pulsando

Seguidores

domingo, 4 de março de 2012

Conto poético: ANTHURIUM

Na década de setenta  ( 1975 ), conheci uma senhora na
Cidade do Rio de Janeiro, Advogada, por ocasião de um
curso preparatório, que juntos frequentávamos.
Disse-me que foi casada durante mais de vinte anos.
O grande amor da sua vida. Com o seu falecimento, não
conseguia conviver com as lembranças do passado, e foi
residir com a sua irmã, nos Estados Unidos, onde
permaneceu por cinco anos, sem retornar ao Brasil.
Antes de viajar, doou seu cachorrinho, dois gatos e um
aquário, com  diversos peixes.
Permaneceram, no apartamento, todos os móveis e
utensílios, além de oito vasos com plantas ornamentais,
que muito  amava. Abandonados, então, à morte, por
falta de luminosidade, água e demais nutrientes.
Em sua nova morada, lamentava o fato de não haver doado
aquelas plantas, não por falta de iniciativa, mas por  recusa
dos vizinhos e amigos.
Lembrava-se, diariamente, de um pé de anthurium, pois era a
sua planta preferida.
No retorno e em pleno vôo, nutria, ainda, um sentimento de
culpa, por haver abandonado todas aquelas coisas, que tanto
amou.
Chegando ao seu apartamento, após cinco longos anos de
"exílio emocional", digamos assim, relatou-me um quadro
tétrico.
Parecia uma "casa fantasma ".
Claro, ninguém por ali habitando. Somente o ruído das fortes
lembranças.
As portas rangendo, por falta de lubrificadão nas dobradiças.
As plantas mortas.
Correu em direção  ao seu pé de anthurium. Estava vivo,
parecendo por ela aguardar, durante todos aqueles anos.
Abraçou-se as suas folhas e chorou copiosamente...
Procurou um amigo botânico. Queria alguma explicação que
pudesse justificar o fato.
Seu amigo apresentou-lhe um rol de hipóteses. Mas, apenas,
hipóteses...
Conheci o seu apartamento e o pé de anthurium, protagonista
desta história.
Fiquei emocionado e sem saber o que dizer-lhe.
Apenas, falei de amor...

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Querido leitor...seu comentário é muito importante para mim. Obrigado.