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domingo, 30 de setembro de 2012

Poema: DOCE APARIÇÃO


A noite já havia se debruçado  sobre a minha
linda praia.
A lua cheia, prateava as águas, nervosas,
querendo falar.
Só, sento-me à beira do mar.
O vento fresco,  esfria minha face,
desalinha  os meus cabelos, parecendo chamar
minha atenção.
Impossível evitar as lembranças...
Fecho os olhos, e tu chegas falando de amor.
Tua voz meiga, prende minha atenção, e sinto
o teu perfume, como num canteiro de  jasmim.
Passeias a minha frente, sorrindo de felicidade,
e  te banhas no mar,  prateado pelo luar.
Em rasantes, esvoaçam as gaivotas, parecendo
enciumadas.
Cobras minha ausência, questionas minha falta
em teu leito, choras de saudade...
Teus cabelos, longos e negros, agora molhados, 
tocam as minhas costas,  relembrando os doces
momentos,  vividos por aqui.
O vento forte abafa o teu pranto, me causando
espanto a tua presença.
Cantas a música que aprecio,  recitas os versos
poéticos, de um  passado que tanto amei.
Finalmente, abro os olhos, e te vejo  sobre as
águas prateadas,  caminhando apressada, em
direção ao  luar...
Desesperado, chamo por teu nome, mas somente
as gaivotas ouvem meus gritos, gargalhando sem
compaixão, duvidando  desta doce aparição.
 

sábado, 29 de setembro de 2012

Poema: RELENDO A VIDA


Hoje,  obediente, cumpri incontinenti as ordens
da saudade.
Abri, em minha mente,  uma caixa  repleta de cartas
escritas por ela.
Estão impregnadas de carinho, declarações de
amor, e  manchas provocadas por minhas
lágrimas emocionadas, tantas vezes derramadas.
Acreditei em todas...
Amei, profundamente, cada palavra que me enviou.
Acreditei piamente em tudo.
Mas somente as palavras restaram.
Em cada linha, uma lição de vida, uma forte emoção.
Falam de um  lindo amor, que somente eu  conheci.
De uma fidelidade, jurada por toda  a eternidade,
e que se acabou, no primeiro vendaval que soprou.
Os sonhos, apenas os sonhos, lá  estão  como
foram escritos, banhados com flores e perfumes,
sem ciumes, só amores !
Letras de músicas românticas, transcritas com muito
carinho, oferecidas como prova de  amor.
Hoje,  posso  ver  a residência daquela loucura, não
passando de uma aventura, perdurando por esta  vida
inteira.
Transformei este labirinto, numa interminável mina de
emoção, que alimenta, até hoje, o meu apaixonado
coração.
Da autora de tão belas cartas, nem mais tenho o
endereço.
Gostaria de postar novas respostas, a tudo que me
escreveu, mas todas terminariam, assim como eu,
lembrando os mais doces momentos, que minh'alma
já viveu !

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Conto poético: UM BELO SONHO DE AMOR


Orkut
Esta noite, deitado numa confortável rede, protegido
por uma acolhedora varanda, frente ao mar, adormeci
profundamente.
Sonhei, certamente, o mais belo dos sonhos.
Era o homem mais feliz, pois estava acompanhado de
um grande amor.
Abraçado por uma doce mulher, que sorria e me olhava
com ternura e admiração.
Fazendo declarações de profundo afeto, tudo oferecendo,
e nada, em troca, exigindo.
Viajei ao redor da terra, centenas de vezes, e do sol,
também viajei.
A estrada percorrida, tem o nome de felicidade.
A velocidade obedece aos limites do coração, do amor
e da bondade.
Saudade nem senti, pois tudo que amo, estava ali.
Não necessitava de mais nada. Tua meiga presença
supria, com alegria, tudo o que de bom havia.
O vento fresco, que soprava do mar, também conduzia
o ruído das ondas bravias, procurando os meus sonhos
embalar.
Nada mais precisava exigir da vida.
Bastavam a ternura do teu olhar, e a doçura do teu
envolvente afeto.
Agora não tenho certeza se havia adormecido, pois já
tenho tudo isto, ao teu lado, meu grande amor !

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Poema: O RETORNO DA VIDA


Por esta janela, olho o mundo lá fora.
O vento parece  brigar com o tempo.
Sopra forte, fora de controle.
Todos se curvam diante da sua fúria. 
Na rua, uma  página de jornal parece ter asas.
Passa  voando, amedrontada, fugindo de
alguém, ou de alguma coisa.
Sinto vontade de correr atrás, para ver o que 
está  escrito.
Só curiosidade. Nada mais.
Agora, anoitece.
A escuridão assusta.
A imaginação, também, parece ter asas.
As sombras das árvores, provocadas  pela tênue 
luz artificial, parecem  fantasmas correndo pela
rua.
O oceano briga com o costão, provocando sons
de guerras.
As aves noturnas, assustadas,  migram para
bem longe.
Passam sobre minha casa, em gritos de pavor.
Não tenho esta mobilidade, nem a coragem de
abandonar  o meu ninho...
O mar, bravio, invade as areias da praia,
remexendo as suas entranhas.
Os pescadores se abrigam, rezam e fazem
promessas.
Neste tempestuoso cenário,  ancoram  as
minhas lembranças...
São amores  que não amei.
Como as gaivotas apressadas, passaram.
Apenas uma que amei, permaneceu, mas
equivocada, partiu.
Talvez, com medo do vento.
A saudade, então,  arrebata o meu coração,
parecendo o barulho do costão.
Nada  posso fazer, além de esperar  a
tempestade  passar.
A folha de jornal retornará, assim como os
pássaros, aos seus ninhos...
E eu, aqui desta janela,  esperando  a vida
retornar !

terça-feira, 25 de setembro de 2012

poema: A PROCURA

Chove. Faz frio. Muito frio...
Vago, perambulando pelas quase desertas  ruas
do meu povoado, a tua procura.
Nos bares da madrugada, entro de porta em porta,
desesperado, e pergunto por ti.
Como respostas, dos bêbados ouço gargalhadas de
desprezo.
Olhares desconfiados. Sofrimentos.
Ninguém me responde. Escondem teu paradeiro.
Somente as prostitutas me olham, querendo  trocar
amor por dinheiro.
Exausto, já no raiar do dia, caminho sem  destino.
Não te encontro.
Tudo atormenta meus pensamentos.
Sinto-me, agora,  fracassado, caminhando
desesperado...
Encharcado pela  chuva, arrasto-me cansado,
querendo para casa retornar.
O vento gelado,  traz o teu cheiro.
Abro a porta do meu refúgio, e como um presente
do meu Deus, estás dormindo no meu  leito.
Cubro teu lindo corpo desprotegido pela vida, e
de joelhos te peço perdão, pois te procurei na
na solidão da noite, quando estavas aqui, bem perto
do meu coração.
Na bagagem, somente amor, colhido na terra e no
céu.

sábado, 22 de setembro de 2012

Conto poético: TIMIDEZ


Quando adolescente, conheci uma bela menina,
pela qual me apaixonei.
Mas, somente eu.
Tímido, não tive  coragem para  falar-lhe dos meus
sentimentos.
Sabendo  da minha admiração por rosa amarela,
retirou do jardim da sua casa, uma pequena muda
da  roseira, dando-me de presente, para que eu
jamais  a esquecesse.
Ainda hoje, percebi o quanto é  linda, mas nunca  
manifestou o seu perfume. Entendo-a. Eu também.
E lá se vão mais de 40 anos...
Encontrei com a moça no supermercado, claro,
hoje uma senhora... mas,  ainda  encantadora.
Perguntou-me se recordava  da roseira  amarela,
nas  épocas de criança ?
Contei-lhe que sim, e relatei sobre  a beleza
daquela planta.
Disse-me que a sua  não mais existe.
Foi a minha casa, e se emocionou ao ver
a planta, tão viçosa !
Coincidência, ou não, nesta primavera, pela
primeira vez, em 40 anos,  está exalando o
seu maravilhoso perfume.
Testemunha de um amor solitário,  tem suas
raízes plantadas no passado...
Esperei por todos estes anos,  não sei bem
se  o aroma  do perfume, ou a visita daquela
"menina".
Creio que as duas coisas.
Também não sei, se as lágrimas que notei  em
seus olhos, foram causadas por saudade  da
roseira, ou por quem a esperou a vida inteira.
Pretensioso, e ainda menino...

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

FINALMENTE, A PRIMAVERA


Belas Mulheres

Chegam o perfume, a cor e a beleza, renovados
em flor.
A vida renasceu e, com ela, chegou a esperança
de te rever.
Quero me ofuscar no brilho dos teus lindos olhos,
acariciar tua meiga face, beijar, como antes, esses
lábios da cor do pecado.
Necessito sentir o aroma suave, do teu estonteante
corpo, como as abelhas precisam das flores para, na
vida, permanecer.
Das quatro estações, és a mais bela, primavera dos
amores e das flores. Renovação da vida ! De tudo o
que respira.
A mata está mais verde e brilhante. A natureza canta
a felicidade dos seres.
No ar, o doce cheiro do amor que está chegando, a
tudo iluminando, fazendo os teus olhos brilhar, e os
teus lábios, inchados e sedentos por beijar.
Oh, fantástica primavera, aliada da vida, seja bem
vinda, ao mais lindo reino, dos verdadeiros amantes
!

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Poema: SÓ FALO DE AMOR


Hoje, fiz uma  faxina em minha consciência.
Reexaminei  todos  os episódios,  em que fui
protagonista, nesta vida.
Estavam armazenados num empoeirado depósito,
da minha consciência, muitas coisas desorganizadas,
sem nenhum valor. 
Em meditação, abri as portas  e as janelas daquele 
ambiente, para  a entrada da luz do amor. 
Acendi uma  fogueira, no fundo da alma, e queimei
tudo o  que era desnecessário.
Coisas grandes e pequenas.
Lembro-me de que havia uma prateleira,  cheia de ódio,
rancor, vingança, e outros materiais inservíveis.
Felizmente, eram de fácil combustão.
Sumiram, como que por encanto, diante  do perdão.
Agora, só tem vaga para o amor.
Acabou o horror.
A ternura invadiu  minh'alma, trazendo a alegria da  vida,
o brilho nos olhos, iluminando o coração.
A saudade do que foi bom, é coisa do passado.
Tudo o que eu queria, já chegou, pois era a poeira que
não permitia...
Da fogueira, nada restou. Tudo queimou...
Meu coração se renovou.
O perfume das flores, principalmente da  rosa amarela,
entrou pela janela, nas asas do beija-flor.
Hoje, só falo de amor.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Poema: O VENTO

Na inquietude das folhas, estás.
Nas águas crespas do mar, manifestando a tua
força, e nas velas cheias do pescador, tenho
certeza. És vida.
Balançando  os cabelos da mulher faceira, me
lembras, a vida inteira, de um grande amor, que ainda
não passou...
Na madrugada,  recitas a minha janela,  os doces
poemas  enviados por ela.
Depositas, em meu rosto, o aroma divino  daquela,
mulher, tão bela.
Fico sem saber,  se são minhas estas lágrimas, que
dos meus  olhos rolam...
São gotas quentes, por vezes ferventes, lembrando
aquele lindo amor...
Falas coisas que já  ouvi, dos lábios dela.
Não sei de onde partiste, mas ao meu coração
chegaste, trazendo o doce sabor da saudade, de
quem partiu e vai chegar.
Ah, recadeiro  da minha esperança ,  trazendo a chuva,
e também a Bonanza, amigo fiel das madrugadas, traga
logo a minha amada !
Quero acorrentá-la num forte abraço, cobrindo o seu
lindo corpo de beijos, regados com as lágimas do mais
profundo sentimento.
Ah, doce imaginação, trazida por este vento !

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Conto poético: A JAULA DA MORTE


Na minha querida Laguna, o  Museu de
Anita Garibaldi, guarda, para a eternidade, 
as histórias  da nossa Heroína, orgulho  do
povo brasileiro.
Em cada canto daquele prédio, um registro
reaviva fatos de bravura, e de covardia...
Quando cadeia pública,  os presos eram
separados pela cor da pele.
Brancos, em uma cela, ampla e arejada. 
Negros, em um cubículo reduzido, de
alguns poucos metros quadrados, e abafado.
Não havia limite  para definir a quantidade de
presos.
Só saíam de lá,  os mortos.
Difícil, até, de se acreditar nas historias que
são contadas.
As pessoas sensitivas, descrevem fatos
terríveis.
Dizem ouvir coisas de arrepiar, no silêncio da
noite. Gemidos, gritos, choros, passos,
chicotadas... arrastar de correntes.
Coisas que não se apagarão, jamais.
A funcionária vive sob tensão, o tempo todo.
Estive no local.
Fechei a porta do "inferno,"  e me tranquei.
Não há silêncio, nem paz,  diante de tanta  
maldade...
Aquela prisão, pequena sala de torturas, é
testemunha, juntamente com o pelourinho,
correntes e tudo mais, de um momento,
mais se parecendo com um tormento, de
uma história que  não poderia acontecer.
Senti vergonha, e pedi perdão a Deus, em
nome dos carrascos.
E, por aquelas almas sofredoras, rezei...
na Igreja de Santo Antônio dos Anjos.
Até os sinos choraram... fora de hora.

domingo, 9 de setembro de 2012

Poema: Carta resposta



Minha grande e querida mulher:
Fico emocionado ao ler as
tuas declarações de amor.
São verdadeiras, eu sei, pois
as sinto no pulsar do teu coração,
no brilho intenso do olhar, e no
tremular da tua voz que, às vezes,
embargada pela emoção, rebusca
no fundo das entranhas,  as últimas
forças para dizer que me ama.
Fortalecido por tamanha grandeza
de alma. sinto-me um gigante
diante da vida, dos céus e dos
Deuses do universo, para dizer que
tu és o meu único e verdadeiro
amor !

sábado, 8 de setembro de 2012

Conto poético: O EX-COMANDANTE


Homem ativo, inteligente e de grande prestígio.
Respeitado pelas tropas, em todo o Estado.
Profundo conhecedor da área de salvamento,
tanto em terra, como no mar, ou em qualquer
outro lugar.
Amou a sua profissão de bombeiro, por mais
de trinta anos.
Chega ao ápice da carreira, com todas as
merecidas  condecorações.
Uma extensa folha de serviços, prestados à
sociedade. Enfim, um homem de muito valor.
Entretanto, o tempo  não para. Passou... 
Chegou a "reserva'.
Interrupção repentina dos hábitos de vida. 
Agora, não mais premido pelos horários, rígida
disciplina militar, responsabilidades com a vida
e o patrimônio alheios. Nada mais...
Um pássaro solto. Liberdade, como nunca...
Embriaga-se com estes sentimentos.
Mas, após um breve repouso, bate forte a
saudade no peito.
Comparece, como expectador, às solenidades
das tropas.
Numa destas, eu o observei, bem de perto.
Trajes civis, sem o garbo ostentatório  da bela
farda, e já pouco conhecido... fica  sem jeito,
deslocado.
Não lhe cumprimentam, com as cerimônias a
que estava acostumado.
Pertence, agora, ao passado.
Dura realidade. Cruel verdade.
É, apenas, um depositário de dignas e honradas
lembranças.
Um "currículo  vivo". Um livro de registros...
Noto, em sua face,  uma cascata de  lágrimas,
parecendo  querer apagar o  incêndio de uma forte
emoção.
Faltava o  reconhecimento do "dever cumprido", para
selar tão nobre missão.  
Desfilam as tropas, finalmente,  em sua merecida
homenagem. Perfila-se garboso !
As lágrimas, agora, são de plena felicidade !

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Conto poético: O VELHO JARDINEIRO


Em pleno esplendor da primavera,  sentado à sombra de
uma frondosa figueira, lá estava ele, o Senhor Anastácio.
Contemplava o belo jardim, à frente da Matriz, embalado
pelo canto insistente da passarinhada, que encontra,  
naquele local, o verdadeiro paraíso de alimentos, e o
sentimento de paz, para viver.
Pedi licença, e sentei-me ao seu lado.
Seus olhos brilharam, pois estava ansioso por uma
conversa.
Disse-me que cuidou daquele jardim,  por mais de  40
anos.
Conhece  os  detalhes de cada árvore, ali existente, pois a
grande maioria, foi  plantada por ele.
"Plantei muitas variedades de flores, e aspirei o seu aroma
durante todos estes anos.
Em noites calmas, mesmo morando distante deste lugar,
sinto o perfume delas, parecendo me visitar.
É divino ficar próximo ao jasmim. Seu doce perfume chega a
me embriagar. 
Logo ali, atrás daquela verde folhagem, tem um exuberante pé
de manacá, com flores coloridas.
É   parada  obrigatória dos beija-flores.
Cuidei das roseiras, de cores diversas, mas as rosas amarelas,
minhas preferidas, sempre tiveram um canteiro em destaque,
à frente da  entrada principal  da Igreja.
Quando faço minhas orações, sinto o perfume delas.
Pensei, até, que fosse impressão minha, mas o Padre Gregório
me disse que adora aquelas rosas, pois o seu perfume é sentido
lá dentro."
Contou-me parte da sua vida, e eu o ouvi atentamente.
Embora já aposentado, vai ao jardim, diariamente,  para conferir
se o novo jardineiro  trabalha com zelo.
"Coisa de gente velha ", disse-me.
Tempos depois, voltei aquele jardim  para reiniciar a conversa.  
Embora fora da estação, as roseiras estavam  floridas e cheirosas,
perfumando, como nunca,  todo o ambiente.
Ah, sim, somente as rosas amarelas.
Os passarinhos estavam  emudecidos.
Na igreja, os sinos dobravam, pausadamente, e não havia nenhum
beija-flor no pé de manacá, e o velho jardineiro, nunca mais
apareceu por lá...

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

conto poético: A SAUDAÇÃO DOS SINOS



Coisas inexplicaveis, acontecem em todos os
lugares.
Um casal, unido  por um incontido amor, se
dirige a uma Igreja para resgatar lembranças, ou  
conferir coisas que já conhecia...
Admiração pela arte sacra,  prendeu  sua atenção.
O prédio histórico, de centenas de anos, é
testemunha  das emoções.
Palco da vida real e expectador de segredos, até
então, inconfessáveis.
Ambiente quase vazio, apenas dois fiéis rezavam,
com todo o fervor.
O  confissionário chama a atenção da mulher,
apoiada  por seu amor.
Quantas declarações, ali, foram feitas ao sacerdote,
depositário fiel das angústias alheias...
Leva ao túmulo, os segredos confiados !
Medita acerca dos pecados, quem sabe, até
crimes  revelados, para a consciência aliviar.
Mistérios  sepultados !
Sensibilidade à flor da alma, bate o sino fora de
hora, parecendo querer alguma coisa explicar.
A linda mulher, emocionada, não contém as
lágrimas, nem as fortes batidas do seu sensível
coração.
Abraça o seu homem amado, acreditando ser um
doce recado, dos pecadores e dos padres, que
por ali passaram... Meu  Deus !

Poema: O CANTO DO CIGARRÃO


É encantador  ouvir o canto do cigarrão,  sempre presente
ao verão, ao clima quente desta ilha,  nas festas de natal.
Lembra  as praias, a  Cidade cheia. Movimento...
Canta sem parar, nas alturas, para se fazer escutar.
chegam fortes, as  recordações.
Não posso imaginar o verão, sem o canto do cigarrão.
Traz o cheiro do mato, o perfume das flores, e o aroma doce
das frutas.
Nas noites de luar, escutava, vindo da mata, o seu cantar.
Disputava com o sabiá laranjeira, quem mais lindo cantava.
Toda a floresta se calava.
Parecia uma provocação.
Quando o sabiá cantava, respondia o cigarrão !
Batia mais forte, ainda, o meu coração, pois no silêncio da
madrugada, podia escutar a minha amada, me chamando
para falar de amor...
Via seu rosto  entre as árvores,  os  olhos brilhando...
Que encanto !
Param de cantar, o cigarrão e o sabiá.
Agora canta a minha  amada,  seus versos de paixão, ao
som  do violão.
À beira  da cachoeira,  o sabiá laranjeira,  canta a noite inteira, 
a sua doce melodia de lamento. 
Parecia adivinhar  o meu sofrimento.
Ao raiar da madrugada, quando  acorda  a passarada, canta  
o meu amor, lindas canções de sentimentos.
Juras e lágrimas,  testemunhadas pelo vento...
Só restou o meu lamento, e o alegre  canto do cigarrão !

domingo, 2 de setembro de 2012

Conto poético: OBRIGADO, DOUTOR !


Quando garoto, morador da periferia desta Capital,
possuía vários amigos, todos pobres, como eu.
Logo à entrada da rua,  existia uma bela chácara, de
propriedade de uma família, na minha avaliação, muito
rica, pela suntuosidade da  residência, e tamanho da
terra.
Em épocas de frutas, o aroma da carambola madura,
desrespeitando os seus limites territoriais,  invadia a 
humilde vizinhança, acompanhado do canto das cigarras...
Ainda sinto o cheiro gostoso...  e ouço o canto alegre do
"cigarrão",  nos finais de tardes de verão.
Antes, nos pés de frutas.  Hoje, apenas, nos postes de
energia elétrica, pois tudo se  transformou em prédios.
Que pena, ainda  imagino  a rua coberta de amoras,
trazidas pelo vento...
Mas uma história de amor, não sai da minha mente.
Uma  menina, filha daquela família,  era belíssima, meiga,
simpática e humilde.
Diariamente, vinha da escola conversando com a minha
turminha do morro.
Não raramente, ia até sua casa, e trazia algumas fritas,
presenteando os seus colegas pobres.
Um amigo meu,  até vizinho, já na adolescência, começou
olhar para a menina, com  outros interesses.
Aproximações, conversas mais demoradas no portão
daquela casa... e pronto. Estava acesa a fogueira da paixão,
entre dois jovens de classes sociais, inteiramente distintas.
Geraldinho, um rapaz que tinha, como riqueza, a honestidade 
da sua família, e uma esmerada educação.
Dedicado aos estudos, e sempre matriculado em  escolas
públicas.
Como era de se esperar, a família da menina impediu aquele  
namoro.
Cada qual seguiu  o seu  destino.
Claro, ela casou facilmente. Era bonita e educada...
Os anos se passaram.
Geraldinho venceu  as barreiras amargas da pobreza.
Um grande especialista em ortodontia.
Atendeu o filhinho da , então, sua grande paixão na
adolescência.
O  avo da criança, foi  agradecer o belo trabalho realizado
em seu neto, sem saber  que aquele homem era o menino
pobre do morro, e que foi, por ele,  impedido de namorar a
sua filha...