vinte anos, naquela carroça.
Estava ficando velho. Suas forças chegavam ao fim,já que
a clientela da carroça, na grande maioria, residia em região
montanhosa.
Logo, o esforço do animal, era enorme.
Chegou o momento. O cavalo tinha que parar de trabalhar.
O carroceiro comprou outro cavalo, bem jovem, batizando-o
de "negrinho".
Despertou a curiosidade, a substiuição do baio, por outro
cavalo. Que fim levou ? Morreu, mataram ?
O que aconteceu ?
Alguns moradores foram à casa do carroceiro, onde
receberam as seguintes informações, prestadas por aquele
homem, de aparência rude:
"Eu, e baio, trabalhamos juntos por mais de vinte anos.
Meus filhos se criaram, pela força deste animal.
Poucas vezes adoeceu. Nunca lhe dei uma chicotada,pois
sempre foi muito obediente.
Agora, perdeu as forças, está velho, e precisa de mim.
O melhor lugar da cocheira, reservei a ele. É claro que terei
mais despesas, pois não trabalhará e só comerá.
Mas devo isto a ele, e quero que viva muitos anos, para
minha consciência ficar em paz".
Veja só, um homem sem instrução, mas de uma nobreza
de coração, surpreendente.
Os moradores das redondezas, souberam desta história,
e passaram a doar milho, alfafa, cenouras, remédios, para
o baio, que ainda viveu mais oito anos, em total descanso,
merecidamente !

REJEIÇÃO

Fantasia

Atraente, como a noite fresca de outono, trazendo
o perfume da mulher desejada.
À flor da pele, meus sentimentos se debatem,
explodindo em paixão ardente.
Sufocados, meus desejos se transformam, implorando
o teu doce olhar.
E o sofrimento, ancora em meu peito, alimentando a vã
esperança, de poder te abraçar.
Como resposta, gargalhas sem cessar, deste coração a
menosprezar.
E me rejeitas, cruelmente te afastas.
Não te importa a dor que sinto.
Minhas lágrimas, hoje lavam as chagas tão sofridas,
espelhando os amargos golpes da vida, desferidos
por ti, que tanto amo...

A LAVADEIRA

Observei, por muitos anos, uma mulher lavadeira,
talvez uma guerreira.
Subia o morro, onde morava, com uma trouxa de
roupas sujas, na cabeça.
Seu tanque, cheio d'água, feito de madeira, servia
para a roupa esfregar e enxaguar.
Aguardava a luz do dia, para o seu trabalho começar.
Enquanto o sol brilhava, aquela mulher trabalhava,
sem parar.
Abandonada pelo marido, seus dois filhos tinha que
alimentar e educar.
Mulher bonita, se quisesse, nem precisava trabalhar.
Mas sua dignidade, colocava em primeiro lugar.
Do seu nome, nem me lembro mais. Dos seus filhos,
meus amigos, sim, nunca esqueci.
Duas pessoas de bem, educadas e corretas.
Sempre tive, por aquela família, a maior admiração.
Jamais irão sair do meu coração !

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

OS SONHOS DE UM MENINO POBRE




Do alto do morro, avistava toda a minha Cidade,
a rua, e a casa em que nasci.
Meus sonhos partiam daquela montanha, a bordo
dos balões que soltava, em épocas de São João.
As luzes, lá em baixo, pareiam me chamar.
Observava as comunidades pobre e a rica.
Fazia comparações sociais. As diferenças
eram terríveis.
De um lado, nada faltava. Do outro, faltava tudo.
Nem o poder público olhava para o meu lugar.
Nenhuma assistência se fazia. Só a tuberculose
comparecia, de mãos dadas com a fome e a
ignorância.
Político aparecia, para buscar o voto, trocando
por promessas, que nunca cumpria.
Nas escolas públicas, sim, ricos e pobre se
encontravam. O ensino era de primeira.
Foi a minha porta de saída da miséria.
O caminho foi longo, mas florido,finalmente !
Creio que Deus se confundiu com os meus
sonhos. Atendeu muito além do pedido que
lhe fiz.

MEU JARDIM ENCANTADO

Em meu jardim, somente a primavera predomina às
quatro estações.
A reprodução das aves é frequente, não importando
se o clima é frio ou quente.
As flores vicejam coloridas e cheirosas, sempre com
o orvalho da noite a se banhar.
Os beija flores esvoaçam sobre elas, gargalhando
sem parar.
A alvura do jasmim, contrasta com o explendor do gira
sol, reverenciando a sua majestade, a rosa vermelha.
E a humilde "onze horas", estende seu tapete pelo
chão, para ver a jardineira margarida passar.
Durante o frescor da noite, sente-se o perfume que a
alma desejar, acompanhado pela cadenciada voz do
sabiá laranjeira que, ao longe, iluminado pelo luar,
canta sem cessar.
De tão lindo, tudo isto, somente ao céu se pode
comparar.
Mas tenho medo de pensar que partiste, para o inverno
não chegar ...

Conto poético: INSENSIBILIDADE


Quando menino, gostava de frequentar rinhas de galo.
Sentia-me atraído pelo lindo canto do galo de briga, sua
imensa energia, colorido ímpar, postura de guerreiro,
beleza nobre.
Consegui fazer uma bela criação, a partir dos ovos, que
coloquei no choco em uma bela galinha comum.
Tratava muito bem dos bichinhos, em gaiolas individuais,
passeadores, alimento diferenciado, sol adequado,
depilagem correta, massagens, fortalecimento da musculatura,
coisas que todos os galistas sabem muito bem fazer.
Sentia-me orgulhoso de pertencer a um grupo de adultos,
por imitação.
Os galistas me olhavam como um menino metido a adulto.
Sentia-me feliz, mesmo discriminado por alguns.
A emoção era muito grande, e o ambiente envolvente.
Gostava de ouvir meus galos cantando, desafiando
outros para a briga, e os pintinhos crescendo. Maravilhoso.
Entretanto, assisti a uma cena terrível. Um gesto de barbárie.
O grande campeão, um belo galo, na cor "pinhão", que muitos
troféus havia propiciado ao seu proprietário, foi disputar uma
briga muito anunciada, com um galo do estado vizinho.
O ambiente estava repleto de galistas. A festa estava assegurada.
Muita conversa, as apostas corriam soltas, e a luta se fez entre
os campeões.
O galo que eu tanto admirava, perdeu, pela primeira vez.
Com a maior naturalidade, sem nenhuma compreensão, seu
proprietário o retirou do "tambor", ofegante, todo ensanguentado,
degolando-o, sem nenhuma compaixão.
Desesperado, procurei explicação para tamanha maldade.
Não fui convencido.
Retirei-me daquele ambiente medieval, para nunca mais retornar.
Acabei com a minha criação, e ganhei a consciência de um ser
humano, sensível à vida, à dor, e à gratidão...

CORAÇÃO DE MULHER




Ouvindo as ondas do mar - Recados e Imagens para orkut, facebook, tumblr e hi5
Ah, quantas vezes olhei este lindo lugar, que parece
me convidar para ficar.
Uma força estranha, lembrando os tempos de amar,
embala meus sonhos não vividos, mas muito reprimidos,
pelas amargas correntes do destino.
Vejo em cada esquina da vida, uma rua sem saída,
convidando para entrar.
Assustado, fujo apressado mas escuto tua voz, por mim
a chamar.
Tudo está no mesmo lugar.
O dia, a noite, o vento, incrível, tudo está igual !
A chuva ainda molha meu rosto, como nos velhos tempos
de amar.
Só eu, apenas eu, não pertenço a este lugar...
Quero ficar, tenho medo.
Quero partir, não posso. Meu coração morreria de tanto
sofrimento.
Não tenho para onde ir. Não tenho onde ficar.
Agora, sim, acolhido em teus braços, posso te amar,
sem partir, e ficar neste lindo lugar !

O RITUAL DA PINGA

Poucas pessoas, já tiveram a oportunidade de
ouvir esta expressão.
Faz parte de um ritual, privativo do beberrão.
Manda encher o copinho de cachaça, derrama
um pouquinho no chão, oferecendo ao seu santo
de devoção.
Em seguida, num só golpe, ingere a bebida.
A pinga pura, pode ser da branca ou da amarela.
Sendo da branca, arranha a garganta, se for da
amarela, vai inchar a canela.
Cachaça no copo, oferecer aos presentes, antes
de beber, faz parte da fina educação
Todos oferecem, após o santo que, também, já
deve estar completamente bêbado, pela quantidade
de oferendas.
A conversa se desenrola, sem nenhuma cerimônia.
Fala-se de política, trabalho, religião, fofocas da
vizinhança e, é claro, de futebol.
Por isto que beber em casa não é bom. Não tem
conversa e não tem graça.
No boteco ou na vendinha, sentado num saco de feijão
ou de farinha, é diferente, todo mundo fica contente.
As gargalhadas são frequentes, assim como os
recados que os filhos transmitem, das mães já
impacientes.
É um mundo social, muito diferente !

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Conto poético: O CORTADOR DE PEDRAS

Admirável, observar um cortador de pedras.
Com suas ferramentas rústicas, certamente muito antigas,
domina, com precisão, a arte de cortar pedras.
Trabalho pesado, o mais pesado de todos, executa, com
aparente facilidade e maestria.
Normalmente, em local de difícil acesso, no meio do mato,
segue-se o rumo pela audição.
O barulho cadenciado, produzido pelo malho e o cinzel, é
inconfundível.
Todos conhecemos.
O corte da pedra é planejado, riscado a carvão para o
ponteiro trabalhar, em parceria com a maceta.
O braço forte do homem, conclui os pequenos orifícios,
introduz os ponchotes, e chama o marrão, de dez quilos,
para o trabalho finalizar.
Não há pedra que resista a este ritual. Rende-se na forma
do riscado. E o olho do cortador de pedras, brilha de alegria.
Resta-nos, apenas, aplaudi-lo !

O CARCEREIRO DE PASSARINHOS


A mata repleta de passarinhos, entoava canções que
chamavam a atenção dos meninos, e dos adultos, também.
Cada qual mais lindo do que o outro.
Os danadinhos cantavam pra valer ! E até um bom dinheiro os
bichinhos valiam.
Pela ausência de outras distrações, era moda, aqui no sul do
País, a "caçada de gaiolas".
ia-se mata a dentro, com os alçapões, gaiolas reservas, chamas
para atrair os bichinhos, e comida de passarinhos.
Era uma festa maravilhosa !
A chegada do passarinho, à borda do alçapão, seguida do salto para
o poleiro desarmar, causava uma subida de adrenalina tão grande,
que o coração chegava a disparar.
Veio a legislação proibitiva. Os passarinhos são propriedades da
nação, reza a Constituição, e caça-los, é crime inafiançavel.
Acabou a festa.
Contar estas histórias para um menino de hoje, não tem graça nenhuma.
Iria me chamar de idiota ou retardado social.
Felizmente, acabou a maldade.
Prenderam o carcereiro !

NÃO MEREÇO O SEU PERDÃO

Meu céu estava repleto de belas estrelas.
Nada faltava no firmamento. A lua linda, prateada
como nunca, sorria e se debruçava sobre as
montanhas da minha vida, como a me cumprimentar.
Nas lagoas da minha terra, vinha se espelhar, parecendo
por mim procurar.
Ao amanhecer, o sol me aquecia, querendo me cuidar.
Os passarinhos cantavam, sem cessar, as melodias
lindas do meu lugar.
As flores das minhas preferências, como as orquídeas e
as Hortências, exalavam perfumes, lembrando as
querências.
Aquela mulher me amava tanto, que só Deus para
avaliar...
Mesmo assim, outra constelação fui visitar, não por amor,
ou curiosidade, mas por crueldade... talvez leviandade.
Seu perdão já recebi, pois não é uma mulher qualquer,
mas, sim, um ser especial, certamente, celestial...

FEITIÇO DE AMOR

Fantasia
Meus pensamentos voltados para ti, somente
para ti, não mais me permitem à realidade retornar.
Tomam conta dos meus dias e das noites,
imaginando tua doce presença, comigo a falar.
Ouço tua voz, te vejo a minha frente caminhar,
me convidando para amar.
Graciosa, como sempre, sorrindo me faz lembrar,
das lindas noites de luar, em que nas desertas
praias da tua terra, me levavas à passear.
Ainda sinto as atrevidas ondas, tentando tuas
delicadas pernas molhar.
Hoje recolhi vestígios da areia, trazendo fortes
lembranças daquele lugar. Tudo me faz lembrar.
Só não sei mais quem sou, dos caminhos por
onde vou, e de onde vim, até aqui.
Ensinaste-me, apenas, a te amar, sem me
mostrar o caminho de volta, para a vida continuar...










Conto poético: O CAVADOR DE POÇOS


Nossa Ilha, mormente na zona rural, até poucos anos
atrás, não dispunha de saneamento básico. Ainda, hoje,
se recente deste serviço, em vários locais.
A parte sanitária, sempre foi resolvida da pior forma
que se possa imaginar. Por vezes, a "céu aberto".
A água potável, sim, exigia um trabalho mais elaborado,
já que nem todos os morros dispõem de água corrente.
Surgia, assim, o "cavador de poços". Um sábio, profundo
conhecedor das reservas hídricas, das várias regiões da
Ilha Catarinense.
O Senhor Anastácio, segurando uma forqueta de
pessegueiro, ainda verde, apontava para o solo, de uma
forma toda especial, e afirmava: "aqui tem água da boa,
com oito metros".
Nunca errou quanto ao local, e a profundidade do poço.
A escavação, rudimentar e segura, ainda hoje serve a
centenas de famílias, em todo o interior da nossa Ilha.
Mas, foi proibido de prosseguir no seu trabalho, já que os
órgãos ambientais afirmam que isto afeta,quantitativamente,
as reservas hídricas.
Incompreensível, pois não esclarece como que a empresa
de saneamento do governo, retira, da mesma reserva,
milhões de litros, diariamente, cobrando, dos consumidores,
preços altíssimos, sem que isto comprometa o lençol
freático....
Pelo menos, fica, aqui, a nossa homenagem a este grande
homem, que tantos serviços prestou ao povo ilhéu.

BOLOQUÊ


Era um verdadeiro frenesi, o jogo de boloquê, ou
"bilboquê".
Tipos "bola"ou "sino",a brincadeira era desafiante.
Precisava de muita habilidade, o que não faltava na
rapaziada.
Nós, os mais pobres, sem dinheiro para comprar
o brinquedo, o jeito era transformar uma latinha de
fermento, no desejado instrumento.
A repetição do encaixe, definia o vencedor.
A imaginação ia mais longe. Inverter o boloquê
pelo cabo, era o grande desafio.
Somente os mais hábeis faziam.
Ainda guardo em minhas gavetas, o meu querido
brinquedinho, por mim mesmo construído, mas me
causando uma grande frustração, pois o seu buraco
parece que apertou, o cabo não acerto, que horror !

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

PANDORGA


Construída com tão poucos materiais, me dava tantas
alegrias, nos meus doces tempos de menino !
Um pedaço de bambu, colhido ali, no mato, uma
cola, feita em casa, papel de seda, encontrado em
qualquer venda, um rolinho de linha, e pronto, daqui
pra frente, estão livres a imaginação e a diversão.
Em vários modelos eram confeccionadas.
Barrelote, papagaio, estrela, com ronco, sem ronco,
tamanhos pequenos e grandes.
Só alegria, se seguia.
Meses de julho e agosto, eram os melhores, pois
Muito vento soprava.
No alto do morro da cruz, onde eu morava, parecia
um festival, o céu enfeitado de pandorgas coloridas.
Através da linha, se costumava mandar "bilhetes"
para a pandorga. O papelzinho subia rápido.
Que alegria !
Os tempos mudaram, mas daquele menino, que
tanto gostava de pandorgas, jamais esqueci.
Ainda alimento suas saudades, observando as
crianças brincando de pipa, barrelote, estrela e
pandorga.
Hoje, posso entender que, no final da linha, não
apenas a pandorga se encontrava, mas, os meus
sonhos estavam lá.
E todos, absolutamente todos, foram realizados.

conto poético: BOLINHA DE GUDE


Que fantástica brincadeira, a de bolinha de vidro.
O fascínio que exercia, sobre os meninos da minha época,
era alucinante.
Coloridas, muito coloridas, em vários tamanhos, eram a
estrela das brincadeiras de criança.
O "bolão"era maravilhoso. Servia mais como decoração.
As regras do jogo eram bem claras. Ninguém poderia
descumpri-las, pois a briga estaria formada.
No chão, um pequeno buraco, arrematado com o calcanhar,
descalço, para ficar bem lisinho.
Contavam-se, mais ou menos, seis passos e ativaram-se
as bolinhas em direção a "boca".
Também tinha outras modalidades. As apostas eram levadas
a sério. Quem perdesse, ficava sem as suas bolinas "casadas"
nas apostas.
Ainda hoje, revirando uma caixa de objetos guardados, encontrei
minhas bolinhas de vidro de estimação.
Ouvi o som produzido por elas. Pareciam comigo conversar.
Nada mudou... somente eu.
Algumas, ainda me lembro, ganhei nas apostas.
Gostaria de reencontrar meus amigos, e devolver-lhes, todas...

Conto poético: BRINCADEIRA DE PIÃO


Que brincadeira maravilhosa, com este tal de pião.
Os meninos treinavam, sem parar, as suas
habilidades.
O ritual da fieira, enrolando no corpo do brinquedo,
o arremesso no ar, o zumbido, e a velocidade,
eram alguns dos itens prazerosos.
Até "guerra" de pião havia ! Um ficava rodando e
outro era lançado sobre o primeiro. Em algumas
vezes, se rachavam ao meio.
Era uma grande vitória.
Lançava-se o brinquedo no ar para, em seguida,
apanhá-lo na unha, ou na palma da mão, rodopiando
velozmente e outros malabarismos.
A rapaziada reunia-se em local de terra firme, e o
espetáculo, com hora para começar, não tinha tempo
marcado para terminar.
Era uma gostosa brincadeira.
Ainda guardo um deles em minhas gavetas, com as
marcas do passado.
Outros, em minhas saudosas façanhas, trazendo, cada
um deles, inesquecíveis lembranças, dos meus doces
e sagrados tempos de criança... que orgulho !

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

AOS TEUS PÉS

Quero estar, não apenas admirando a tua beleza,
mas desfrutar da pureza, fonte dos teus encantos.
Da natureza, tens sido a flor, exaladora do perfume,
com cheiro de amor, e a semente que eterniza o
meu mundo.
A beleza que alimenta minh'alma, e me torna
dependente da tua formosura, fazendo o meu
coração pulsar com ternura, sempre por ti a esperar.
Irás voltar, pois sabes o quanto é divino amar !
Minha paciência; é aquela dos que amam, não tem
limite.
Nas tuas reflexões, haverás de concluir, com toda
sabedoria, que a forma de te amar, sem te sufocar,
sempre foi a minha.
Que a pureza, que emana do meu olhar, é o mesmo
daquela flor, sempre a te cobrir de amor !

A BOCA DA MULHER AMADA

Linda, como o amanhecer da primavera, transpirando
perfume de flores, só fala de amores.
Traz à tona a felicidade, sufocada na alma, enfeitiçando
o meu coração.
Pronuncia declarações tão belas, colorindo o meu dia,
alegrando as minhas noites de nostalgias.
Fala com os meus sentimentos, interpreta os meus
pensamentos, veste de azul os sonhos que não sonhei,
e os dias que não vivi.
Mostra a mulher que amei, consola as dores e os gemidos,
transformando em sorriso, o amargo sabor do que restou.
Pondera os meus desenganos, realça as esperanças,
trazendo pra terra o lindo luar, para o meu coração
pratear.
Comentando a minha vida, fala de um futuro tão feliz que,
do presente, sinceramente, já me esqueci...
Finalmente, com sua formosura, me permite a doçura,
da sua linda boca beijar !

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

conto poético UMA FERIDA ABERTA

Local: Altos do Morro da Cruz, Ilha de Santa
Catarina.
Ano: 1954.
Personagens: um menino de 14 anos e um cão.
A amizade, entre um menino, na mais tenra idade,e um cão, ainda
filhote, solidifica-se à medida em que o tempo vai passando.
O apego é recíproco. Os dois brincam, caçam e até conversam,
pois se entendiam muito bem.
Já adulto, o cachorro, de nome piloto, é o seu fiel amigo.
Bonito, bem alimentado e amado, tornou-se um bom cão de guarda.
Tudo ia muito bem, quando sua família resolveu mudar-se, para o
Estado vizinho do Paraná.
Não havia como levar o piloto.
Escolhido um conhecido da família, o cachorro foi doado, com a
dolorosa compreensão do menino.
Os planos de mudança foram alterados. A família permaneceu na
mesma Capital, mudando, apenas, de bairro.
Mas piloto já havia sido doado.
Decorridos alguns anos, talvez uns três, o menino, agora já um
homem, por coincidência do destino, reencontrou, no mercado
público, provavelmente abandonado, o seu cachorro tão estimado.
Carregava um osso à boca.
Chamou-lhe pelo nome. Largou o osso ao chão, cheirou as suas
mãos, abanou-lhe a cauda, fez um olhar de decepção,e seguiu o
seu caminho, sem destino... não mais atendendo aos seguidos
chamados.
Abriu-se uma ferida de remorso, tão profunda, que embora decorrido
mais de meio século, permanece aberta, negando-se cicatrizar...

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Conto poético: A LENDA DA FONTE

Água pura e fresca. Quase gelada, no meio da mata.
Não custa nada, é só o pote carregar.
Nem filtrar é necessário.
Sacia a sede da comunidade, há tanto tempo, que
nem se pode lembrar.
Circula uma lenda que, na madrugada, quem da sua
água, na fonte, beber, e fizer um pedido, sua amada
atenderá.
Nas altas horas da noite, sempre havia casais, de
vários locais, rezando e, de joelhos, seus pedidos
fazendo.
Era muito comum, na vizinhança, a confirmação dos
atendimentos, pela fonte.
A conversa se espalhava rapidamente.
Parecia, até, notícia ruim.
Eram pedidos de reconciliação, cura de doenças,
cachorro extraviado, até dor de dente.
Rogar praga para vizinho, nunca ouvi falar, ficava
em segredo, pois poderia a morte chegar...
O mistério de tudo isto, finalmente, ficou esclarecido.
Uma mulher, a mais antiga do lugar, quando menina,
foi buscar água na fonte e escondida atrás de uma
pedra, fazendo não sei o que, ouviu o clamor de um
homem ao seu santo, que o atendesse em
certa situação. Daí para frente, pode-se imaginar
a abertura para as brincadeiras que se sucederam.
Passou a ser a principal diversão daquela mulher,
agora confessando, em seu leito de morte, por forçá
da consciência.
Só não se entende por que, até hoje, a comunidade
continua frequentando a fonte, fazendo os seus
pedidos, e atendida em quase todos.
Uma questão de fé ?

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

O CAMINHO DE VOLTA

Hoje, retorno a estes caminhos.
Não imaginava, por aqui, tornar a voltar.
Cada ponto que olho, fortes lembranças me traz de ti.
Até o perfume destes campos, somente aqui é exalado.
Aquela pedra, lá no alto da montanha, é a mesma que
tantas vezes observei, quando ia ao teu encontro.
Estas árvores, parecem me dar s boas vindas,
estendendo as suas folhas e belas flores, nos caminhos
por onde passo.
Escuto o canto dos mesmos pássaros, parecendo
comigo falar.
Os lagos e o mar, nunca estiveram tão coloridos, como
hoje.
Parece que o céu se debruçou nestas águas, pintando-as
de azul, verde e branco, apenas para me saudar.
Em cada casa, por onde passo, te vejo à frente, sorrindo de
braços abertos, me pedindo para ficar.
Agora, chego a tua rua.
A mesma, que tantas vezes me acolheu. Nem sei porque
parti.
Mas voltei. E tu estás aqui, no mesmo lugar. por mim a
esperar.
Na mão direita, o perdão. Na esquerda, por inteiro, um belo
coração...

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Conto poético: DOIS HOMENS INESQUECÍVEIS

Quem não os conheceu, perdeu.
Esta Ilha, guarda e reverencia em sua história, nomes
de pessoas muito importantes.
Tomo a liberdade de incluir dois homens, que alegraram
a população da Capital, até, pelo menos, a década de
1970.
Pessoas do povo, simples, doces e educadas.
Um deles, Adolfo, expressava sonhos de riquezas, dizendo
possuir redes de lojas, fazendas com muito gado, frota de
navios, automóveis, rede hoteleira, enfim, toda a cidade
lhe pertencia.
O povo o cercava e sorria, aplaudindo-o entusiasticamnte.
E ele, também, sorria.
Hoje, entendo, perfeitamente, o sorriso daquele homem.
Divertia-se às custas dos que o cercavam. Era um homem
extremamente feliz e alegre.
A segunda figura, hoje também folclórica, era o saudoso
"Marrequinha".
Igualmente doce e educado, encarnou a figura do guarda
de trânsito.
Ganhou um uniforme verde, um apito, e lá estava ele, nos
principais cruzamentos da Capital, disciplinando o
trânsito, já tumultuado naquela época.
E todos o obedeciam, com o maior carinho.
Era uma pessoa notável.
Muito trabalho prestou a esta Cidade.
Um humorista mímico, no mínimo.
Sinto muita saudade destes homens, que o tempo já levou,
mas que permanecerão vivos, no folclore da Capital
Catarinense, merecendo toda a admiração, por eles mesmo
conquistada.

Conto poético: O CARREGADOR DE MALAS

Incrível, como se esquece rápido, das coisas pitorescas
da nossa terra.
Na modesta rodoviária, localizada no centro da Capital,
bem ali, na confluência das Avenidas Mauro Ramos e
Hercílio Luz, funcionava a rodoviária.
Destinava-se administrar toda a movimentação dos
ônibus de passageiros, intermunicipais e interestaduais.
A Cidade, ainda muito pequena, não dispunha de um serviço
de transporte eficiente, que pudesse oferecer aos passageiros,
aqui desembarcados.
Os "carros de praça ", hoje taxi, eram, numericamente, muito
limitados.
Surgia, então, a figura do "carregador de malas".
O viajante seguia a pé, para casa ou hotel, e, ao seu lado, o
homem carregando, nas costas, as suas malas, pacotes, etc.
Um verdadeiro "burro de cargas ".
Percorria quilômetros, sem descansar. Haja fôlego.
O passageiro, por vezes, se dirigia aos altos morros da Capital,
e lá ia o nosso carregador de malas.
Após cumprida a tarefa contratada, retornava correndo para a
rodoviária, pois outro passageiro já o esperava.
Engraçado, ninguém reclamava deste desconforto. Como as
coisas mudaram...
Não sei se ainda vivem, mas sinto saudades daquelas figuras
pitorescas, quem sabe folclóricas, da Capital Catarinense.
Homens trabalhadores, que enfrentaram a vida com resignação.
Sinceramente, merecem ser homenageados, ainda que
"in memoria", com uma placa ou uma estátua, em nossa moderna
e imponente rodoviária, ao lado das homenagens, já prestadas, aos
grandes homens da nossa terra.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

CARROCINHA DE PADEIRO

Faz parte, dos meus doces sonhos de criança,
as fortes lembranças da carrocinha de padeiro.
Sempre pontual, carregada de coisas boas, lá
chegava ela, cheirando a pães de milho e de
canela, sempre quentinhos.
Tracionada por um cavalo, muito adestrado,
parava, sem errar, na frente da casa que iria
os produtos comprar.
O vendedor dos pães, sempre atencioso,
sua freguesia atendia.
Passados os anos, foi inevitável, chegaram
os supermercados e, coim eles, as grandes
padarias.
Foi o fim da pitoresca carrocinha.
Agora, ela faz parte da história, e das lembranças
dos meus bons tempos de criança.
Os pães não são os mesmos, garanto.
Faltam o sorriso do vendedor, o produto na
porta, o cavalo adestrado, o cheirinho gostoso
do milho e da canela.
Que falta me faz ela !

A PARTEIRA

O interior da nossa ilha, de hospital e escola,
carecia.
Políticos por lá, somente para pedir votos e o
povo enganar.
Ficar doente, não se podia, nem rodovia tinha !
Os curandeiros, sempre atentos, receitavam
chás e benzimentos.
Os doentes ficavam curados, já que não havia
outro jeito!
Mulher gestante, sempre existia bastante.
Mas a santa de plantão, se chamava parteira.
Mulher forte, carinhosa e competente.
Nasceu, pelas mãos de Deus, para cuidar de
parturiente.
Trouxe ao mundo milhares de crianças,
sempre dando a esperança, de um bom parto
fazer.
Não tinha dia, hora ou distância, lá vinha a
Dona Mariquinha, com seu sorriso carinhoso,
trazer a paz e um novo filhinho, para a família
alegrar, e fazer parte daquele lugar.
Quantos se lembram, hoje, de uma oração de
gratidão, a esta santa mulher enviar ?

CHEIRO DE PAIXÃO

Belas Mulheres
A alma impaciente, me leva ao delírio de contigo
estar.
Nada me acalenta, se ausente deste mundo,estás.
Até onde minhas vistas alcançam, só a ti vejo, aqui
ou em qualquer outro lugar.
Para me maltratar, traz o vento, vindo nem sei de
onde,o cheiro dos teus negros cabelos, parecidos
com a noite, sem luar.
A chuva fina do inverno, castiga o meu rosto,
lembrando as lágrimas das tuas juras de amor.
Vagando nas ruas, pelas madrugadas e sem destino,
imagino teus olhos fechados, talvez sonhando
comigo...
E os lindos jardins, sem nada falar, reverenciam a
minha dor, permitindo as suas flores, o perfume
exalar.
Já cansado, procuro o meu leito, e no repouso do
amanhecer, sonho com o teu cheiro, o tempero
que mantem viva, esta doce paixão !

domingo, 2 de outubro de 2011

O SAGRADO CATIVEIRO

Não existe, neste mundo, amarras mais
fortes, do que o sentimento de um grande
amor.
O encantamento invade minh'alma, sequestra
o coração, e me faz refém da situação.
Não há defesa.
A rendição é total.
Sinto-me um pássaro sem asas.
Não posso e não quero voar, apenas, em
tua direção, caminhar.
Minhas energias são o teu sorriso, tua voz,
e tudo mais que de ti emana.
Certamente, também é o meu cativeiro.
Meu sagrado cativeiro.
Agora, de joelhos e, inerte, ouço a doce
sentença que me condenou, em prisão
perpétua, a te amar por toda a minha vida !

MULHER DE PESCADOR

Múltiplas tarefas. Casa humilde, rudimentar.
Um ser doce, dedicada ao trabalho da casa,e atenta aos
cuidados dos filhos, quase sempre, uma prole numerosa.
Lá está ela, a mulher de pescador.
Também, filha de pescador, aprendeu, desde cedo, sua
posição de submissão ao marido, como sua mãe, ao seu pai.
Fogão rústico e a lenha, tem que soprar, para o fogo pegar,
e a chapa, na cor da prata, bem brilhante, assim como todas
as louças, que não sejam de barro.
Chaminé entupida, picumã na cozinha, fica feio !
É notado até pela vizinha.
A roupa, tem que ser lavada, bem limpinha, pois será estendida
no varal, à luz do sol. Todo mundo vê.
Estando encardida, é vergonha para a família.
A hortinha tem que estar bem cuidada, assim como as galinhas,
bem gordinhas.
O gramado cortado, a casa encerada, as vidraças, se houver,
bem limpas.
Os filhos banhados, cabelos penteados, dentes escovados e o
caderno da venda, controlado.
À noite chega o pescador, seu marido, da pescaria.
A comida servida à mesa, bem quentinha.
Não dispensa o pirão d' água, com peixe frito e farinha, bem
torradinha.
Foi assim que foi criado !
E o amor, ... bem, somente os dois poderão comentar.

A SORTISTA

De aparência comum, educada, lá está ela, a
sortista da nossa Ilha.
Em sua casa recebe as visitas, faz consultas,
e revela verdades ocultas.
Desvenda mistérios, fala de amantes, de coisas
perdidas.
Também fala de sorte, do passado, do presente
e do futuro.
Dá conselhos, indica decisões, traições, prevê
mortes.
Fala de lavouras, de riqueza e pobreza.
Comenta doenças,saúde, acidentes, etc.
Até conselheira de casamentos, essa mulher é.
Com tanta sabedoria acumulada, perguntei-lhe
por que vive só.
Disse-me que possui esta vidência desde
menina, e que o único homem, que a vida lhe
reservou, com outra se casou... e são muito
felizes...

A BENZEDEIRA

Uma casinha, muito simples, construída de barro
batido, e assoalho de chão de terra,
coberta de palhas de coqueiro, e sem divisão.
Luz elétrica, nem pensar. Água tratada, também não.
A iluminação é com vela, e, como sempre,falta dinheiro,
a luz é da pomboca, movida à querosene.
Sempre sentada num banquinho, lá está ela, a benzedeira.
Mulher de idade avançada, magrinha, mal alimentada,
e de um coração cheio de bondade...
Sobre uma pequena mesa, a imagem da Santa, em
quem deposita sua fé e a sua vida.
Benze, em nome da Santinha, curando torcicolo, arca
caida, dor de dente, dor nas costas, dor de olhos, de
garganta, de cabeça, mal olhado, inveja, etc.
Seus pacientes ou clientes, pelo trabalho milagroso,
nada pagam, nada devem.
O prazer de poder ajudar alguém, que lhe procura,
está acima de qualquer outro valor.
Só agora entendo, que o poder de cura daquela mulher,
sempre residiu numa única coisa, que tinha em excesso,
em sua humilde casinha: muito amor...