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quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Conto poético: A FORÇA DO ARREPENDIMENTO

Um homem trabalhador.
Mãos calejadas pelo duro cabo da ferramenta, carpia meu
terreno com  rara dedicação.
Dia quente de outono, o suor pingava de sua face, mais
parecendo uma torneira mal fechada..
O chapéu de palha à cabeça, não  oferecia proteção a
todo o corpo.
Ofereci-lhe uma jarra d'água fresquinha. que a bebeu em
um minuto. Elogiei o seu trabalho. Os seus olhos brilharam
de emoção.
Sentou-se à sombra de um cajueiro, por alguns minutos,
mais para me dar atenção e, também, para tomar um
folego.
Surpreso, ouvi algumas confissões, que somente um,
homem corajoso e digno, as fariam.
Foi viciado em drogas, quando muito jovem. Furtou vários
objetos das residências  do bairro em que morou, para
manter o seu vício.
Foram dezesseis ao todo.
Destes, já devolveu onze, sempre anonimamente. com um
bilhete de confissão.
"Trabalho, ainda, para devolver os demais. Creio que, mais
um ano, me permitirá  "zerar" tudo o que furtei."
Não suportei a vontade de perguntar quem lhe sugeriu
proceder desta maneira.
Respondeu-me : "  a minha consciência, pois não conseguia
sobreviver com este sentimento de culpa. As pessoas  devem
ter trabalhado muito para adquirir essas coisas que eu furtei ".
Fiquei mudo. Não sabia o que dizer aquele homem.
Que dignidade, meu Deus !
Ofereci-lhe ajuda. Não aceitou, dizendo-me que tudo terá que
vir do seu trabalho.
Esta "auto-pena", digamos assim,  parece ser de outro planeta.
Que grande exemplo a todos os ladrões do meu País e, em
especial, aos corruptos, principais inimigos do povo...

Conto poético: ATRAÇÃO HEREDITÁRIA

Moça bonita, família distinta, educação não  lhe faltou.
Boa filha e  irmã. Não queria saber de namorar, mas nos
estudos era  exemplar.
Pelos rapazes, sempre foi  muito assediada.
Mas Getúlio  olhava  Nevinha como um predador, à espreita
da presa.
Cada dia que passava, por capricho da natureza, ficava mais
bonita e atraente.
Getúlio parecia enlouquecer, de tanto ciume.
Era o seu  vizinho de porta.
Quando a moça completou  quinze anos de idade,
a  freguesia dos pescadores,  passou a olha-la  como
uma linda mulher.
Mas, Getúlio, era só um  menino grande, aos  quatorze anos.
Não tinha como concorrer com os rapazes mais velhos.
Que lástima. Que  tortura!
O pior, ainda, é que a moça o via como um irmão, pois
foram criados juntos.
Mulher feita e belíssima, embarcou na primeira  garupa
que alguém lhe ofereceu.
Foi embora.  Sua família quase enlouqueceu.
O rapaz  foi o que mais sofreu.
O tempo foi passando.
Onze anos de absoluta ausência.
Getúlio nunca namorou.
Todo o povoado comentava  que ele ainda amava
Nevinha, sua grande paixão.
Misteriosamente, uma carta foi colocada em sua casa,
por baixo da porta.
Nevinha pedia-lhe socorro. Sofria muito e estava
residindo em uma  cidade  vizinha.
O socorro foi imediato, instantâneo.
Os dois casaram.
Possuem uma filha que vai completar quinze
anos.
Bela como o frescor da madrugada.
Alegre, como o canto dos passarinhos.
Alfredo, seu vizinho, ainda um menino,está
a sua espreita, como um predador...

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Poema: ATÉ O CÉU NOS INVEJA

Ah, este  amor  tão lindo !
Transfere a essência das cheirosas flores  à vida, tornando-a
mais colorida.
Plantado no coração dos poetas, e na alma dos amantes, aquece o mundo
 como o sol reinante.
Viaja  nas asas do vento, e nas estradas do desejo,  sem origem e sem
destino, batendo forte  no coração.
Na bagagem, sonhos e amor.
O sorriso da felicidade constante, brilha mais que os diamantes, enraizado
na sua alma de mulher.
Sua beleza esplendorosa,  mexe com a natureza, confunde as estações.
A primavera  permanece o ano inteiro, apenas sentindo o seu cheiro, não
deixando entrar o verão.
Por onde ela passa, inspira os poetas em seus versos, transbordando  em
paixão.
Hoje, em meus braços, me ajuda  enterrar  os pedaços, de muita  coisa que
já passou...
Cicatriza  minhas feridas, dá força a minha vida, me enche  de amor !
Brotam novos ramos, cheios de flores e perfumes.
Até o beija-flor,  aquele todo branquinho, que há  tempo não aparecia,
veio visitar  meus versos, apresentando sua companheirinha.
Vive das flores, do néctar e do perfume.
Canta tanto, bate seu biquinho, orgulhoso por ser um passarinho e, eu,
o seu amiguinho.
Ah, meu amigo, somos felizes.
Eu na terra, e tu no céu.
Tens todas as flores do mundo, para beijar.
Eu tenho a mais linda mulher, para amar !

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Conto poético: TRÊS MARIA E UM AMOR

 Até hoje, não entendo.
Na contra-mão  das regras sentimentais, Anastácio, um pescador
de beira-mar,  despertou uma paixão inexplicável, em três  lindas
irmãs.
Todas se chamam  "Maria ".
Realmente, é um belo homem.
Trabalhador, conversa macia, atencioso, educado, generoso.
Enfim, um perfeito cavalheiro.
Creio, até mesmo,  que desconhece a beleza destas suas qualidades,
dado a sua simplicidade.
Namorou uma das Maria, a do meio. A "propaganda" foi tão grande,
claro que por ingenuidade da moça, que acabou desapertando a
curiosidade da mais velha.
As três irmãs sempre foram muito unidas, nada poderia abalar  a
forte  amizade entre elas.
Nem mesmo uma paixão, agora já compartilhada pelas três,  e
completamente envolvidas.
Anastácio, além das qualidades  mencionadas, era muito habilidoso.
Administrava esta situação, nada fácil, com "mãos de mestre".
Todos eram muito felizes. Até  causava  inveja em outras pessoas, que
forçavam a "porta de entrada", para fazerem parte do harém do
Anastácio. Verdade.
Incrível,  o perigo não residia lá fora mas, sim,  dentro da própria casa.
A mãe das moças, bem casada, apaixonou-se pelo lindo genro.
Dizem que até o sogro, começou a "dobrar esquina ", para conversar
com o genro. Este último fato, pode ser um exagero do povo crítico...
Muita gente, como eu, conhece esta história complicadíssima !!!

Poema: ENSINA-ME A TE CONQUISTAR

Sequer  percebes  as insinuações que, carinhosamente,
declarei a ti, linda mulher.
Esmaguei minha timidez, rompi com o meu silêncio,
tripudiei minha dignidade, e   nem um olhar de esperança
recebi.
Dia e noite, penso em ti.
Meus sentimentos se transformam em sofrimento,  na
angústia desesperada de te querer, cada vez mais.
Minh'alma  derrama o pranto, e tu sorri sem piedade,
até parece por maldade, ou  prazer de me  ver sofrer.
Enlouquecido,  e caminhando  sem  rumo, vivo  só de
esperança, me alimentando de ilusão, enganando meu
pobre coração.
Minha existência se desfaz, te querendo  cada vez mais.
Como um zumbi, vago  pelas sombras  da noite, a procura
de ti.
Finalmente, ensinaste-me a forma correta de te conquistar.
Na madrugada, sozinha te encontro, recebo o  teu generoso
abraço,  cheio de ternura, e passeio pelas ruas, para o
perfume das flores sentir.
Sinto-me o  ser mais feliz do mundo.
Desfruto do teu amor tão puro que, deste  sonho, não quero
mais acordar...

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Conto poético: FALANDO COM O MAR

Hoje, à noite,  falei com  as ondas do mar.
Sentado a sua frente, meditando sobre todas as coisas da vida,
fui interrompido por sons estranhos, vindos  das ondas, que se
debatiam sobre a areia da praia.
Era o término de uma  longa viagem, que nem sei precisar, a
distância daquele lugar.
Sem parar, parece  uma   saudade querer  matar...
Mas fala de um amor tão lindo, que até a sua espuma se vestiu
de branco, querendo alguma  coisa  me contar.
Um perfume  de rosas, não sei precisar a cor, lembra o meu
grande amor, que ficou do outro lado do mar.
Começo a  entender a  alvura, que viajou na crispa das suas ondas,
lembrando a pureza daquele  amor, que o destino, sem piedade,
levou.
Ouço os soluços do mar, misturando-se ao meu pranto de dor,
ao  meu pranto de amor... tentando me consolar.
No horizonte, quase tocando nas nuvens, vejo a gaivota, com as
suas asas vestidas de luto, gargalhando de alegria, anunciando
que,  ao raiar o dia, o meu grande amor vai  chegar.
De  tanta emoção, preparo o meu coração, para aquela linda
mulher abraçar...  se  na gaivota puder acreditar !
Não me afasto da praia, nem do horizonte retiro o meu olhar.
Espero a noite se afastar, o dia raiar, para num longo beijo,
uma linda flor, ao meu amor ofertar.
A noite foi embora. O dia se passou, e ela  não voltou.
Somente a onda do mar, comigo ficou... a falar, e a gaivota,
distante, a gargalhar.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Conto poético: DECADÊNCIA

Foi uma autoridade austera...
Um  homem que, em  época de exceção  jurídica, possuía
o poder de vida e de morte, sobre as  pessoas.
Com um pouco de exagero, é claro.
Mas era a arrogância personificada.
Rodeado de seguranças, secretárias, e "carta branca"
para agir.
O fascínio, pelo poder, subiu-lhe à cabeça, quase o
enlouquecendo.
Mas acabou o regime político autoritário, como tudo na
vida acaba.
Envelheceu.
 Sentiu-se odiado, ou tratado com indiferença pelas pessoas
do seu  relacionamento.
Os pseudos amigos se afastaram,e sua esposa faleceu.
Só, resolveu morar num bairro distante.
A solidão logo o dominou.
Chegou a depressão.
Sua consciência  revoltada, o acusava das arbitrariedades.
Suas noites  se transformaram no seu inferno particular.
Numa tarde de sábado, ficou muito feliz, ao receber a visita de um
modesto funcionário que, nas épocas áureas, servia-lhe o cafezinho
no gabinete.
Conversaram durante quatro horas, ou melhor, o funcionário o
escutou durante todo o tempo, fazendo desabafos e contando
histórias do passado.
No final da tarde, ao se despedirem, pediu-lhe que voltasse no
próximo sábado, para continuarem a conversa.
O Senhor Aristides, explicou-lhe que tinha um pequeno serviço extra,
e que iria ganhar cinquenta reais.
O "Comandante ", então,  cobriu a referida importância...
O pacto foi aceito. Virou costume.
O Senhor Aristides, sempre  o visita, e ganha  por isto...
Outras  pessoas , também.
Foi  a única  maneira  de  driblar a solidão, e o  abandono...
Certamente, quando no apogeu, plantou esta situação.
A colheita, não poderia ser muito diferente...

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Conto poético: UMA FORTE DESILUSÃO

Vinte e cinco anos já se passaram.
Digamos chamar-se Anita. Moça muito bonita, criada no
seio familiar, com muito amor.
Como era de se esperar,  no desabrochar da idade, cheirosa
como uma flor de jasmim, conheceu um jovem estudante.
O namoro foi inevitável. A paixão explosiva.
Ela residia no centro desta Capital. Ele, no interior do Estado.
Moço pobre, estudante de universidade pública, logo surgiram
as esperadas dificuldades financeiras, para  frequentar o seu
curso de medicina.
O pai de Anita, homem generoso, desdobrou-se para apoiar o
futuro genro, quem sabe.
Afinal de contas, um rapaz de boa índole.
Seis longos anos de faculdade, e mais dois anos de residência.
Finalmente, casamento marcado.
Anita, era só felicidade. Sua família orgulhosa !
Convites distribuídos, cerimônias sociais agendadas, etc.
O médico, seguidamente, ia à cidade onde residia a sua
família.
Isto se repetia quase todos os fins de semana, alegando
visitar seus familiares. O que era compreensível.
Anita parecia caminhar nas nuvens.
Iria casar-se com o amor da sua vida, que já conhecia havia
quase dez anos.
Presentes, dos convidados e testemunhas, se amontoando.
Faltando, apenas, dezoito dias para a realização da tão
esperada cerimônia, convidou Anita para saírem, pois tinha
um assunto importante para  com ela tratar.
Dentro do automóvel, após muitas explicações, disse-lhe
que não podia levar adiante aquela cerimônia, pois amava,
desesperadamente, outra mulher, em sua terra.
Que esse casamento, realizado, faria três pessoas, pelo
menos, infelizes.
Disse-lhe, ainda, que se ela não pudesse  perdoa-lo,
iria pedir  perdão a Deus.
Responde-lhe, Anita, que não haveria necessidade, ele
já estava perdoado, a partir daquele momento.
Desejou-lhe todas as felicidades, e o dispensou de dar
explicações aos seus pais.
Ela mesmo o faria... e o fez.
Anita está casada com um  homem honrado, e é muito
feliz, na companhia do seu marido, e dos  seus dois filhos,
já moços.

Conto poético: VIZINHO APAIXONADO

Mora ao lado.
Dorme a alguns centímetros da cabeceira da minha cama.
Ouço o barulho do seu chuveiro.
Imagino o seu banho. Deve ser divino...
No corredor do prédio, recebo o seu cordial "bom dia ".
De tanta emoção, mal consigo responder.
Por vezes, tomo o mesmo elevador, apenas para sentir o seu
perfume.
Observo o seu penteado, a  suave maquiagem, e o seu discreto
jeito de vestir, escondendo  aquele corpo de mulher. !
Enlouqueço. Retorno no mesmo elevador, e abraço, no delírio,
todo aquele corpo divino, ainda perfumado...
Satisfaço  minh'alma, mas aumenta o meu desejo.
Penso nela o dia inteiro.
O respeito me sufoca, exige silêncio, segredo comigo mesmo.
Sei quando retorna, pois meu coração dispara, me avisando que
está na hora, de recomeçar o ritual.
Escuto o barulho que faz. Sigo os seus passos, imagino seu
gracioso desfile, trocando as vestes... cantando baixinho, canções
de amor. As mesmas que também canto, nos meus momentos
de pranto, de paixão por aquela mulher.
Certa vez, procurei vencer minha timidez, e olhando-a de frente,
bem fundo nos seus olhos, disse-lhe coisas sem nexo, fiquei
perdido de emoção.
Ela, simplesmente, sorriu, de compaixão, creio.
Mas fiquei feliz. Ela, finalmente, sorriu  só para mim...
Agora, vou ficar  em silêncio, para escuta-la cantando as nossas
belas canções de amor... sou feliz.

Conto poético. PEGADAS NA AREIA

 
A  temporada foi  fascinante !
Pessoas sorridentes, corpos expostos ao sol. Movimentos.
Olhares frontais, outros tímidos, transversais.
Por vezes, maliciosos...
Pessoas que caminham em direção ao norte, outras ao sul.
Mas quase todas caminham, desfilam, mostram-se.
Cumprem um ritual  social. Quem sabe, conquistas.
Agora, a festa terminou, mas deixaram as pegadas  na areia.
E, eu, já sinto saudade.
Em cada marca um sonho, ainda que, apenas, uma procura.
Quem sabe, encontrou.
Espero que sim.
A marca ficou. Somente dois pés delicados caminharam.
Voltaram acompanhados de dois pés mais pesados...
A onda bravia acaba de subir.
Levou, nem sei para onde, todas as pegadas deixadas
na areia.
Irão aguardar, nas profundezas do oceano, seus pés
pára caminhar.
Já sinto saudade  daquele lugar.
Tuas  pegadas, vou procurar no fundo do mar, na
esperança de te encontrar...

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Conto poético: TENACIDADE

O sol brilhava intensamente, nesta Ilha de Santa Catarina.
No alto do morro, uma família, nativa do sul da Ilha, liderada
pelo pai, trabalhava na roça, preparando o terreno para o
plantio de aipim, pois o  momento apropriado, já estava
próximo..
O calor escaldante, parecia derreter a fronte  daquele
jovem, que também ajudava o seu pai na pescaria.
Esta era uma condição familiar, muito comum de se
encontrar naquela região. A luta pelo sustento não dava
trégua.
De onde morava, observava as luzes da Cidade, do
outro lado do mar, e se pôs a pensar.
"Esta vida não me levará a um porto social, diferente
do que, hoje, se encontra o meu pai.
Serei igual.
Um homem digno,porém, demasiadamente pobre e
sem um horizonte".
Após conversar muito com a sua família, mudou-se para
um bairro da periferia desta Capital, com o apoio dos
seus padrinhos., também pobres.
Ofereceram-lhe o único cômodo de que dispunham, ou
seja, uma casa de criança, abandonada nos fundos do
quintal, na qual morava o cachorro.
Seu agradecimento foi comovente. Dormiu, naquela
casinha, todo encolhido,  por sete anos.
Foi o tempo  de que necessitou, para concluir o segundo
grau e, após, prestar vestibular na Universidade Federal
de Santa Catarina, formando-se em economia.
Prestou concurso público numa  empresa estatal, chegando
a diretor, na área  econômica.
No momento oportuno, Valmir casou com uma moça,
muito pobre, do Ribeirão da Ilha, das suas épocas de
menino, onde nasceu e se criou.
E eu me sinto gratificado, de haver conhecido e privar
da sua  nobre amizade. Um homem persistente e vitorioso.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Conto poético: A RECONQUISTA

Neste povoado, onde resido, conheci um  lindo casal de jovens.
O amor de namorados, era bonito de se ver.
O brilho dos olhos dela, iluminava toda esta praia, esverdeando
a imensidão das águas, e colorindo a  densa mata.
Bonita como o por do sol, suave como o frescor da madrugada,
e doce, como um favo de mel !
Não conseguia, ele, esconder a grandiosidade do orgulho, em
haver conquistado tão bela  mulher.
Mas não podia imaginar o que o futuro lhe reservava.
Logo nos primeiros meses de casamento, sua rainha iniciou um
processo de ciume descontrolado.
De tudo duvidava,  estabelecendo hora de saída e de chegada.
Com quem conversara durante o dia. Cheirava a sua roupa,
etc.
Passou a segui-lo pelas ruas do povoado...
Por que havia cumprimentado esta ou aquela mulher ?
Questionamentos, deste nível, eram frequentes.
A vida virou um inferno, para ambos.
A conselhos de pessoas mais experientes, ambos
tiveram acompanhamento psicológico, por um longo
período.
Nada adiantou. Chegou  a inevitável separação.
Muito conscientes, já estavam desta necessidade.
Ela  permaneceu na casa.
Ele arrumou seus pertences, e se mudou para um
bairro distante do seu.
Era um sábado, em plena primavera.
Ao despertar, lá por volta das nove horas,  preparou
seu café, para a primeira refeição do dia.
Pensava em tudo o que havia acontecido em sua
vida. E ainda não acreditava no resultado final.
Lamentava profundamente. Estava sem rumo e sem
paz.
Apenas uma  noite de separação.
Parecia uma eternidade...
Ouviu uma  delicada  batida à porta. Seu coração
disparou.
Ao  abri-la, quase foi sufocado por dezenas  de
beijos, e uma chuva de lágrimas e flores, pedindo-lhe
perdão.
O tempo passou. Os anos são testemunhas.
Formam o casal mais feliz, deste lindo povoado !

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Conto poético: A PROFESSORA QUE NÃO SORRIA

Bela, inteligente, e ótima professora da língua
portuguesa.
Extremamente responsável, adorava a carreira que
abraçou, com muito amor.
Sempre me chamou a atenção, o fato de jamais
sorrir.
não me parecia normal, já que possuía dentes
bonitos, aparentemente.
Com o decorrer da amizade, tive a liberdade de
perguntar-lhe  por que não sorria.
Disse-me que era uma mulher  feliz, ao contrário
do que muitos amigos pensam, mas que o seu
sorriso está na alma, e nos sentimentos.
Além do mais, não aprendeu a sorrir, como as
demais pessoas.
Não me convenceu. Nunca soube que pudesse
existir alguem que só sorrisse com a alma...
Por coincidência, sentei-me ao lado da sua avó,  por
 quem foi criada, numa festividade de final de ano.
Delicadamente, toquei no assunto.
A senhora me disse que ela foi noiva, quando ainda
muito  jovem, e que o seu noivo era demasiadamente
austero. Não permitia  que sorrisse, pois isto não
era  coisa para uma mulher comprometida.
Certo dia, a repreensão foi tão séria, que ele terminou
o noivado, e ela nunca mais sorriu, certamente na
esperança de reconquistá-lo.
"Ela não admite este fato como verdadeiro. Mas
sempre foi uma moça sorridente, até então".
Em seu velório, esboçava um sereno sorriso...

Conto poético: O VALENTÃO DO POVOADO

Uma comunidade só de pescadores, e pequenos
agricultores.
Pessoas da melhor espécie, humildes e  educadas.
Porém, no meio de todos estes bons princípios,
surge um  filho, naquele povoado, completamente
na contra mão dos demais.
Cresceu pescando, não frequentou  escola, nem a
igreja.
Tinha poucos amigos, pois encrencava com todos.
Um ótimo pescador. Muito cedo embarcou na pesca
em alto mar, viajando por toda a costa brasileira.
Forte e bonitão, era o dono da moçada do povoado.
Por ter um bigode avantajado, logo lhe deram o apelido
de "bigode".  Quase todos esqueceram do seu nome.
Quando acontecia um baile na freguesia, Bigode entrava
no salão, a cavalo, esporeando o animal e acabando com
a brincadeira a relhadas.
Era o verdadeiro demônio, vestido de gente.
Ao  se programar uma festa, a preocupação era  saber se êle
estava por perto, ou em alto mar.
Todos o temiam, pois até arma de fogo carregava à cintura,
e não era para bonito, não.
Finalmente, casou, teve seis filhos, todos muito calmos e
bem educados, pela mãe.
Sempre conversamos sobre esses assuntos. Fazia-me rir,
com as suas histórias.
Há poucos dias, estive com ele. O tempo o venceu.
Envelheceu, o bigode, de que tanto se orgulhava, não é
mais o mesmo. Está ralo e branco.
Magro e  enfrentando uma diabete violenta. Cortaram-lhe parte
do pé. Anda mancando e de bengala.
O cavalo, que tinha o nome de "diablo ", morreu, faz tempo.
Disse-me que foi muito feliz... mas com os olhos mareados...
Não sei se de saudade, ou de arrependimento.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Conto poético: CANJA DE POMBOS

Provavelmente, herdado dos Açorianos, era  hábito,
entre os moradores desta Ilha, fazer  canja de pombos,
para "abrir o apetite ", quando alguém convalescia de
alguma enfermidade, e não queria, ou não podia, se
alimentar.
Acreditava-se que isto induzia o enfermo, voltar à
regularidade da sua alimentação.
Muitas  famílias criavam pombos, até para este tipo
de  alternativa.
Assisti uma senhora pobre, pedir ao meu vizinho um
pombo para esta finalidade, já que o seu filho estava
muito enfermo, e sem se alimentar havia alguns dias.
Prontamente  o vizinho pegou um no pombal, cortou
as suas asas,  entregando-o àquela pobre mulher,
que residia no alto do Morro da Cruz, no centro desta
Capital.
Isto acontecia com a maior naturalidade, sem
qualquer cerimônia, ou compaixão do pássaro.
Apenas o filho do dono do pombal, ficou magoado,
pois  foi escolhido o seu pombinho de estimação, sem
saber.
Uma semana após este fato, o menino brincava à frente
da sua casa, quando viu o seu pombinho descendo o
morro, andando, e entrou em seu quintal, com sede e
com muita fome.
Certamente, caminhou durante muitas horas, já que
percorreu uma distância de, no mínimo, dois quilômetros.
Lembro-me que houve muito choro naquela casa, em
razão da forte emoção da  criança, dona do pombinho.
Este hábito cessou, bem como a criação de pombos nas
residências.
Estigmatizou-se que transmitem doenças. Será verdade ?
Mas eles sobrevivem, embelezando as praças públicas,
com a  sua dança  cortesã e vôo graciosos !

Conto poético: UMA DIFÍCIL DECISÃO

Estudo noturno. Uma academia de comércio, no centro
desta Capital. Década de sessenta ( 1962).
Uma turma de belos jovens. Homens e mulheres, repletos
de planos para um futuro muito promissor.
Quase todos solteiros.
Uma jovem esbanjava beleza e sedução, chamando a
atenção de todo o estabelecimento escolar.
Embora assediada, pelos  rapazes daquela turma, e de
outras também, não manifestava a menor correspondência
afetiva aos galanteios.
Surgiu um professor interessante, no segundo semestre do
ano letivo.
Também muito jovem, simpático, inteligente e culto.
 Rapidamente conquistou  toda a turma. Amigão dos alunos.
A moça bonita,  logo mudou o visual. Roupas mais ousadas,
cabelos modificados, pintura na face... estas coisas naturais,
quando se tem interesse por alguém.
Atirou-se para cima do professor,  de tal forma, que chegou
a provocar uma ciumeira geral, pois todos se sentiam, um
pouquinho, namorados da  beldade.
Insistências daqui e dali, e nada. Nenhuma decisão por parte
do professor.
O homem balançou em sua fé, pois  se tratava, nada menos,
de um padre, e muito respeitado, não obstante  estar no início
da sua vida sacerdotal.
Teve uma conversa séria, com a moça, no interior da  Catedral.
Dizem que olhou para o Cristo Morto, e para a face daquela
linda mulher, tomando a decisão de permanecer em sua fé,
no que foi, dignamente,  respeitado pela moça.
Muitas décadas depois, encontrei com aquele padre, numa
solenidade  de final de ano. Relembramos muitas coisas do
passado, e ele me tocou neste assunto, com os olhos
mareados, abraçando-me emocionado...
Não encontrei muitas palavras para consolá-lo.
Disse-lhe, apenas, que admirava muito a sua fé, e que nunca
o esqueci, nem deste episódio... aí, sim, chorou...

Conto poético: ILHA DO MATA FOME

 Próximo à praia onde vivo, avisto uma pequena ilha,
batizada de "Ilha do Mata Fome ".
Os pescadores  assim a denominam, em razão de sempre
pegarem algum peixe, por lá.
Fico a admirar o seu belo relevo, e a imaginar como seria
bom permanecer algumas horas naquele lugar.
Por generosidade de amigos pescadores, fiz a travessia
pela manhã, e retornei no final da tarde.
Permaneci, naquela ilha, por sete horas.
Tempo suficiente para vivenciar uma experiência impar.
Falei com   Deus.  Reassisti todos os filmes da minha
vida. Conversei com as pessoas queridas, que já partiram
deste mundo, e com as que  ainda estão por aquí.
Escutei  o mar conversando com os rochedos e, até,
interpretei o que diziam.
Senti um vento diferente, chegando livre, após percorrer
a vastidão do Oceano Atlântico.
Observei a  vegetação e a fauna. Como são bonitos e
graciosos, os pássaros marítimos que lá vivem.
A paz estava presente naquele lugar, bom para se
amar...  um verdadeiro paraíso.
Cheguei a sentir pena da vida melancólica, de Adão e
 Eva.
Tem tudo para fazer um ser humano  feliz.
Viveria, lá, de costas para todas as parafernálias criadas
pelo homem.
Agora, já em terra firme, olho para aquela ilha, e vejo o
quanto me enganei, ao imaginar que aquele lugar  fosse
o paraíso.
Nada disto. É o verdadeiro céu, pois consegui falar com
Deus, comigo, com as pessoas que amei, e com as que
amo... embora só.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

conto pético: AMOR PARA SEMPRE

Conheci uma mulher de pescador,  no mínimo, admirável.
Analfabeta e sábia.
Amou o seu homem, como poucas mulheres deste mundo
de Deus.
Mãe de três filhos, duas meninas e um menino.Sem contar
com os que não se criaram.
Seu marido saía para o mar, buscar o sustento, e ela
cuidando da casa e da prole.
Bens materiais, nenhum.
Mas era a mulher mais feliz da face da terra.
A pobreza, não lhe causava tristeza.
Amava a sua família, o seu grande tesouro.
Cheia de sentimentos, delicada e educada.
Humilde e submissa, não imaginava o que a vida lhe
reservava.
Ainda jovem, com 24 anos, o seu  homem o mar levou,
para nunca mais voltar.
Com os seus três filhos, enfrentou a vida.
Vestiu-se toda de negro, luto fechado, nunca mais olhou
para o lado.
A sua frente, um único objetivo: Criar e educar os seus
filhos.
Mulher guerreira e  honesta.
Morreu aos  cento e quatro anos, cega de ambos os olhos.
Oitenta anos, vestida de negro, sem jamais haver conhecido
outro homem, e sem tirar o luto, sequer, um minuto.
Um orgulho incomensurável para a família Sagaz, nesta
Praia dos Ingleses, Ilha de Santa Catarina, com  tantas
histórias, quem sabe, parecidas com esta,  para relatar.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Conto poético: A FESTA DAS FEITICEIRAS

A boataria correu solta na Praia dos Ingleses, nesta
Bela Ilha de Santa Catarina.
Anos de 1950. O povoado de pescadores, sem
energia elétrica e qualquer meio de comunicação,
além da via marítima, vivia isolado.
Qualquer novidade, na comunidade, era um "prato
cheio ", para os comentários de toda a semana.
Em, plena madrugada, um pescador vinha da sua
vigília, na safra da  tainha e, ao atravessar as dunas,
no canto da praia, já com medo, diz haver ouvido
frenéticas  gargalhadas, parecendo feiticeiras.
Em conversas na vendinha, onde se reuniam  os
pescadores, ficou confirmado o acontecimento
por outros homens, também, assustados.
Os mais velhos afirmando  que, nessa época do
ano, próximo à pesca da tainha, as feiticeiras
festejam a proximidade da safra, rindo e se divertindo.
Criou-se um pânico generalizado.
Ninguém mais queria saber da pesca, durante a
madrugada.
Nem mesmo o vigia, comparecia ao seu posto de
observação dos  cardumes.
A conversa chegou aos ouvidos do padre da capelinha,
que resolveu interceder.
Convidou dois homens corajosos para irem ao local.
Somente um se prontificou....
Lá foram os dois, o padre e um pescador herói.
Aproximaram-se do local, rastejando nas dunas e,
realmente, ouviram por trás dos montes de areia, as
descontroladas gargalhadas, que arrepiaram, até mesmo,
o padre.
Do pescador não se pode dizer nada, pois, no primeiro
ruído das feiticeiras, saiu em desabalada carreira, nem
mais olhando para trás. Que vergonha !
Na missa das 10h, o padre fez o seu comentário, dizendo
que as gaivotas mandaram lembranças, aos corajosos
pescadores daquele lugar, e que não gostam de interferência,
quando estão namorando...

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Conto poético: COMO SE ROMPE UMA TRADIÇÃO

Lindo de se apreciar, era aquele namoro entre dois jovens
colegiais.
Em plena  adolescência, nos anos passados, desfilavam
ã frente da escola pública, quase enlouquecendo os
professores, encarregados da disciplina.
Considerado um absurdo,  esta atitude, nos "anos  50 ".
Chamava a atenção de todos os alunos do colégio, o fato
de andarem de mãos dadas. Não podia.
Até queixa havia, junto à rígida Direção. Discriminação,
também. Que escândalo !  Quantas críticas. Deus do
Céu.
Lecionava, naquele mesmo colégio estadual, um professor,
bem novinho,e solteiro. Um bom partido para as moças,
também, solteiras.
O professor, alegre, simpático e admirado, começou a ser
conquistado por uma aluna, extremamente atraente e ,
digamos, de costumes avançados, para aquela década.
Este fato levou os velhos professores, desta vez, ao hospício.
A Cidade era pequena demais, e a boataria correu solta.
A aluna, em pleno horário de aula, oferecia lanchinho ao
professor, que lhe retribuía com sorrisos e gracejos.
A saia dela, cada vez mais curta... e os olhos do professor,
cada vez mais compridos.
Bem, o casalzinho de adolescentes, nem precisa esclarecer.
Foi completamente esquecido.
O foco, agora, era em cima  do pré-namoro entre um professor,
e uma aluna de curso ginasial.
O colégio quase foi detonado... e a menina se sentiu a rainha
daquele estabelecimento escolar, até então, respeitabilíssimo.
Suas notas, na matéria daquele professor, foram às alturas.
Incrível o processo de sedução...
Não teve volta. Casaram-se, e os comentários, claro, cessaram.
Largaram de mão os pobres adolescentes, que passaram a namorar
livremente.
E os demais, também.

Conto poético: PAIXÃO INSANA

Senti-me às portas da loucura. Estava fascinado por
aquela alucinante beleza de mulher.
Nada podia ser comparado. Absolutamente, nada.
Seria impossível  descrever as razões de tamanha
paixão.
Este sentimento, não pode ser explicado.
A fragilidade, da minha mente se apossou, e nem
mesmo a dignidade restou.
De cada cinco encontros  programados, quatro eram
frustrados.
Felizmente, há limites  para este sofrimento.
Hoje, até acho graça, daquela desgraça, ao recordar
um dos episódios.
Ansioso, chego ao local combinado, no  horário
marcado, sonhando com a cesta de pecados, pois
nada poderia ser mais importante, do que  o momento
planejado.
Doce ilusão. Permaneci no automóvel, olhando no
espelho retrovisor, das 14 às 20 h.
Foram seis horas de  louca espera, levando sustos
a cada minuto, por achar um vulto parecido com ela.
Claro, não chegou.
Foi maravilhoso... tive tempo para refletir...
Foi o dia mais importante  de tudo aquilo.
Antes de ir embora, me olhei no rosto, pelo mesmo
espelho retrovisor,  e pude ver  a imagem de um
homem renascido, que reencontrou a sua dignidade,
e já  com forças para dar um basta,  "nunca mais ".
Somente a experiência, teimosa,  permaneceu.

Conto poético: UMA SURPRESA MARAVILHOSA

A noite fria de outono, levou-me mais cedo ao leito.
Só, meditando, não consigo deixar de escutar o vento,
assobiando  na galhada do pessegueiro, parecendo
derrubar o mundo inteiro.
Minha cadeira de balanço,  esquecida na varanda, não
para de se mexer, parecendo embalar uma alma penada.
Penso nos passarinhos e nos demais animais. De que
maneira se protegem do vento, e deste frio tão intenso?
São mais fortes do que eu, certamente.
A solidão logo me remete às doces lembranças, momentos
especiais, e que me fazem feliz. Realmente, feliz.
Agora,  chega a saudade de mansinho, ocupando as minhas
madrugadas, falando ao meu ouvido bem baixinho, não me
deixando dormir.
Converso com ela, pois escuto a sua voz, e até o seu sorriso
amado, posso jurar, mesmo de olhos fechados, sinto em meu
corpo  tocar.
Acaricio sua bela face, beijo seus lábios vermelhos, que
molduram o rosto inteiro e, já descontrolado, grito o seu  nome,
para o meu Deus escutar.
Creio haver perdido a razão, pois escutei as batidas do meu
coração, pedindo para ela entrar.
Abri a porta da minha casinha, para atender as ordens deste
 louco sentimento, e la estava ela, sentada  naquela cadeira
de balanço, ao vento, sorrindo e de braços abertos, pronta
para me amar....

domingo, 12 de fevereiro de 2012

conto poético: ANGÚSTIA

Dias, meses e anos, somente  observando aquela linda mulher....
Passava à frente de minha casa, irradiando beleza, acendendo
os meus desejos, já  fora de controle.
Faltava-me coragem para uma aproximação, apenas uma palavra
de confissão.
Ao cair da tarde, lá estava eu, a esperá-la, só para  ve-la passar.
Sua simpatia me envolvia, me dominava...
Tomei coragem. Ofereci-lhe uma rosa amarela, como símbolo
da minha observação.
Sorriu. Agradeceu. Passou a me cumprimentar. Mais sorrisos...
Não aguentava mais aquela  distância. Precisava falar-lhe.
Queria saber quem era, o seu nome. o que fazia, onde
trabalhava, etc.
Estava cego de paixão, mas  minha timidez me impedia de
uma maior aproximação.
Tomei coragem. Nem sei onde a encontrei.
Pedi-lhe uma chance de com ela conversar. Aceitou.
Encontro marcado, para o dia seguinte.
Escolhi  o traje, treinei as palavras, lavei  o automóvel,
não consegui dormir. Foi a noite mais longa  de toda a
minha vida.
A angústia me dominou. Mas era o homem mais feliz
do planeta. Que sensação, meu Deus.
Trinta minutos antes da hora combinada, lá estava eu,
com a música já "engatilhada", para recebe-la.
Não faltou chocolates, nem ramalhete de lindas rosas.
Não dava conta de enxugar o suor da face e das mãos.
Procurava me controlar, e não conseguia.
Era muita  emoção.
O ponteiro do  meu  relógio bateu em cima das 21 h.
Estaria chegando neste horário...
21,10,  21,20,  2130,  22.00 h...
Um dia, um mês, um ano se passou e, infelizmente, nunca
mais a vi.
Nenhuma notícia tive daquela mulher.
A decepção tomou conta da minh'alma.
A angústia, que sofri, não pode ser medida... apenas
sentida. Doeu !
Assim terminou o que nunca, jamais, começou.
Que pena, meu Deus. Que pena !

Conto poético: CONFISSÕES DE UM VELHO PESCADOR

Tive a feliz oportunidade, de privar da amizade de um velho
pescador.
Simplesmente,  maravilhoso.
Um sábio. Analfabeto. Coração puro, como a mais cristalina
das águas.
Cada palavra pronunciada, uma lição de vida.
Deveria ter percorrido  as escolas daquela comunidade,
para palestrar aos jovens. Teriam aprendido muito  com aquele
homem, que já havia ultrapassado a barreira dos noventa anos
e com uma lucidez  incrível.
Num final de tarde, em plena primavera, frente ao mar do Oceano
Atlântico, aqui, nesta Praia dos Ingleses, na Ilha fantástica de
Santa Catarina, tive  a generosa oportunidade de sentar-me ao lado
do Senhor Antônio Bananeira, e escutar as suas confissões pessoais.
Foram muitos os desabafos, com o chapéu de palha sobre os joelhos.
Disse-me sentir vergonha de jamais haver frequentado uma
escola, para aprender a ler e escrever, pois admirava muito
as pessoas que abriam um livro, e falavam o que lá estava escrito.
Comentou sobre as suas frustrações amorosas, pois a mulher
que tanto amou, nunca soube da sua paixão, e acabou casando
com o seu melhor amigo.
Com isto, tem sofrido durante mais de setenta anos, pois todas
as vezes que a vê, ainda sente "uma facada no peito ".
"A mulher, com quem estou casado, é uma santa. Mas eu queria
era uma mulher, não uma santa".
Foi um casamento sem filhos, pois sua mulher não conseguiu
engravidar. Isto foi acontecer com ele, que tanto adora crianças.
Desejou, a vida inteira, organizar uma empresa de pesca, mas
sempre foi desencorajado, por seus amigos e sua mulher.
O tempo passou, sentiu-se velho e sem forças para levar à frente
o seu projeto.
Apesar destes desencontros da vida, se considera muito feliz,
pois descobriu que ama muito o mar, os pássaros marinhos, o
barulho das ondas ao quebrar na praia.
"Creio que não conseguiria chegar na idade,  em que cheguei,
se não houvesse vivido nesta terra, à beira-mar. É uma paixão sem
fim ".
Recolocou o chapéu de palha à cabeça, com os olhos mareados...
Hoje, passeio só pela praia.
A gaivota passa, gorjeia no alto do céu, como a perguntar pelo meu
grande amigo...
Cada onda que quebra na praia, me traz as mais fortes recordações
daquele homem.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Conto poético: A MULHER QUE TANTO AMEI

Não sei se veio da terra, ou do céu.
Tinha o perfume das rosas, na cor do pecado.
A suavidade da madrugada,  parecendo o  sereno das noites
frias.
O brilho prateado, a provocar o sabiá  seresteiro, que cantava
na noite e, também, o dia  inteiro...
As corredeiras, de águas fresquinhas, saíam  das cachoeiras,
para os seus pés banhar.
Aquela casinha, tão bonitinha, cercada de flores, tinha o mais
lindo pomar.
A fruta era tanta, que ninguém dava conta de apanhar.
Nesse lindo lugar, viveu o  meu  amor, cercado de flor, e de
passarinho a cantar.
O paraíso era o meu vizinho, pois até quem vivia no céu, vinha
me  visitar.
Descobri que o silêncio da noite, não podia ser quebrado,
para o  sono dela ser respeitado.
Aquela bela mulher,  inspirou poetas apaixonados e que,
alucinados, a  levaram para outro lugar.
Agora, no pomar, só saudade.
O beija-flor  branquinho, todos os dias me  faz um carinho,
querendo o meu pranto secar.
O sabiá do peito amarelo, aquele seresteiro, que cantava o dia
inteiro, somente na madrugada, ouço o seu gorjear.
Da tua presença, nada restou.
Apenas a dor, tomou conta deste lugar...

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Poema: NÃO CONSIGO TE ESQUECER

Senti-me profundamente amado, como nunca.
Os teus encantos, me envolveram num sonho de profundo
amor.
Procuro retirar das minhas lembranças, o teu doce sorriso,
a ternura com que me olhavas, e a delicadeza das palavras,
que pareciam perfumes de rosas,  com minh'alma a conversar.
Até os espinhos  eram  cheirosos...
Estou abraçado à dor, e às  memórias do tempo que não
passou.
Ainda  ouço, ao  longe, as gargalhadas da torcida infernizada,
parecendo  o meu  peito esmagar.
Para aumentar o meu sofrimento, ficou comigo o teu
alucinante aroma de mulher...
Invisível, mas fortemente presente, conversa o dia inteiro
com a minha mente,  falando de saudade e de amor.
Canta, ri, e chora, se negando a ir embora, pedindo para
ficar.
São como rosas e tulipas, enfeitando  o leito com fitas, para
um grande amor deitar.
Fecho as portas e as janelas, temendo a partida dela, e do
meu sono acordar.
Ah, faceiras  lembranças, que alimentam  a esperança, de um
dia ela voltar...

Poema:: SEM DESTINO

Sigo meu caminho.
Sem destino, é verdade. Mas sigo.
Observo às margens,  um cenário  a cada momento.
Não lamento. Apenas observo.
Vejo flores e espinhos, a minha frente desfilar.
No horizonte, sem fim, o meu marco de descanso.
Quanto mais distante  estiver a montanha, mais  próximo e
suave será o meu caminho.
Mais tempo tenho para pensar...
É bom caminhar, sem destino, e sem  marca para
chegar. Apenas caminhar, sem destino.
Agora, já muito longe, ouço ainda o cão que ladrava, quando eu
passava. Mais à frente, outros virão.
Todos ladram.  Não me conhecem, eu sei.
Aproveito o tempo para sentir o perfume das flores, e o belo
canto dos pássaros. Não custam nada.
Encontro  pessoas.
Algumas me olham e cumprimentam.
Outras nem me vêem...
Mas eu as vejo. São como eu, seres humanos, com virtudes
e com defeitos.
Talvez mais virtudes. Talvez mais defeitos.
Avalio, apenas, a minha consciência.
Cada vez, fico mais longe de onde parti, e mais próximo de
onde nem quero chegar ...
Apenas caminhar. Sem destino... esquecer aquele lugar.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Conto poético: HOMENAGEM À MULHER

Procurei, no dicionário,  uma palavra apropriada
que pudesse definir a mulher.
Não encontrei.
Fui ao fundo dos meus  sentimentos, mas só
encontrei sinônimos de amor, carinho, compreensão,
etc.etc.
Tudo isto é muito pouco, para um ser divino.
Recorri, então, ao universo.
Procurei  nos astros.
De  todos,  ouvi  a mesma resposta, muito
vaga... "fala com um poeta ".
Falei com todos os poetas da face da terra.
Rebuscaram, em seus alfarrábios, uma
doce definição de  MULHER.
Aguardei por toda a minha existência, uma
palavra, pelo menos.
Nada  ouvi...
Certa noite, sonhei o mais lindo dos sonhos.
As flores falavam, conversavam entre si, muito
animadas.
Estava ali a minha grande chance.
Com toda a delicadeza, dirigi-lhes a palavra,
perguntando-lhes como definiriam a MULHER,
este ser tão maravilhoso !
Entreolharam-se, e sem exitar, responderam
como num canto de coral :
"A  MULHER é a nossa essência, o nosso
mágico perfume..., a  alma dos nossos
jardins..."
Finalmente, fiquei satisfeito e muito feliz !

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Poema: O PERCURSO DO AMOR

Desconhecendo os caminhos, procuro nas trevas as fontes
de que tanto necesssito, para saciar a sede dos meus
ardentes desejos.
Sinto o cheiro da água fresca, límpida e transparente.
Antes, extasiado,  admiro  os caminhos por onde passo.
Observo as delicadas curvas, e o relevo  acentuado.
Ofegante, me controlo para não  me afogar na bela fonte,
que até a relva foi  ceifada, por ordem da minha amada.
Cada gota, tem que ser sentida, para relembrar a beleza
da vida, aonde  tudo começou.
Agora, ouço uma voz confusa, falando coisas repetidas,
implorando para  beber mais.
Aumenta minha sede, e desesperado com toda aquela
magia,  banho minh'alma no mais puro amor !
Procuro, nas delicadas montanhas visinhas, o alimento
de que tanto me servi ...
Saciado,  sigo o meu caminho, em obediência ao doce
chamamento.
Sem  oferecer nenhuma resistência, me entrego ao mais
acolhedor abraço.
Não percebi, mas no caminho que percorri, fui seguido pelo
delírio da mulher, dona da fonte em que tanto bebi, gritando
coisas  que até ouvi, pedindo para ficar...

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Poema... NA TRILHA DO AMOR

O Universo me apresentou um ser, quase divino.
Enfeitiçou-me  e me fez chorar, de alegria, de dor, e de
saudade...
Tão formosa, que pensei haver sido um sonho.
Seu sorriso, estampado naquele rosto, tão bem esculpido,
mais parecendo uma obra de arte, inspirada na essência da
vida, e no aroma do amor.
Mesmo à distância, pelas circunstâncias, me faz feliz.
Basta fechar os olhos, ou adormecer, do seu abraço me
faço merecer.
Percorro uma sagrada trilha. Beijo os seus delicados pés,
e me oriento pelos  gritos e gemidos, que não consegue
calar.
Paro nas fontes, para saciar a sede. Não tenho pressa.
tenho todo o tempo, para apreciar....
Só um destino me aguarda.
O aconchego do seus braços, me abraça.
O calor dos seus lábios, me  aquece.
É  a minha nutrição, fortalecendo de alegria o  meu coração,
quase explodindo de tanta emoção, ao percorrer as trilhas
macias dos seus encantos, linda mulher !
Mudo de direção, caminho, agora, pelas encostas e aprecio
a beleza dos relevos.
Mesmo sem a luz do seu olhar, prossigo a minha caminhada,
na certeza dos seus lábios encontrar !
Finalmente, chego.  Sedentos de amor, me amam, me beijam
com a ardência de uma  alucinada paixão, de quem sentiu o
meu caminhar,  pelas trilhas do mais puro amor !

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Conto poético: UM PAI MUITO RESPONSÁVEL

Tive um colega de trabalho, inesquecível por suas qualidades.
Vitoriano de Souza, um homem simples e extremamente humilde,
inteligente e dedicado ao seu trabalho, como administrador.
Sensato,  jamais o vi tomar uma decisão precipitada.
Casado, já com cinco filhos, sua mulher, novamente engravidou.
A fatalidade estava abraçada, ao destino daquele homem.
Uma gravides com sérias complicações de saúde, exigiu a vinda
de sua esposa para um tratamento  nesta Capital, em hospital
com maiores recursos.
Nada adiantou...
Cinco filhos pequenos, e somente ele, pai, para criá-los.
Situação embaraçosa  para qualquer família.
Quando "baixou a poeira", perguntei-lhe o que pretendia fazer, dali para
frente.
Respondeu que a prioridade era  educar os seus filhos, orientando-os
para a vida.
Novo casamento, nem pensar., naquele momento. Isto poderia trazer
complicações na educação dos seus filhos, prioridade absoluta em
sua vida.
Os anos se passando, e Vitoriano cuidando dos seus filhos.
Todos bem encaminhados e casados, num período de mais de vinte
anos.
Vitoriano se mudou da sua cidade e veio para o litoral, onde conheceu
uma professora, já aposentada, do mesmo nível seu, de educação.
Aí, sim, não pensou duas vezes. Casou, e me confessou que é o
homem mais feliz do mundo.
Abracei-lhe, emocionado, parabenizando-o pelas  várias conquistas...
Sem dúvida, merecedor de um troféu, quem sabe de , no mínimo,
"o grande pai ".

QUASE UM TESOURO

 Tive a oportunidade de presenciar uma cena , no mínimo,
inusitada.
A reação humana, diante de certas situações, é  imprevisível.
Nos fundos de um terreno, onde há muitos anos passados,
existia um velho engenho de farinha, certamente o mais
antigo da região, conversava  com  dois operários, que
executavam um serviço de  construção civil.
Falava sobre a inexistência de bancos comerciais, o que
levava os habitantes esconder os seus valores, como dinheiro
e objetos, em vasilhames, como panelas de ferro e cerâmica,
enterrando-os em locais seguros.
Daí, em diante, a imaginação tomou conta da conversa.
Hipóteses  de potes cheios de moedas, panelas com jóias,
etc, tudo enterrado e perdido no tempo, em razão da morte
de quem assim procedeu e que, por segurança, não  contava
a ninguém o localização do esconderijo.
Muitas destas histórias são verdadeiras.
Pois não  é que, repentinamente, a pá, removendo areia de um
buraco,  com profundade de, mais ou menos, oitenta cenímetros,
bateu em um objeto metálico ?
O silêncio foi absoluto.
Os operários se entreolharam, pálidos e sem fala.
Também fiquei muito curioso, mas  tentei acalmá-los.
Com muito cuidado, contornamos o objeto metálico, que parecia
ser uma velha panela de ferro.
E, realmente, era uma panela de ferro fundido, bem rústica e muito
pesada.
Com todo o cuidado, e as mãos trêmulas dos operários, foi removida
para cima do buraco.
Coube-me o privilégio de abri-la.
Fiz alguns comentários, de fundo espiritual, em respeito à pessoa que
a enterrou e, depois, removi a tampa, que já se encontrava bastante
danificada pelo tempo, pois era bem mais fina que a estrutura daquela
peça.
A emoção foi geral. O nervosismo, real.
Pude observar a reação de cada um . A panela poderia estar repleta de
 moedas de ouro.
Dentro da panela, trapos de pano, parecendo haver servido de embalagem
para alguma coisa valiosa, como dinheiro e eventuais jóias.
Nada mais.
Fora da panela, muita imaginação, e uma grande decepção... que pena.
 
 
 
 
 

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Conto poético: FELICIDADE ESCRAVA

Segunda metade do século XIX.
Chega o dia mais  esperado. O fim do escravagismo.
O mundo exigiu. O Brasil, finalmente, cumpriu.
A  fazenda agrícola, Ferradura Grande, no interior da Capitania de
Pernambuco, contava com  uma senzala de mais de 200 escravos.
Com a liberdade concedida, e anunciada pelo próprio "Coronel "
Policarpo Junqueira, aquela senzala entrou em festa por três dias e
três noites.
O escravos dançaram, cantaram e beberam, alegremente, sentindo,
pela primeira vez, o doce sabor da liberdade oficial.
No final, o silêncio. Dormiram, sem parar, durante 24 h.
Na "casa grande ", o Coronel Policarpo, conformado com os novos
tempos,  imaginava o que deveria fazer para continuar as suas atividades
econômicas, sem o braço escravo...
Sentiu-se o homem mais fraco do universo...
Repentinamente, ouviu alguém bater palmas à frente da sua varanda.
Era um grupo de  oito escravos e escravas, querendo  conversar com o
Coronel que, gentilmente e como sempre, pediu que sentassem  e se pôs
a escuta-los.
Disseram que a alegria em seus corações era imensa.
Mas a liberdade que ganharam, com a lei, já tinham, ali, há muito tempo,
na fazenda do coronel Policarpo, que sempre foi bom para toda a senzala,
e que a prova disto é que jamais houve fugas de escravos.
Dizem, até, que já houve  o aparecimento de dois escravos de fazendas
vizinhas, pedindo abrigo em sua  senzala.
O coronel pagou pelos escravos fugitivos, e ficou com eles em sua
propriedade.
Todas estas conversas renasceram naquele encontro, em forma de
reconhecimento.
O Coronel Policarpo, com lágrimas rolando pela face, visivelmente
emocionado, abraçou aqueles homens e mulheres e disse-lhes que,
este reconhecimento, foi o maior presente que recebeu em todos os
seus 65  anos de existência, e que, daquela data em diante, todos os ex
escravos de sua fazenda, trabalhariam em conjunto com ele, e que a
metade de tudo o que viesse a ganhar, seria dividido com a senzala.
Claro, a proposta foi aceita, imediatamente.
A festa recomeçou  e durou mais dois dias.
E, desta vez, o Coronel Policarpo, sua mulher e os seus seis filhos,
dançaram até o amanhecer, festejando o fim da brutalidade, e o começo
de uma nova sociedade, aonde a cor seria, somente, a do amor !

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Conto poético: O MISTÉRIO DA SOMBRA DUPLA

Conheci um vilarejo de pescadores, situado nesta Ilha
de Santa Catarina,  formado por gente simples, com
usos e costumes contagiantes.
O modo de falar, a culinária, a educação, enfim, tudo
é muito diferente.
As mulheres são belas, bem educadas e  atenciosas.
Os homens são pescadores, por tradição, ou
professores, por vocação.
Havia uma família que o pai era professor, e os seus
doze filhos, também.
Pessoas generosas, que traziam informações úteis da
cidade grande, e as repassavam para  a comunidade.
Lígia, uma das filhas, era extremamente bela, dotada
de  excelentes predicados.
Na flor da idade, ao desabrochar todo o explendor da
juventude, foi estudar na capital.
Como era de se esperar, um jovem por ela se apaixonou,
pois os seus encantos eram  irresistíveis.
Mas o seu coração estava no vilarejo. Um pescador, que
ela conheceu  quando  menina.
O jovem estudante, não suportou a rejeição... nunca mais
foi visto.
Surgiu, então um mistério. Lígia passou a ter duas sombras,
quando exposta à luz solar, ou  a forte luminosidade.
Isto a assustou.
Muitos boatos correram naquela comunidade
O mais  constante, era o de que a segunda sombra, representava
o espírito daquele jovem.
Quando Lígia se casou, com o pescador Valdir, como que por
encanto, a segunda sombra desapareceu, para sempre.
Outra grande coincidência,  é que o jovem apaixonado, também
se chamava Valdir, e tinha a mesma idade do homem com quem
se casou. Até  um sinal, na orelha esquerda,  ambos possuíam...
Lígia, no dia do seu casamento, recebeu um lindo ramalhete de
rosas vermelhas, com um cartão, felicitando-a pelo enlace, mas
sem mencionar o nome do remetente.
Chorou copiosamente, e guarda todas as pétalas, já secas, até hoje...
.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Conto poético: A SABEDORIA DE UM VELHO PESCADOR

 
 
 Conheci um velho pescador, no mínimo admirável.
Custódio, era o seu nome. Vivia aqui, nesta Ilha
encantada de Santa Catarina.
Já com idade avançada, não mais participava dos
trabalhos da pesca. Mas prestava um serviço
inestimável à comunidade pesqueira daquela região.
À época, não existia energia elétrica no interior desta
Ilha. Até o transporte era feito via marítima, pela falta
de comunicação rodoviária.
As dificuldades, então, eram imensas. Daí, uma das
razões de tanto analfabetismo, já que escolas , também,
inexistiam.
O Senhor Custódio era um sábio. Aprendeu prestando
atenção na vida. Observando tudo o que se  passava ao
seu redor.
De tudo entendia um pouco, e do tempo, tudo
Até parto chegou a fazer. Os dos seus filhos.
Era um homem sábio, paciente e atencioso para com
as angústias alheias.
Mas a sua grande marca, estava na previsão do tempo.
Ninguém, daquela colônia de pescadores, saía para o maar,
sem consultar o Senhor Custódio.
Ele olhava para cima, em todas as direções, observa o mar,
o vento, o balanço e a frequência das ondas.
conferia a cor das montanhas, molhava as mãos, nas aguas do
Atlântico, passando-as no rosto, cheirando e, depois, dava o seu
diagnóstico, com a certeza de um verdadeiro cientista:
"Podem ir, companheiros. O tempo hoje será bom e vocês vão
fazer uma grande pescaria ".
Não errava, nunca, e o seu "quinhão"estava garantido.
Por vezes o tempo estava, aparentemente bom, mas o Senhor
Custódio não aconselhava entrar no mar, e todos obedeciam.
Realmente, chegavam os fortes ventos, temporais, que seriam
muito perigosos para os pescadores.
Antes de morrer, já bem velhinho, disse que não poderia ensinar,
à ninguém, o que sabia, pois aprendeu observando as reações
diárias da natureza, e que cada dia era uma lição.
Aconselhou a todos que fizessem o mesmo, prestassem atenção
na vida, no dia a dia, pois só assim poderiam aprender muito.
Os dias são diferentes, mas são repetitivos.
Hoje, eu sei, aquele homem era um sábio, um grande observador
da vida...
E  esta costa catarinense, tem muitos  "Senhor Custódio ".

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Conto poético: HOMENAGEM AO SURFISTA

 
 
De corpo esguio, ágil como as ondas do mar bravio,
corajoso e, por muitos admirado, lá vai aquele jovem,
não sei se valente ou inconsequente, o mar dominar.
Somente o oceano, para acalmar a fúria da juventude.
Que belo esporte.
Pena que não seja para qualquer um.
Além de ser destemido, há que ser exibido, amar a vida e
não se importar com as surras que o mar lhe dá.
Sendo preciso, enfrenta qualquer perigo, de preferência
ondas gigantes, melhor, ainda, as arrogantes, parta dominar.
Sabe a hora certa de entrar, e sair do mar.
No início, de tudo foi chamado, e hoje é tão admirado, pois
não é bombeiro, mas muitas vidas já salvou.
Nesta Ilha maravilhosa, um deles, imprudente, creio eu,
no fundo do mar se perdeu...
A comoção foi geral, e o artista tapeceiro, uma estátua ergueu.
Está lá, para quem quiser olhar, na praia Mole, não
para a morte lembrar, mas para o surfista homenagear !
Esta obra de arte foi construída, em tamanho real, para ser
postada no costão, sua casa natural, mas por ingrata
incompreensão, o poder público mandou retirar.
Hoje reside à frente de um hotel, propriedade particular,
parecendo um protesto, a quem a proibiu, de na beira do mar
morar.