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segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Conto poético: SOMENTE UM ABRAÇO


 Percebi um fato, no mínimo curioso.
Um homem, com idade aproximada de 50 anos, sempre, por
volta das 19h, se dirige ao final da praia, ajoelhado e de braços
abertos, gesticula em direção ao universo.
As pessoas o designam de louco, pois fala coisas sem sentido,
ou, pelo menos, incompreensiveis.
Tira o seu chapéu de palha, entra no mar, banha o rosto, e chora
muito.
À primeira vista, também me pareceu desequilibrado.
Mais tarde, no aconchego e tranquilidade de minha casa, pensei
muito sobre aquele homem.
Afinal, não tenho o direito de julgá-lo desta forma e, quem sabe,
poderia oferecer-lhe algum tipo de ajuda.
No dia seguinte, cheguei mais cedo ao local para, novamente,
observá-lo.
Ele é extremamente pontual e frequente, chova ou faça sol.
Após cumprir todo o seu ritual, perfeitamente repetitivo, pedi
licença para dirigir-lhe a palavra.
Assustou-me. Não imaginei que estaria diante de um homem
tão educado, e falando um português tão escorreito.

Sentei-me ao seu lado, numa das pedras que formam o costão.
Após manifestar a minha admiração, por sua regularidade
ritualística, sentiu-se lisonjeado e, sem cerimônia alguma,
explicou-me que faz isto, diariamente, para aliviar a sua dor.
A gesticulação, e tudo mais, foi o caminho espiritual que
encontrou, para falar com o seu amado filho, que aquele
mar levou, num dia de tempestade, quando surfava próximo
ao costão.
Então fala com o mar, com a noite que vem chegando e
com o dia que está encerrando, implorando que traga o seu
filho de volta...
Abraçou-me, e chorou copiosamente...
Também, eu.
Não consegui, pela primeira vez em minha vida, pronunciar, sequer,
uma palavra de consolo.
Apenas, o meu caloroso abraço... num homem que tem muito
amor no coração, e fé em Deus.

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