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quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Conto poético: PAIXÃO DE EXPECTADOR


Uma bela peça teatral, é anunciada na pequena cidade.
Um elenco formidável, composto por homens e mulheres,
bonitos e talentosos.
Não se falava em outra coisa na região, por excelência
agrícola.
Estréia anunciada. Teatro não existia.
O palco seria, mesmo, o do pequeno cinema, que ainda
possuía antigas poltronas de madeira, resistindo ao tempo
morrer.
Os vendedores de doces, com tabuleiros pendurados ao
pescoço, não davam conta de abastecer os quatrocentos
expectadores, ansiosos e alegres.
"Lalá", era o nome da comédia.
O espetáculo tem início, as 21.ooh. A platéia vai ao delírio.
No dia seguinte, não se falava em outra coisa. Essa Lalá é
demais !
Um homem, da primeira fila, comprou a mesma poltrona,
durante todos os dias de exibição.
Jogava flores para Lalá, todas as noites, tentando chamar
a sua atenção.
Os demais expectadores perceberam a cena, e o
ridicularizaram.
A paixão daquele homem foi gigantesca, fulminante.
A companhia teatral saiu do sul, e foi para o nordeste do País.
O homem a seguiu, desesperado.
Há quem diga que ele passou a fazer parte do elenco,
interpretando um alegre palhaço, de nome "prepre ".
Nunca mais retornou a sua bela cidade, que perdeu um bom
prefeito...

Conto poético: MISTERIOSO SORRISO


Orkut
Uma obsessão, difícil de se entender.
Um homem vaga pelas apertadas vielas do maior
cemitério desta Capital.
Absorto em seus pensamentos, medita sobre a
vida e a morte.
Quantos sonhos ali sepultados, e frustrados.
Gostaria de ter o poder de acabar com aquele
eterno sofrimento...
Procura por um parente, que não visitava havia
muitos anos.
Queria conversar com o seu passado.
Fazer confissões, pedir perdão. Estas coisas
que transitam nos corredores infinitos da
consciência.
Por curiosidade, lia as lápides, identificava
pessoas da sua terra, e do seu relacionamento.
Repentinamente, teve a sua atenção voltada
para uma linda fotografia.
Lá estava ela, tão bela como nunca.
Até rua, no coração da Capital, com o seu nome,
foi batizada.
Ceifada, no desabrochar da vida.
Diante da beleza da moça, o homem ficou
paralisado.
Ele a conheceu, no passado.
Presenteou-lhe com um botão de rosa vermelha,
depositando-o no vaso apropriado.
Aquele rosto angelical, mas triste, não mais saía
da sua mente, e olhava, constantemente, a foto
que havia perpetuado na câmera do seu telefone.
A saudade foi tanta, que o levou de volta, aquele
lugar.
Quase desmaiou, ao ver que a foto daquela linda
mulher, exibia, agora, um alegre sorriso de plena
felicidade !
E a rosa vermelha, embora decorridos onze dias
da sua oferenda, permanecia linda ...

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Poema: O SOL ESTÁ EM ZÊNITE

Meio dia. É hora de trabalhar.
Não há sombra projetada pelo corpo.
A liberdade de decisão é absoluta, pois nada impede a
visão da vida. Nem os vícios que, agora, inexistem.
Homens livres e de bons costumes, se revesam no
cumprimento do dever.
Guerreiros destemidos, combatem, sem trégua, os
inimigos da sociedade.
A humanidade precisa trabalhar, em todas as direções.
Descanso, somente após a meia noite.
Doze horas de fecunda concentração, e muito trabalho
em prol do progresso, e em busca da felicidade.
Com as mãos livres e purificadas, abandonam as
seguras trincheiras.
Expõem-se em campo de batalha, portando as armas
mortíferas das virtudes, do direito e da justiça, no
combate aos poderosos corruptos e enganadores da
humanidade.
A luta é desigual, mas os guerreiros tem séculos de
experiência. Jamais perderam, sequer, uma batalha.
O inimigo treme a sua frente. Suas mãos não foram
purificadas. Só beberam da taça doce da vida.
Mentiram... Estão perdidos e fragilizados.
Os guerreiros de zênite, cada vez mais fortificados !

domingo, 27 de novembro de 2011

Conto poético: MEU CÃO, EUTANÁSIA NÃO

Sessenta dias de vida. Muita beleza e energia, marcam o
inicio de uma grande amizade, entre um homem e um cão
de guarda.
Cuidados e afeição recíprocos, gratidão, apego e admiração.
Um cão fiel ao seu proprietário.
A alegria foi uma constante. O desempenho do animal, de nome
Ruck, era excepcional. Cuidava do quintal com tanta fidelidade,
que comovia toda a família, pois passava a noite em completa
vigília. A segurança era total.
Dez anos se passaram.
Embora bem cuidado, alimentação de primeira qualidade, higiene
sanitária absoluta, a implacável doença chegou.
Consulta veterinária, o diagnóstico, cruel, recomendava a eutanásia.
Ruck já não caminhava, e mal se sustentava de pé.
Sacrificá-lo por estar doente ? Não era justo.
Sacrificar o animal, poderia representar um ato de ingratidão. Uma
terrível agressão à consciência daquele homem.
O animal dedicou toda a sua vida, à segurança daquela família e,
agora, quando mais necessita de apoio, é sacrificado por estar
doente.
Não lhe pareceu uma decisão de ser humano.
Embora o médico veterinário haja lhe explicado, detalhadamente,
todas as implicações de uma decisão contrária, o homem assumiu
o risco.
Cuidou daquele cão, por mais dois anos, dando-lhe remédios e
alimentação especial, na boca.
Olhava em seus olhos sofridos, mas sem dor, pelos efeitos dos
medicamentos, e se emocionava.
Embora sem condições de continuar dando guarda em sua
propriedade, deu-lhe algo mais representativo, ou seja, a feliz
oportunidade de permitir que o seu proprietário pudesse lhe
retribuir, com muito amor, todo o bom resultado da segurança
que lhe prestou, e a sua família.
Morreu, sim, com dignidade e cercado de carinho, por mim,
e por minha consciência, que está em paz. Apenas, com muita
saudade daquele fiel amigo...

sábado, 26 de novembro de 2011

Conto poético: AMOR DE COLONO

Um homem trabalhador.
Acostumado na enxada, desde menino, pois
era arrimo de família. Seu pai havia falecido.
Escola, quase nem frequentou, e o tempo passou.
Homem feito, e os irmãos criados. Olhou no espelho,
e quase nem reconheceu aquele menino, que cresceu.
Sua vizinha, que era tão pequenina, virou mulher bonita
e educada. Era admirada. Professora da colonada.
Analfabeto, tinha ele vergonha de com ela conversar,
pois era moça instruída, sabia ler, escrever e ensinar.
Mas Laurita, tinha outra qualidade. Era humilde.
Muito rápido, Laurita o alfabetizou, pois ele era muito
inteligente.
Numa das aulas, a Professora pegou em sua mão,
para ensinar-lhe a escrever a letra "W", de Wagner.
Aquela mão, tão macia e pequena, segurando a mão
do colono, calejada e maltratada pelo trabalho bruto,
formava um perfeito contraste...
Wagner, comentou com a sua mãe. Laurita, também.
Ela passava à frente da sua roça, cumprimentando-o
carinhosamente.
Num gesto delicado, ele retirava da cabeça o seu chapéu
de palha, e respondia respeitosamente.
A escola funcionava à noite, três vezes por semana.
Wagner se esforçava. Não perdia nem um minuto das
aulas. Sempre de banho tomado, e cabelo penteado.
Mas não tinha coragem de se aproximar da professora.
Tinha medo de afastá-la.
Estava perdidamente apaixonado.
Num domingo de julho, férias escolares, Wagner estava
na roça, carpindo e perdido em seus pensamentos.
Laurita apareceu, nem ele entendeu de onde e, com
uma enxada, passou a ajudá-lo na capinação...
Estava rompido o constrangimento.
A dois passos dali, realizou-se um belo casamento, entre
dois seres, unidos pelo amor !

Poema: MUTAÇÃO


Orkut
Aquela semente...cresceu tão bela e rapidamente.
Muito cuidada, mas contente.
Um botão. Nem se sabia a cor e o perfume da tão
bela flor.
Olhos atentos, prestando atenção na vida.
Sonhos. Quantos sonhos desfeitos, no coração
daquela linda promessa de mulher.
Esperava algo. Não se sabe o que.
A estrada foi longa. A demora interminável.
A tempestade parecia não ter fim. Quanta dor
se instalou no seu coração.
A esperança sufocada. A saudade de quem
nunca partiu ou jamais chegou. A fantasia se
instalou.
E o amor, finalmente, em seu coração, brotou !
As estrelas bordaram os seus dias de menina,
os sonhos de mocinha, e as belas noites da
mulher !
Volta a sonhar acordada e, quase desmaiada,
abraça na madrugada, as lindas noites que o
destino lhe reservou.
Agora geme, não mais de saudade ou de dor,
mas de prazer, que exala de uma linda flor...

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Poema: A VOLTA DA FILHA DO VULCÃO

Retornarás. Estou emocionado.
Viajarás das altas cordilheiras, para comigo ficar e,
desta vez, pela vida inteira.
Novamente, quero te receber com todo o carinho
e afeição.
Virás das profundezas da terra, pois conquistaste o
meu coração.
Sinto saudade de ti, da tua cor, e da ternura.
Mas foi a tua bravura, viajando como passageira dos ventos,
em direção aos meus sentimentos, que despertou
todo o meu amor.
Ainda guardo tua imagem, gravada em minha vidraça. Estás
linda.
Da Cidade onde moras, chegou um mensageiro, bem
ligeiro, portando um bonito recado, para o mundo inteiro.
Desta vez, quero abrir as janelas do meu quarto, abraçar tua
alma cansada, sentir tua pele morena e tão serena, depois
de tudo que passou...
Quero saber novidades das entranhas da tua morada, da
viagem tão arriscada, e da passagem pelo vulcão.
Aqui, sempre serás bem vinda, encontrando a paz
merecida, após tão ingrata expulsão
Por exigência da previsão, renascerás das cinzas, agora
como um lindo pássaro, para voar, bela e graciosa, nas
profundezas infinitas do meu coração !

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Poema: EXPECTATIVA

A ansiedade domina minh'alma, aperta o meu sofrido
coração.
Sinto que estás de volta, pois estão chegando as flores,
o perfume, e o gorjeio da linda passarada.
O vento ameno, que se escondia na verde mata, agora
abraça a madrugada, sacudindo as folhas do coqueiral.
As estrelas, veja só, estão mais brilhantes, parecem até
colares de diamantes, para teu lindo colo enfeitar.
A lua, vaidosa, chega mais prateada, querendo teus
caminhos iluminar. Entra na água limpinha da lagoa do
meu lugar, estende um lindo tapete de prata, na
esperança de te ver passar.
Ao raiar do dia, a araponga barulhenta, canta no alto
da montanha, parecendo com o mundo conversar.
E o sol, gentil,, estende o seu longo manto dourado,
sorrindo, todo assanhado, para te ver chegar.
E, finalmente, chegas.
Distribuindo sorrisos e beijos. Renovando a vida,
trazendo o perfume da esperança !
Semeando flores, até sem espinhos, construindo
ninhos de passarinhos, cantando a melodia do amor,
somente do amor...
E no meio do sol brilhando, com a chuva fresca
misturando, te vejo chegar, PRIMAVERA, no meu doce
e querido lugar !

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Conto poético: O SORRISO DA DOR

Presume-se, seja o sorriso, a expressão de alegria
da alma.
A face enrubescida pela emoção, e os olhos
brilhantes, denunciam a felicidade, ainda que
momentânea.
Conheci um homem, um maravilhoso ser humano,
que sorria francamente, contagiando a todos os
presentes.
Embora sorrisse intensamente, não conseguia,
em seus olhos, observar a presença da alegria.
Alguma coisa havia, naquele olhar opaco, sem
vida, sem lágrima e sem emoção.
Parecia algo do coração. Uma paixão ainda não
resolvida, ou fato semelhante.
Aproximo minha curiosidade, à realidade.
Por questões profissionais, encurto as distâncias.
Precisa de ajuda. O problema existe e é familiar.
Minhas observações estavam corretas.
As constantes gargalhadas, sem vida e exageradas,
escondiam uma profunda dor. Um disfarce para
compensar o que, aparentemente, não tinha solução.
Sua filha mais velha, sua querida filha, desde menina,
internada num sanatório psiquiátrico, por mais de trinta
anos...
Seu remédio, para suportar tamanha dor, sorrir da
desgraça, gargalhar do que a vida, cruelmente, lhe
reservou.
Esquecer o presente, e debochar da sorte miserável,
Sorria, meu amigo, pois entendo, agora, os teus
olhos opacos, teu rosto sem expressão de
felicidade. Tua interminável angústia.
Quero, contigo gargalhar. É a única forma de te
apoiar.

Poema: DO ALTO DA MONTANHA

Daqui, do alto desta montanha, avisto a terra onde nasci.
Fica muito distante, mas o vento sopra o bastante, para me
trazer notícias de ti.
Ainda sinto o perfume das flores, que não é o mesmo das
flores daqui.
O de lá é inebriante, parte de flores lindas e ofuscantes,
parecendo pedras preciosas, como os diamantes.
Esta palmeira é tão bonita, mas é muito diferente da palmeira
que lá conheci.
O brilho parece trazer nas folhas a ternura de quem conheci...
A água que lá bebi, não é a mesma água daqui. E a mulher
que lá deixei, chora de saudade de mim.
A que nesta terra conquistei, já me esqueceu.
Nem a jura de amor, valeu. Chorei muito. Doeu.
A saudade parece viajar nas asas do vento. Chega ligeiro,
afiada como navalha, e agarrada em mim o dia inteiro.
Tenho descido esta montanha, para esquecer a terra em
que nasci, mas quanto mais desço, mais o perfume dela,
se aproxima de mim.
És a minha flor, o aroma do meu amor mas, também, a
minha doce e saudosa dor !

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Poema: A REVOLTA DAS ROSAS

As rosas, que no meu jardim nasceram, são para ver,
não para colher.
Até as que plantei, amei.
Trato-as com carinho e admiração. São rosas de
todas as cores. Vermelha, branca, amarela, azul ...
São lindas e invejadas pelas demais flores que, por lá,
também nasceram, ou plantei.
Agora, todas se revoltam com tua presença.
A rosa branca, que chamava a atenção pela pureza da
sua cor, perdeu o encanto, diante da tua alvura.
A vermelha, ficou desesperada, ao ver a tua linda boca
fantasiada, com as pétalas do pecado.
A amarela, não se conforma com o teu brilho dourado,
mantém seu botão fechado, e se nega ao tempo mostrar.
A azul, enciumada, de lá se se mudou, dizendo não suportar
a beleza do teu olhar.
A revolta se instalou. Toda a plantação se mudou.
Mas o amor ficou. E com ele, o teu embriagador perfume,
a beleza, e a harmonia das cores.
E o teu lindo encanto, continuou...

Poema: A LUA POR TESTEMUNHA

Deste gigantesco amor, somente a lua é testemunha do abraço
que vivemos, e do banho de prata que recebemos
Agora, sob o som da cascata, na noite do nosso imenso amor,
reverencio esta luz prateada.
Até mesmo o sabiá faceiro, que cantava o dia inteiro, gorjeia
agora na madrugada, acompanhando o teu sorriso, hospedeiro
do paraíso, que o destino reservou.
Teu olhar, tão franco, parece pintar os campos de branco, da
sagrada terra onde nasci.
Vestida da cor da cinza, desfilas entre as sombras dos meus
desejos, enlouquecendo meus sentimentos, tornando mais clara
a luz do luar.
És a semente de todas as flores, pois armazenas, na alma, o perfume
das rosas, das orquídeas e do orgulhoso jasmim.
Não sei, ao certo, que nome te daria. Creio que te chamaria, apenas,
de meu jardim.
Mas, no meio das flores tu estarias, para mim sorrindo,a me chamar,
sugerindo muito amor, à luz do luar !

domingo, 20 de novembro de 2011

Conto poético: EM NOME DO AMOR

Dois seres humanos, cultos, de formação religiosa,
e convictos da sua missão social.
Vocacionados, por natureza, dedicam-se de corpo
e alma a sua ordem, destacando-se, cada um na
sua área, pela competência e fidelidade aos seus
princípios.
Influente, como religioso, o padre percorria toda a
sua paroquia, supervisionando os trabalhos que, por la
se desenvolviam.
Religiosas e voluntários, motivados pela causa social,
trabalhavam sem trégua, numa região muito carente.
Num final de tarde, estação primaveril, o padre fez uma
reunião
de trabalho, com os coordenadores.
Assuntos diversos foram tratados. Perguntas e respostas
inteligentes e gentis.
A alegria, também, estava no ar, contagiante como o polem
da primavera.
Uma religiosa, de olhar meigo, sorriso encantador, e voz
macia, tomou a palavra e fez considerações rotineiras sobre
o seu trabalho.
O padre ficou mudo. Não assimilou mais nada da reunião.
Retornou a sua paróquia e, na casa de Deus, de joelhos, pediu
explicações a sua fé que considerava inabalável.
Não ouviu, das profundezas da sua consciência, nenhuma
reprimenda. O que o assustou mais ainda.
Não conseguiu adormecer. A freira não saía da sua cabeça.
Conversava, consigo mesmo, e só conseguia notar um sorriso
em seus lábios que ele, próprio, jamais havia observado.
Aquele rosto estava acima da sua fé?
Aconselhou-se com um padre mais velho, que deu a abertura
para tomada de uma decisão. "Meu filho, Deus é amor. Eu, mesmo,
vivi um momento igual ao seu. Não tive coragem... arrependo-me, até
hoje, embora também seja feliz na ordem religiosa. Mas poderia ter
vivido as duas vidas...".
Apaixonados, padre e freira, ajoelharam-se diante da imagem de Cristo,
pediriam permissão, no que foram atendidos por suas consciências.
Formaram uma belíssima família e continuaram, na área da educação,
prestando excelentes serviços à sociedade. Jamais abandonaram a
sua fé e os cultos religiosos.
Certamente, Deus os apoiou, em nome do amor.

sábado, 19 de novembro de 2011

A CONSELHEIRA

As pessoas se desencontram, emocionalmente.
Enfrentam dúvidas, aparentemente, insuperáveis.
sentem-se frágeis criaturas, para superar os aparentes
obstáculos intransponiveis, que a vida lhes impõe.
Olham os céus, pedem ajuda a Deus, que nunca
viram mas acreditam. A fé está presente.
Por vezes, precisam ouvir respostas. Trocar palavras.
Ver um sorriso de compreensão. Uma expressão facial
humana, não divina.
Doralice era uma mulher comum, mas de uma sabedoria
incomparável.
Provida de bons modos sociais, ou como se diz hoje, de
educação. Mantinha as portas da sua casa, sempre abertas,
para receber, com carinho, as pessoas que lhe procurassem.
Dotada de uma aparência serena, olhos brilhantes de plena
felicidade, um sorriso que transmitia confiança, era chamada
de "Conselheira Doralice ".
Recebia o visitante em sua sala humilde, servindo-lhe água e
um cheiroso cafezinho, antes de ouvir o seu problema.
Algumas exposições eram longas e outras, nem tanto.
A Conselheira, jamais interrompia aquele momento.
No final, quando esgotadas todas as palavras, por parte do
visitante, a Senhora Doralice, normalmente, beijava-lhe a face,
apertando sua mão com muita afeição, fazendo-lhe algumas
recomendações, todas dirigidas no sentido da tolerância,do
amor e do perdão.
Hoje posso entender, porque aquela mulher era tão procurada.
Não era pelos conselhos, pois nunca agiu com interferecia
nos problemas expostos.
A sua grande qualidade, residia na competencia de ouvir.
Simplesmente ouvir, oferecendo vazão as angústias humanas.
Precursora da psicologia ? Mas era uma mulher analfabeta...
Então, digamos, uma sábia e dôce mulher !

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Conto poético: A COSTUREIRA

De aparência simples, gestos delicados, habilidosa,
a humilde costureira cumpre o seu papel social, na
comunidade pobre do morro da caixa, nesta Ilha.
Sua casa de madeira, por alguns estimada em mais
de oitenta anos de idade, aparenta sinais de fadiga
total.
Certamente, muitas alegrias,e angústias, já
testemunhou.
Possui dois quartos. Um deles, seu atelier de costuras.
O outro, seu dormitório.
Eu, ainda menino, percebi que o dormitório nunca esteve
com a janela aberta.
A cama sempre da mesma forma arrumada.
Um par de chinelos, chamava a minha atenção, pois
permanecia no mesmo lugar, e um dos pés com a sola
virada para cima.
Parecia haver parado no tempo.
Curioso, e me valendo da amizade e confiança, de que
desfrutava junto àquela Senhora, perguntei-lhe a razão
destes detalhes.
Explicou-me que, há quarenta anos passados, então
com poucos anos de casamento, seu marido exigiu-lhe
que abandonasse a profissão de costureira, pois não
suportava o barulho daquela máquina.
A exigência foi tão grande que, embora tenha lhe
explicado todos os detalhes, do seu apego às questões
sociais, deste lugar, em que nasceu e foi criada, nada lhe
convenceu.
Foi embora, tão apressadamente, que até aqueles
chinelos deixou, virados no chão.
Conserva-os da mesma forma, como lembrança de um
grande amor. "Ainda tenho esperança da sua volta.
Só aí, os colocarei na posição correta e, se me permitir,em
seus lindos pés".
Disse-me, com os olhos transbordando de lágrimas...

Conto poético: BOI DE MAMÃO

Ao longe, já se escuta a cantoria, bem entoada e animada.
Cercado por uma multidão, lá vem ele, o boi de mamão.
Veio de tão longe, atravessando o oceano, para aqui morar.
É um encantamento.
Parece, até, um circo sem lona.
Tem palhaço disfarçado, um boi que perdeu a cabeça de
mamão, mas o nome não, cabrinha safada e animada,
uma gulosa bernunça, que engole tudo, uma mulher enorme,
a maricota, toda desajeitada, metida a namoradeira.
Até um urubu, aparece no pedaço.
A música cadenciada, servida de uma letra contagiante, sem
cerimônias, arrasta a multidão ao delírio das emoções.
Cada protagonista, é conhecido da platéia. A arena, montada,
à frente de cada casa escolhida para o espetáculo, anuncia,
pomposamente, o nome da família, na esperança de uma boa
oferenda receber.
Nunca falha. É humilhante não atender.
Começa o espetáculo.
Os cânticos comandam a apresentação.
O frenesi se instala, e as provocadas emoções, de alegria e
de medo, estão presentes.
Neste palco, não há paredes, portas, janelas ou cadeiras.Todos
sentam nas poltronas da saudade, e da inocente brincadeira...
O dia amanhece. Já se passaram tantos anos... e ainda escuto
a cantoria, as gargalhadas emocionadas e o médico afirmando
que o boi de mamão não morreu, pois veio para ficar !

Conto poético: TERNO DE REIS

De raízes religiosas, as noites desta Ilha se enchem de
vozes, num romântico coral.
São cânticos de louvor, a um Menino que nasceu, com
uma divina missão.
Acordes vocais afinados, e também sem nenhuma
afinação, ecoam nas madrugadas quentes da minha
Terra, expressando o que está no coração.
De casa em casa, respeitando o portão, mas sem
pedir autorização, orquestram singelas melodias, com
muito amor e emoção.
As famílias se sentem honradas.
Abrem as portas das suas casas, dando boas vindas
aqueles amigos, escutando com admiração, os belos
versos da região.
É costume, aqui na Ilha, oferecer uma lauta mesa de
comidas e bebidas, como agradecimento a esta doce
visita.
Tudo é uma bela festa.
Os mais velhos, emocionados, relembram a mocidade, acompanhando a canção.
Os jovens, admirados, se perdem na multidão, à procura
de um namoro, à beira do mar, e em pleno verão...

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Conto poético: O PESCADOR MISTERIOSO

Década de oitenta. Século passado.
Os moradores do Distrito de Rio Vermelho, Praia dos Ingleses,
leste da Ilha de Santa Catarina, foram tomados por uma onda de
boatos.
Começou a aparecer, nas portas das casas das viúvas de pescadores, mais pobres, peixes frescos, sem se saber o autor de
tal caridade.
Os comentários não param de crescer, e chegam à Igreja.
O padre tece calorosos comentários, no momento do sermão,
elogiando aquele gesto tão caridoso.
A frequência à Igreja aumentou tanto, que já não havia mais espaço
para tanta gente.
E as doações misteriosas cresciam, cada vez mais.
O padre relacionava o fato, com o episódio bíblico da reprodução dos peixes.
Pedia saúde e vida longa ao doador misterioso.
Não se falava em outra coisa, na comunidade.
Além dos peixes, outras mercadorias, como ovos e farinha,
passaram a ser doadas, da mesma forma, misteriosa.
Certo dia, um homem moribundo, pescador, na hora da sua morte,
confessou ao padre haver sido ele o autor do início de tudo.
Mas depois, provavelmente, outras pessoas gostaram da idéia, e
aderiram à causa, fazendo as suas doações secretas.
Ele abandonou aquele gesto, pois não mais havia necessidade.
Pediu que fosse divulgado, na missa, este fato.
O padre, precipitadaamente, atendeu ao pedido do moribundo.
Acabou o mistério, as doações também, e a frequência, à Santa Missa, nunca mais foi a mesma. Diminuíu pela metade....

conto poético: A ESMOLEIRA

Sem forças, esquálida, usando roupas doadas, a mulher
se sente humilhada, em esmolar.
Um ser humano, que desceu todos os degraus na escala
social da vida.
Olhei suas mãos, trêmulas e indecisas, e pude ler,em seus
olhos, o sofrimento de alguém que o tempo venceu.
Seus cabelos, sem brilho, ainda tentam, em vão,cobrir os
profundos sulcos, instalados em sua face.
Não consegui esquecer aquele olhar.
Parecia um último pedido de socorro...
No dia seguinte, voltei àquela rua, no centro, na esperança de reencontrá-la.
Não estava lá.
Havia alguma coisa, por trás daquele olhar...
Procurei saber o seu nome, mas somente o apelido era
conhecido. Isto, nada me dizia.
Dirigi-me ao mercado público, pois lá sempre estão esmoleiros. Tive sorte.
Encontrei-a, sentada em um caixote, à sombra de uma parede, esmolando.
Recebi um choque. Minhas desconfianças só aumentavam.
Convidei-a para almoçar, lá mesmo, num bom restaurante do mercado. Ficou assustada com o convite, mas aceitou.
Contou-me sobre a falência da sua vida, profissional e familiar. Coisas muito tristes, que envolveram seu marido e seus dois
filhos.
Não resistiu. Abandonou tudo.
Doente, para a sua sobrevivência, pede esmolas.
Perguntou-me, por que eu estava chorando ?
Não tive coragem de falar a verdade, para não aumentar o seu sofrimento, ou estabelecer um constrangimenmto.
Apenas, passei a ajudá-la com frequência, com todo o amor, respeito e gratidão, que bem merece a minha primeira
professora...

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Conto poético: O BOÊMIO

Um dos filhos mais conhecidos, desta Terra, foi o grande
boêmio, Daniel Pinheiro.
Exímio violonista, amante da noite, dos bares e dos agitados
lugares.
Cantor de voz grave, variado repertório, mas todas as
músicas do gênero romântico.
Chapéu de feltro, na cor cinza, era o companheiro das
madrugadas.
Histórias mil, sempre tinha para contar. A alegria de viver,
de sorrir e de cantar, nunca o abandonaram.
Nss noites frias de outono, dedilhava o seu inseparável
violão, acariciando as cordas e os trastes, com tanta
maestria, que até o mar vinha lhe acompanhar.
Amansava as aves marinhas noturnas, que paravam de
se alimentar, para as suas músicas escutar.
Fazia serenatas para as mulheres bonitas, que por ele
se apaixonavam, mas nunca, com nenhuma, se casou.
Defendeu sua liberdade, como o vento, o mar e o luar.
Dizia que nasceu para amar muitos amores, pois era um
boêmio, livre como o pensamento...

Conto poético: ESTRANHA DIVERSÃO

Década de 1950.
Ilha de Santa Catarina.
Um paraíso para se viver.
As pessoas se conheciam, e se cumprimentavam.
Ah, quantas coisas tenho para contar, deste lugar.
Taxi, tinha o nome pomposo de "carro de praça".
Era pedante pronunciar a palavra "taxi".
A bicicleta era emplacada.
Ligação Ilha/ Continente, somente através da Ponte Hercílio
Luz.
Nos ônibus, os jovens cediam seus lugares às pessoas mais velhas, às mulheres grávidas, ou acompanhadas de crianças.
De pouco lazer, dispunha o povo.Televisão, não havia. Nem
se conhecia.
Mas a alegria, não perdia.
Pregava-se mentiras e , até, torneio havia, com taça e medalha,
a quem vencia.
Na oficina de consertos de calçados, do Senhor Valdemar, de
nome "Jacaré ", as pessoas se reuniam, para ver quem havia
inventado a mentira mais inusitada.
Até secretário de estado comparecia. Médico e advogado,
também.
Era só alegria.
Peixe que foi pescado com um relógio de pulso, na barriga,
funcionando, ou outro com um ferro de passar roupas,
ainda muito quente, etc., eram as campeãs.
Este jeito simples de viver, despertou, nas pessoas, uma
forma ingênua de amar esta terra.
A Cidade cresceu muito, e os costumes também. Cedeu
lugar a outras formas de lazer.
Não há mais mentiras disputadas.
Hoje, as que existem, são orquestradas pelos políticos, sem
escrúpulos, para enganar o povo que, ainda, permanece muito
ingênuo.
Ah, que saudade sinto, do tempo daquelas mentiras...

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Conto poético: O CONSTRUTOR DE CANOAS

Certamente, por inspiração das belezas naturais, existentes
em extrema abundância nesta Ilha, dispõe, esta terra de um
acervo humano e artístico, incomparaveis.
A paixão portuguesa pelo mar, não é, apenas, uma influência,
mas a própria vida do ilhéu.
A culinária, a habitação, a língua, o trabalho com o mar, estão
a testemunhar o grande amor que chegou, para sempre
ficar.
Assistir ao artesão, construir a sua canoa, é uma grande lição
de trabalho e dedicação.
Embrenha-se na mata, íngreme e fechada, à procura de uma
grande árvore, de nome garapuvu.
Quanto maior a sua altura, e a circunferência, melhor.
Também tem que ser regular, o mais reto possível.
Com todo cuidado, é cortado a machado. Cada golpe é
calculado, para cair no local planejado. Também não pode ser
fraturado.
É coisa para mestre. Olhar de artista.
Dominado, é arrastado por tração animal, para o local indicado.
Agora, o homem, ou melhor, o grande artista, vai iniciar a sua
planejada construção. Uma canoa, de um só pau.
Mede, risca, desenha com carvão, no tronco do garapuvu, os
seus sonhos.
Já se sente navegando.
Recruta seus ajudantes. Apenas um machado e uma enxó, bem
afiados.
A canoa está ali. A tarefa do artista é, simplesmente, retirar do
pau, o que está sobrando.
E isto ele sabe muito bem fazer, com dedicação e arte.
Ao redor do tronco, a medida em que os dias vão passando,
começa a surgir uma bela canoa, e um monte de cavacos, para
o fogão alimentar.
Concluída, é levada para a água. Alguns dias após, vai para a
secagem e, finalmente, a pintura, bem colorida, sob a marcante
influência portuguesa.
É batizada, quase sempre, com nome de santo, ou de alguma
pessoa da família, que mereça a homenagem.
Estes homens são admirados, nas comunidades, como artistas.
Não raramente são convidados para, em praça pública, executar
esta obra de arte.
Um homem, seu sonho, um garapuvu e o mar, livres para navegar !

domingo, 13 de novembro de 2011

Conto poético: CINZA VULCÂNICA

Viajaste milhares de quilômetros, sobrevoando montanhas,
mares e vales.
Saíste das profundezas da terra. Nem sei de onde.
Minha janela registrou tua presença.
Escura como pedra queimada, pensei no teu sofrimento.
Quantos anos nos separaram deste momento...
Acho que me procuravas, com a mesma ansiedade com
que, inconscientemente, te esperava.
Achei linda a tua coragem, viajar de tão distante, nas asas
do vento, para me visitar.
Conversei contigo, dando as boas vindas e respeitando o
teu cansaço.
Acariciei a tua textura, admirei a tua beleza morena, pois és
diferente das que existem neste lugar.
Em minha vidraça, chegaste com o rosto de uma bela
mulher. Tu és uma bela mulher.
Filha da terra, da matéria e do ardente calor. És filha do
vulcão, liberada para conquistar o meu coração...

Conto poético: UM FILHO DE ESCRAVOS

Em minha adolescência, tive a felicidade de conhecer
o Senhor Timóteo.
Filho de escravos, residia nos altos do morro da Caixa,
nesta Capital.
Eu morava próximo, no mesmo morro, e o conhecia havia
alguns anos.
Era um ótimo profissional, em consertos de calçados.
Sempre gentil, a todos atendia com especial atenção.
Analfabeto, mas compreendia a vida, mais que muitos
letrados que conheci.
Educado, humilde, sabia ouvir as pessoas com paciência,
e decidia tudo com prudência.
Aprendi muito com aquele homem. Contava-me histórias que
ouvira dos seus pais, escravos.
Um sábio.
Pessoas, assim, não poderiam morrer. Deveriam permanecer
vivas, servindo de luz à humanidade.
Tive a felicidade de conhece-lo, mas cometi um grande erro.
Depois que saí daquele morro, por mudança de residência,
mas dentro desta mesma Cidade, nunca mais retornei a sua
oficina de calçados.
Sei que ele gostava muito de mim.
Ele não perdeu nada, pois nada poderia ensinar-lhe.
Eu, sim, perdi a grande oportunidade de conviver, por mais
tempo, com um homem de tanto valor. Um filho de escravos.
Uma testemunha viva, da história do Brasil.

Conto poético: O ALGUIDAR COMUNITÁRIO

Em pleno outono, a temperatura já caindo, vemos a
vida se amoldando aos usos da Ilha.
A safra da tainha, faz renascer o brilho nos olhos do
pescador, ansioso pela fartura do pescado.
Na vendinha, próxima ao mar, não se fala em outra coisa,
entre um gole de pinga e outro.
As redes de arrasto em prontidão, os vigias dos cardumes,
atentos nos pontos de boa visão do mar, dão, àquela
comunidade, a repetição de um cenário agradável.
Em casa, a mulher do pescador prepara a comida, já
cheirosa, para a sua família.
Enquanto a água ferve, no fogão rústico, à lenha, ela
frita algunas postas de peixes, que servirão de refeição para
os seus sete filhos.
Cozinha de chão batido, uma esteira de palha no centro...
nada mais.
Estranho, mas está arrumada a mesa.
Apanha um alguidar de barro, coloca algumas conchas de
farinha de mandioca, bem torradinha, e despeja a água
fervente, preparando um belo pirão.
Coloca o alguidar na esteira, risca o pirão na quantidade
igual ao numero de filhos, uma colher espetada em cada
porção, acompanhada de uma posta de peixe.
Em seguida chama a filharada para o almoço, exigindo
que todos lavem as mãos.
Ela e o marido, fazem as refeições numa pequena mesa,
sentados confortavelmente.
Uma questão de hierarquia familiar.
Com quem tenho falado, todos se referem a este episódio,
com carinho e com saudade... inclusive, eu.

Conto poético: UMA VISITA ESPECIAL

Poucas pessoas, desta Ilha, tiveram a oportunidade de
deitar numa cama especial, preparada por uma gentil
senhora, geralmente, mulher de pescador.
O visitante anoitecia na casa do amigo, ou do parente,
pois a "prosa "estava boa, e nem se dava conta do
adiantado das horas.
Lá pelas tantas, passa os olhos no despertador, e vê
que já são dez horas, quase na hora de dormir.
A pomboca ainda acesa, o nariz já enfumaçado, e o
boião de café, em cima da chapa do fogão à lenha, não
permitiam dormir tão cedo.
"Compadre, vamos prosear mais um pouquinho".
Era o gentil convite para que o "compadre" ficasse, para
continuar a conversa.
Não havia televisão, aliás nem se conhecia o que era isto,
nem energia elétrica. Portanto, não existia rádio. O de
pilha, também, não existia.
A comunicação era feita de boca a boca. Apenas.
O compadre aceita a "pousada", e a comadre ia
preparar a cama na sala.
Arrastava a mesa e as cadeiras para o lado,e retirava, de
trás da porta, uma esteira de palha, estendendo-a no chão.
Colocava um lençol, um travesseiro, feito com palha de
milho, e um cobertor, caso fizesse frio durante a
madrugada.
Normalmente, a casa não dispunha de forro, e o vento
entrava solto pelas telhas.
Outro detalhe, é que as divisões das peças, eram com
meias paredes, no máximo dois metros de altura.
Também não existiam portas internas. Eram cortinas
de chita.
Por fim, indicava o lugar onde encontrar o pinico.
E verdade, faltava muita coisa naquela casa de gente
simples, mas sobravam gentileza e amor.
Hospedei-me, por várias vezes, desta forma.
Sinto imensa saudade daquela gente boa, e das
conversas tão interessantes...

Conto poético: AMOR, SEM PRECONCEITO


Início do século XIX. Uma bela fazenda de plantação de
cereais, cobrindo centenas de hectares. Muito pasto,
acolhendo o gado crioulo, em quantidade tão grande, que
só por estimativa se podia contar.
A senzala, lotada de escravos, supria a mão de obra.
A "casa grande", no alto da colina, representava o Brasil Colônia.
A generosidade do fazendeiro, chegava comover.
Nenhum escravo queria ser vendido. O que era um bom sinal.
O maior presente para uma escrava, era ser chamada a
trabalhar na casa grande.
O único filho, vivia o tempo todo na senzala, brincando com
os filhos dos escravos.
Este é um relato raro, pois não era regra geral, nesta relação social.
O menino foi crescendo, até chegar à adolescência.
Hora de embarcar para a Europa, a fim de concluir seus
estudos, como acontecia com todos os ricos da época.
Na festa de despedida, uma escrava, de nome Malana,
abraçou-se com o jovem e, juntos, choraram.
Havia um pacto entre ambos.
Amavam-se, loucamente.
Samuel permaneceu em Portugal, por sete longos anos.
Ao retornar, já homem feito, com os estudos, agora,
concluídos, e educação refinada, foi recebido na fazenda
com uma festa, sem precedente.
Seus pais, por demais felizes, não conseguiam conter
as lágrimas, misturadas aos constantes sorrisos.
Os escravos, vestiram-se de branco.
Malana, deixou de ser menina, para ser mulher,
divinamente linda.
Samuel a procurava, com ansiedade. Quanto ao seu amor,
não restava a menor dúvida.
A preocupação, era uma só. O preconceito.
No meio da festa, Samuel pediu a palavra e a atenção dos
pais.
Disse-lhes que seria o homem mais feliz do mundo, se ambas
as famílias concordassem com o seu casamento, com
Malana, pois se amavam desde criança.
Os pais de Samuel, concordaaram de plano.
Samuel pediu aos pais de Malana a sua mão, que também
aceitaram, orgulhosos.
No discurso emocionado, o fazendeiro disse aos escravos
que, a partir daquele momento, deixariam de ser propriedades
da fazenda. Poderiam partir no momento em que bem
entendessem, e que também poderiam permanecer, se assim
o quisessem. Estavam livres, completamente.
Todos choraram de emoção. Mas ninguém foi embora...
Há quem registre este momento, como sendo o primeiro
gesto de alforria, na história escravagista do Brasil.
Graças ao amor, sem preconceito...

sábado, 12 de novembro de 2011

Conto poético: RASTROS DO PASSADO

Quase tão antiga, quanto aquela cidade histórica, era a
casa em que morei, durante cinco anos.
Foi construída com mão de obra escrava, e, portanto,
com muito sofrimento.
No silêncio da noite, olhava seus longos corredores de
acesso às dependências, e minha imaginação passeava
pelos séculos anteriores.
O madeiramento de sustentação do telhado, era feito com
troncos de árvores, extremamente pesados e colocados
no alto, com força humana.
O alicerce era de pedras grandes, pesando toneladas.
Via, perfeitamente, o esforço daqueles homens,
submetidos à humilhação.
A argamassa, feita com areia, cal de conchas e óleo de
baleia, era uma mistura perfeita. Não se rendeu ao tempo.
Os tijolos de barro, eram grandes e maciços.
Uma fortaleza.
A área da cozinha, ampla, exagerada para a sociedade de
hoje, não possuía assoalho. Era de chão batido. Muito
comum nas construções da época.
Um dia, por impulso de pura curiosidade, subi ao sotom
daquela casa.
Examinei, minuciosamente, as paredes, sem revestimento
de argamassa.
Tive uma surpresa emocionante, da qual nunca esqueci.
Num dos cantos, bem baixo, entre o telhado e o forro de
madeira bruta, que tambémm servia de um pequeno depósito,
encontrei um painel de reboco, feito na parede, com as
dimensões de, mais ou menos, um metro quadrado.
Nada escrito. Nem precisava, pela mensagem gravada.
Dois pés grandes, dois pés menores e delicados, e mais
quatro pares de pés de variados tamanhos, certamente, de
crianças. Além disto, as mãos direitas de todos.
Muitos corações desenhados, e entrelaçados.
Tudo em baixo relevo.
Deus do Céu, quanta emoção senti.
Uma família de escravos, trabalhou na construção daquela
casa.
Pelos sinais, eram muitos felizes, unidos pelo amor, embora
vivendo numa época em que o mal predominava.
Saí dali, fui à Igreja de Santo Antôno dos Anjos, e rezei muito,
com todo o fervor, àquelas almas, agradecendo a bela morada
de que estava desfrutando, juntamente com meus pais e os
meus irmãos...
Que Deus se lembre deles, porque jamais os esquecerei...
Ah, sim, embora tombada pelo poder público, como patrimônio
histórico, foi demolida. Mas continua de pé, em minhas
lembranças e, agora, neste conto poético...

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Conto poético: A SALGA

Até poucos anos atrás, a conservação do pescado, em
toda a orla do nosso Estado, era feita com sal.
Retiravam-se as vísceras dos peixes, adicionando-se sal,
em abundância.
Era o processo da "salga ", mais prático, pois não exigia
qualquer tecnologia no seu preparo e transporte.
A instalação , destas operações, se resumia num galpão,
de tamanho médio, muita água corrente, para lavagem,
mesas compridas, bem higienizadas, e o aproveitamento
da mão de obra disponível na região.
Normalmente, mulheres de pescadores, e quaisquer
outras pessoas, como os seus filhos.
Denominava-se, este lugar, por "salga ".
Funcionava durante todo o dia, sem interrupção.
Fiquei curioso para saber, por que o interesse de tanta gente
por aquele trabalho, tão insalubre, cheiro forte,
desconfortável, e mal remunerado.
Normalmente, um patrão carrancudo, a moda muito antiga.
Essas salgas, prosperaram em locais longe dos centros
urbanos, sem luz elétrica, estradas ou quaisquer outros
meios de comunicação, fora da via marítima.
Concluí, então, que a explicação, que procurava, residia aí.
Todas as novidades da região, se concentravam na salga.
Eram falatórios, versando sobre os mais diversos assuntos,
como namoros, mudanças, sucessos em pescarias, lá pelas
"bandas" do Rio Grande, chegadas e saídas de barcos de
pescas, notícias de polícia, futebol, fofocas, etc.
Quem ficasse fora deste circuito, estava perdido.
Então, o relacionamento social, era o grande responsável
pela prosperidade das antigas salgas.
Muitos casamentos ocorreram, a partir do odor forte da carne
de peixe...certamente, afrodisíaco

Conto poético: O MIRAMAR

Um romântico e tradicional ponto de referência, construído no
início do século XX, no centro desta Capital, dentro do mar.
Era o orgulho da Baía Sul.
Sala de visitas da sociedade, em final de tarde.
Cozinha típica e serviço de bar, perfeitos.
Um vista privilegiada para as belezas do continente, inclusive, a
Montanha do Cambilela, admiradora permanente da Ponte
Hercílio Luz, do Mercado Público e do porto, instalado nas saias
rodadas da Rita Maria.
A sua frente, várias charretes, com tração animal, completavam
o luxo do ambiente.
Não me sai dos ouvidos, o som dos cascos dos cavalos, ferrados,
troteando no calçamento a paralelepípedos, chegando e saindo
com os passageiros. Saudades do Pepe do Opuska...
Um privilégio bucólico, em pleno centro de uma Capital.
Tinha-se a impressão de estar navegando, ao escutar o som
das ondas do mar e, por vezes, até o respingo das águas, por
curiosidade, vinham participar das conversas nas mesinhas.
O luar invadia todo o ambiente, e os pássaros marinhos, atrevidos,
pousavam nas balaustradas, para chamar a atenção.
Alguns pescadores, amadores, faziam a festa, confortavelmente
instalados.
Durante o dia, a rapaziada se divertia, mergulhando nos arredores,
do prédio, para apanhar as moedas jogadas por quem os assistia.
Indescritível a beleza daquele local.
Um orgulho dos nativos.
Mas, com o aterro de ampliação da área física da Capital, não
foi poupado.
Foi destruido, não restando nem um vestígio.
Um crime, contra a consciência da preservação.
A ignorância vitoriosa.
Um gemido, tão doído, que não se cala.
O pior, ainda, é que nenhuma necessidade havia da sua destruição.
Pura maldade, de alguém que nenhum compromisso tinha com
esta Terra. Nem por amor...

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

conto poético: MAIS QUE UM REI

Chega o verão.
E com ele, explode a alegria.
O mês de fevereiro, arrasta a folia.
É carnaval, na Ilha da Magia. Não se fala em outra coisa.
Trabalhar, só se for inevitável.
Músicas frenéticas, não permitem o descanso.
No meio deste turbilhão de ruídos ritmados, surge um
homem liderando toda a alegria. O Rei Momo !
Sua Majestade, tem um único nome : Lagartixa.
Reinou o carnaval por mais de três décadas.
Nasceu para ser artista, um grande líder da festa.
Sua chegada na multidão, era apoteótica.
Sob os pomposos acordes musicais, direcionando todos
os olhares para o "jeep, "que trafegava em velocidade
reduzídíssima, e em carroceria aberta, lá vinha ele, sua
imponente Majestade, o Rei Momo Lagartixa, já de posse
das chaves da Cidade.
Sua simpatia e presença física, eram contagiantes.
Lagartixa, ou melhor, Hilton da silva, foi a essência da
alegria, a expressão da bondade, e o eterno sobrenome
do carnaval desta Capital.

Conto poético: UM HOMEM CHAMADO AVEVU

Conhecido em toda esta Capital, Avevu foi um homem
que viveu, intensamente, cada minuto da sua vida.
Residia nos altos do morro da caixa, antiga Rua Lages,
depois, General Vieira da Rosa, local onde nasceu.
Funcionário dos Correios e Telégrafos, era apaixonado
por carnaval. Um líder.
Em época de folia, descia o morro fantasiado, para
juntar-se aos seus pares. Parecia um príncipe, face a
convicção com que se revestia do seu personagem.
Desfilava com um garbo tal, até hoje não superado.
Amava a sua Escola de Samba Copa Lord.
Compositor de dezenas de sambas.
Eu, ainda menino, ficava impressionado com aquele personagem
do samba.
O destino deu uma podada em seus passos, em razão de uma séria enfermidade que contraiu.
Não perdeu tempo. Voltou aos bancos escolares, formando-se
em direito.
Agora, não é mais o Avevu e, sim, o Doutor Abelardo.
Há poucos anos atrás, o vi passar na rua principal, desta Capital.
Seguia apressado, certamente envolvido em sua profissão de advogado.
Senti uma imensa vontade de aproximar-me dele, e dizer-lhe da minha satisfação em revê-lo, bem como da admiração que por
ele nutria, como um dos filhos mais dignos desta Terra.
Não o fiz, possivelmente, por constrangimento, ou por não querer
correr o risco de ser inoportuno.
Errei.
Poucos dias depois, menos de uma semana, Avevu, o o Dr. Abelardo, foi atropelado em frente à passarela do samba, onde morreu, caído no asfalto, em que tantas vezes desfilou todo o garbo e alegria, de um grande guerreiro do carnaval.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Conto poético: A FIDELIDADE DE UM CÃO

Diariamente, observava à frente de minha casa, um homem
que caminhava, acompanhado do seu cão.
O Senhor Maneca, ex sentenciado, morava próximo à
penitenciaria do estado.
Passava o dia nos bares, bebendo cachaça. Não se alimentava
e nem trabalhava. Um infeliz, que carregava na bagagem da vida,
uma pesada culpa, nem sei de que.
Seu cachorro, sem raça definida, o acompanhava, sem beber
água e sem comer.
Porém, o mais triste é que carregava ao pescoço, uma coleita
de arame farpado, provocando sangramento, sem estancar.
Por várias vezes, tentei segurá-lo para aliviá-lo daquele cruel
sofrimento. Jamais obtive êxito, pois o cão sempre fugia.
Quando a polícia chegava, para recolher o Senhor Maneca,
caído nas valas, completamente embriagado, a maior dificuldade
era dominar o cachorrinho, que virava um cachorrão.
Permanecia ao lado do seu dono, deitado, até que o efeito do
álcool cessasse.
Sangrando no pescoço, com uma coleira de arame farpado, sustentando sua fidelidade incondicional, até me lembrava aquele grande Homem, com uma coroa de espinhos à cabeça, sangrando, e fiel aos seus divinos sentimentos...

terça-feira, 8 de novembro de 2011

A DAMA DA NOITE

Cheirosa, como os perfumes aprisionados nos
pequenos frascos.
Macia, como as pétalas das flores, colocando-se
à distância para não ser tocada, apenas apreciada.
Mostra-se, tão somente, no período noturno.
Não quer ser incomodada.
Emocionada, nada fala, só exala.
Seu período de vida, não passa de algumas poucas
horas. Chega refletir a luz prateada do luar.
É uma dama, mas não uma mulher. É uma flor.
Uma linda flor. A dama da noite.
Poderia ser uma rainha. Não o é, por ciume das outras
flores.
Sua beleza não tem limite. Aos seus pés, todas as
pétalas reverenciam o seu perfume, não conseguindo
esconder o ciume, destilado por uma linda mulher .

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

EM CADA FLOR, UMA SAUDADE

Meditava, absorto nas profundezas da minh'alma,
sobre tudo o que amei.
Cada personagem, real como as estrelas, me causa
alegria, ou dor.
Por vezes, os dois sentimentos.
Como se expostos em galerias de artes, os vejo em
molduras diferentes.
São histórias que conheci, ou criei.
Poderia chamá-las de moldura. No centro a realidade.
À volta, os meus conceitos.
Como artista, o que restou.
Desço as escadas da vida, e me deparo com um belo
jardim. O das minhas recordações.
Estão lá as flores e, também, os espinhos.
Aspiro perfumes fortes, como os do jasmim.
As orquídeas me acalmam, oferecendo a exuberância
da beleza, e o inebriante cheiro de amor.
Identifico em cada flor, um momento de muita ternura,
alguém que amei, me amou, ou me atraiçoou.
Esta, sufocada pelos espinhos.
Com todas converso, manifestando o meu respeitoso
carinho e compreensão, até com a traição.
Em cada formosura exposta, a ternura de uma saudade,
que viaja a bordo dos perfumes,exalados pelas flores
do meu jardim...
Mas,a galeria central está reservada
ao verdadeiro amor, essência da vida e da
verdade...como seu nome

Conto poético: EXTREMOS DA VIDA


Conheci um homem, dotado de uma dignidade
elogiável.
Seus sentimentos humanitários, somente
poderiam ser comparados aos homens justos e de
bons costumes.
Vinculado ao bem, e desprovido de maldade,
dedicou-se aos seres da sua espécie, zelando pela
vida e a saúde.
Um homem de verdade. Um exemplo a ser seguido.
Amou, profundamente, a sua mulher, e sua prole.
Nunca lhes negou um sorriso, e o infinito carinho.
Porém, o destino reservou-lhe dois duros golpes.
O primeiro, arrancou-lhe um pedaço do coração, ao
levar, para a vida eterna e prematuramente, a sua
querida filha.
Logo ele, que tantas vidas salvou, não estava presente
no momento do inesperado. Que dor ! Somente Deus
para avaliar.
No segundo, quando mais precisou de apoio, o seu
grande amor o abandonou.
E ele, a vida...

domingo, 6 de novembro de 2011

Conto poético: UM HOMEM DE VERDADE


Um jovem médico, dedicado e competente cardiologista,
muitos serviços tem prestado a nossa Cidade.
Pertencente a uma Família tradicional, unida pelo amor e
pelo respeito.
Seu pai, antigo delegado de polícia, conquistou muitos
amigos, pela seriedade e honestidade, com que exerceu
suas altas funções públicas.
Mas, certamente, muitos inimigos integram sua lista social.
O filho, médico, ainda nos primeiros anos de sua profissão,
já famoso, sofreu a terrível dor ao ver o seu pai, em tocaia,
ser assassinado, por vingança.
O assassino foi condenado a dezenove anos de reclusão.
Certa madrugada, o médico de plantão, em hospital público,
o mesmo filho do delegado assassinado, em emergência
absoluta, realizou uma grande cirurgia cardíaca.
Por ocasião da alta, recebeu um emocionado abraço do
paciente, sob os olhos observadores de uma antiga
enfermeira.
Dias depois, numa conversa profissional, mais íntima, recebeu,
dessa mesma enfermeira, a informação de que aquele paciente
operado, é o assassino do seu pai, e que chagou ao hospital,
sob custódia, pois ainda está cumprindo a sua pena.
O médico esboçou um suave sorriso, e respondeu àquela senhora,
que desde o primeiro momento, pelo prontuário, sabia de quem
se tratava.
A grande dúvida foi se deveria, ou não, operá-lo, por uma questão
de ética médica.
Entretanto, a urgência era de tal ordem, que não havia opção.
"Estou em paz com a minha consciência, pois este é um dos
pilares da vida, que o meu pai me ensinou.
Eu cumpri a minha parte, e o Estado, também. O sentenciado,
cumpre a dele. Não sei como ficará a sua consciência ...
quando souber destss detalhes.
Faço votos de ö ajudem, em sua recuperação social".

sábado, 5 de novembro de 2011

Conto poético: A PIANISTA MISTERIOSA

De minha janela, ouço um lindo som de piano.
Músicas clássicas e contemporâneas, sonorizam
a modesta rua onde mora.
A doçura dos acordes, aguça a minha curiosidade, em
conhecer o artista. Aquele exímio pianista.
Percorro a rua nos dois sentidos, e não consigo,
com exatidão, identificar de onde vem aquele som.
Fico intrigado. Momentaneamente, desisto.
Durante o silêncio da madrugada, parecendo surgir
do nada, escuto o artista executar belas canções.
Desta vez, somente clássicas.
Num ímpeto de extrema curiosidade, visto roupas
apropriadas,
e me embrenho na mata, muito fechada.
Avisto um velho rancho, possivelmente abandonado.
Aguardo o amanhecer, e retorno aquele lugar,
para melhor investigar.
Trata-se de uma pequena casa, humilde,
cuja moradora é uma senhora, muito idosa.
Tomo a liberdade de fazer-lhe algumas
perguntas, sobre a música que escuto em minha rua.
Disse-me que, há muitos anos, vivia naquela casa uma bela
pianista.
Apresentava concertos, por este mundo de Deus.
Morreu muito jovem. Era noiva de um homem,
que morava nas escarpas desta montanha.
Ela costumava executar as suas músicas,
para que o seu amor,
lá do alto, as ouvisse.
A pianista faleceu, mas o som continua
ecoando nas paredes da
montanha.
Há quem diga tratar-se de um fenômeno
físico, dado as
características das rochas vulcânicas.
As pedras funcionam como caixa de ressonância.
Só não soube explicar, como pode acontecer a
interpretação de músicas atuais,
e todas em horários certos.
Sempre na madrugada

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Conto poético: PAIXÃO DE CRIANÇA

Um grupo escolar, modelo, no centro da Capital.
Escola pública, de qualidade incomparável.
Professores extremamente competentes, e
dedicados ao magistério.
Disciplina e conteúdo, eram o foco.
Tive o privilégio de estudar naquela escola,
sem desembolsar um centavo.
Turma mista, pelotão de saúde, inspetor
escolar presente, com visitas de surpresa.
Em minha turma, uma linda menina me chamou
a atenção.
Tímida, pouco se comunicava, mas muito
estudava, pelas notas escolares que obtinha.
Eu, na pré adolescência, diante daquela inocente
beleza, apaixonei-me.
Minha timidez impediu-me de uma aproximação.
Mesmo assim, do jardim de minha casa, levei
uma pétala de rosa branca, e escrevi um bilhetinho,
no qual declarava minha paixão.
Escondi-me atrás de letras disfarçadas, pois sabia
que poderia dar confusão. E deu.
O bilhete foi parar na direção, e o susto foi tão grande,
que acabou a minha paixão...
Ainda hoje, não sei se por remorso ou vaidade,tenho
vontade de procurá-la, e confessar a autoria daquele
"crime".
Mas creio que os seus netos não entenderiam...

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

A DERROTA DA MALDADE

Um amor puro, nasce enraizado nas profundezas
da essência humana.
As lágrimas rolam em cascatas de alegria, refletindo
o ofuscante brilho dos amantes.
O sorriso é constante. A felicidade parece não ter
fim, envolendo dois seres que se completam, no
corpo e na alma.
As flores perfumam e os pássaros gargalham,
dando boas vindas ao amor contagiante.
Deslumbrados, de causar inveja... sim, de causar
inveja.
Outros, protegidos pelas sombras do anonimato,
das meias verdades, atacam de tocaia.
jamais amaram, pois amar é privilégio dos puros
de coração.
Prospera, momentaneamente, a traição.
Mas, finalmente, sobrevivem a verdade e o amor,
como o sol, após a tempestade.

AS QUATRO OPERAÇÕES DO AMOR

É maravilhoso mergulhar nas profundezas
do oceano do amor.
Sentir a água fresca beijar o corpo, renovando
a vida.
Segurar firme a mão de quem MAIS se ama,
na certeza de colher os frutos da felicidade.
Focar, cada vez MENOS, as impertinentes
quirelas, surgidas nos porões da convivência.
Dar chance à felicidade. MULTIPLICAR,
intensamente, a atenção e os doces carinhos, à
pessoa amada.
Não ser egoísta, mas participar da alegria e da
tristeza, na saúde e na dor, DIVIDINDO tudo,
com sabedoria e muito amor !

ESTE POEMA

dedico a ti, expressando os meus
sentimentos.
Pedi às flores que transmitissem, todo
o explendor do meu amor.
Da orquídea ao doce jasmim, não houve
cumprimento da missão.
Porque tu és a única flor, que habita o meu
coração.
A palmeira das verdes folhas brilhantes,
que sombreia, no sol escaldante, os corpos
dos apaixonados amantes.
No frescor da água, que despenca do alto
das cachoeiras, sinto a tua mão macia e tão
delicada, a deslizar no meu rosto, pedindo mais
e mais amor, em nome da natureza !
És a noite silenciosa, embalando os meus
alucinantes sonhos, gritando teu nome na
madrugada, e cessando ao amanhecer, no cantar
da passarada.
... este poema, dedico a ti, formosa mulher !