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domingo, 22 de janeiro de 2012

Conto poético: ATROCIDADE

Sentada à calçada, no centro da minha Cidade, vi uma
mulher de estatura pequena, com um filho no colo.
Vendia artesanatos, feitos por sua tribo.
Era uma indígena. Uma índia botocudo, bugre, ou
xokleng, como se queira denominá-la.
Olhei em sua bela face, cor do sol, combinando com
os cabelos negros e lisos, maltratados, é claro.
Dirigi-lhe algumas palavras. Poucas me respondeu.
Senti vergonha. Um asco de arrependimento e revolta,
pelo que lhe fizeram os meus antepassados.
Percebi o seu olhar triste, desconfiado, incrédulo nos
seres humanos,fora da sua aldeia.
Está coberta de razão,  aquela  mulher.
Seu povo foi massacrado, quase levado à extinção,
por nós, "homens brancos", insensíveis e gananciosos.
Segunda metade do século XIX.  Os imigrantes alemães,
depararam-se com os habitantes destas terras, os
antepassados daquela mulher. Indígenas.
Defendiam, apenas, o seu habitat. Nem tinham noção
de propriedade. Nós, sim.
As terras, para eles, significavam zona de caça e
extração de alimentos, oferecidos pela natureza.
Para  os imigraantes, riquezas, dinheiro, madeira, plantação,
criação de animais ...
O choque cultural foi brutal. A solução ?
Simplesmente a morte  dos "botocudos ",  com
apoio e incentivos do governo da Província, e das
empresas de imigração.
Quem mata mais ?  Os  heróis ! os melhores
matadores. Martinho Marcelino de Jesus, o
Martinho Bugreiro e José Bento.
O primeiro, que viveu no Planalto Catarinense, diz
haver matado mais de 1.000 índios. O segundo, nem
fala em números.
Posso, assim, compreender o triste olhar daquela bela
mulher.
Mas de uma coisa estou certo. Os indígenas, à época,
perderam as terras, mas, os homens brancos, perderam
algo mais valioso: A  dignidade.
Que vergonha !
As terras estão, aos poucos, sendo-lhes devolvidas.
A dignidade, jamais.
De minha parte,  a sós com  minha consciência, sem falar
nada, pedi-lhe perdão e, também, a Deus.
Senti meu coração mais aliviado...

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