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terça-feira, 16 de outubro de 2012

Conto poético: CONFISSÕES DE UMA ADÚLTERA



Da janela do meu escritório, observei, por muito tempo,
uma mulher pedinte, vagando solitária pelas ruas
da minha querida Cidade.
Não sei porque, talvez pelas expressões corporais,
imaginava ter uma historia de vida, que pudesse justificar
aquele abandono, aparentemente, tão triste.
Chegou o inevitável dia.
Convidei-a para comigo lanchar, em meu escritório.
Meio desajeitada, quem sabe, ressabiada, ascendeu
ao meu convite.
Uma pequena mesa, especialmente  preparada,
permitiu-me olhar em seus olhos, bem de perto.
Suas mãos maltratadas, ou descuidadas, revelavam
uma mulher sofrida, testemunhada pelos profundos
sulcos, que delineavam a sua face.
Seu sorriso,  abandonado pelos maus tratos, já não
expressava alegria. Só saudade... ou tristeza, analisava
eu.
Estava com fome. Muita fome.
Contou-me sua história de vida.
Inacreditável, meu Deus !
Foi bem casada com um empresário.
Vida farta.  Conforto, também.
Seu marido, um homem dotado de todas as virtudes.
Respeitado. Fraterno.
Um funcionário da empresa,  a envolveu num processo
de sedução, sem precedente.
Contou-me:
"Amei profundamente aquele homem, como nenhuma
mulher, jamais tenha amado alguém.
Foi uma traição das grandes, sei. Durou pouco tempo.
Claro, meu marido demitiu o funcionário e, eu, fui
embora. Não  discuti direito algum.
Vivo nas ruas, longe da minha Cidade.
Ainda nutro a  esperança de encontrar aquele homem.
É  o meu grande amor...
Todos os anos  do meu casamento, não  valeram  os
poucos dias da mais saborosa aventura,  de que desfrutei.
Sou muito feliz, desta forma, pois  vivo das doces e
maravilhosas lembranças, de um grande amor, que
valerá por toda a minha vida.
NA rua, sinto o cheiro dele. Na multidão, ouço a sua voz."
E eu, não encontrei palavras para consola-la, pois
percebi que, apesar de tudo, estava feliz... muito feliz.
Seus olhos,  brilhantes, são testemunhas .
Incrível, mas o amor é mais forte do que o infortúnio,
ainda que sobrevivendo, apenas, da esperança...

4 comentários:

  1. Muito bom! Adorei. E como o amor alimenta, não? abraços

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    Respostas
    1. Olá, amigo Ives!
      É verdade. Coisas do amor,
      por vezes inexplicáveis...
      Muito obrigado pela presença.
      Um fraternal abraço.
      Sinval.

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  2. É um amor em conflitos.

    Quiça, o amor veio somente para ela, ou seja, o empregado não a amava o suficiente para resgatá-la.

    E, por mais virtudes que o marido dela tivesse, não era o que se fazia importante.

    Creio, que se não nos enganássemos tanto, vivendo um amor por interesses, as traições seriam apenas um detalhe, ou seja, inexisteria.

    Falta de coragem para dizer um basta, antes do basta que a vida lhe oferecesse em surpresas.

    Parece que é preferível viver no perigo, do que viver consciente.

    Mas como disse suas ultimas palavras, "estava feliz". Então, viva!

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    Respostas
    1. Oi, Keyla Carvalho, amiga!
      Belíssima análise. Gostei.
      Muito obrigado pela honrosa
      visita.
      Sinval.

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Querido leitor...seu comentário é muito importante para mim. Obrigado.