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segunda-feira, 29 de abril de 2013

Conto poético: AMOR GIGANTESCO




Na área central da minha Cidade, conheci uma  bela
e simpática mulher.
Morena, da cor do amanhecer, possuía um invejável
sorriso, emoldurado  por  um rosto  divino.
Educada, delicada, e pobre. Muito pobre, e  humilde.
Chamava-se  Márcia.

Moradora de um conjunto habitacional, localizado na
periferia.
Vendedora ambulante de loterias, muitas declarações
de amor ouvia.
Era analfabeta, mas possuía perfeita compreensão
da vida.
Muitos homens compravam  seus bilhetes, apenas,
para admirar os seus lindos olhos.

Reservada, não falava da sua vida  privada.
Expulsa do centro da Cidade, pela administração
municipal, foi vender as suas loterias no município
vizinho, à porta de um banco.
Reencontrei-a  num  rodeio, vestida de  "prenda".
Estava linda !
Tratou-me com carinho, ao me reconhecer.
"Quero que o senhor conheça o meu marido, o amor

da minha vida".
falou-me com tanta ternura, que fiquei curioso para
conhecer o homem que a mereceu, como sua mulher.
Conheceram-se  na mais tenra infância, e nunca mais

se distanciaram, emocionalmente.
Ele perdeu os  pais, ainda muito jovem.
Sem irmãos,  e paraplégico, ela o assumiu,  em
casamento.
Disse-me  ser a pessoa mais feliz do mundo...

Após uma breve conversa,  despediu-se de mim, com
aquele rosto iluminado, e passou a empurrar a cadeira
de rodas, sobre um leito de estrada todo esburacado,
e  empoeirado, desaparecendo na primeira esquina.

Aumentou, a  partir daí, minha admiração por  aquela
mulher,  fazendo-me repensar  a vida, e na força
gigantesca do amor...

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Conto poético: PONTE AÉREA


 Lembro-me bem.
Era inverno. O aeroporto estava lotado de passageiros.
As pessoas conversavam alegremente, enquanto os
auto falantes anunciavam horários, voos  e portões de
embarques.
Passos apressados, a partir daí.
Dirijo-me à sala de identificação e, em  alguns minutos,
já me encontrava na aeronave.
Acomodado em minha poltrona,  logo após a asa  direita,
passo observar os passageiros que entram, e transitam
pelo corredor. São muitos. Cerca de 240 pessoas, desde
idosos, até crianças.
Cada um, certamente, com um propósito.
Chamou-me a especial atenção, uma belíssima mulher,
com a idade aproximada de 30 anos.
Olhos grandes, negros, maquiagem perfeita, para aquele
rosto impecável.
Parecia uma santa, de tão serena e segura, transmitindo
a paz, tão necessária em viagens aéreas
Minha imaginação ia mais alto, do que viajaria o avião,
após decolar.
Ao seu lado, um cavalheiro  servindo-lhe  gentilmente.
Senti inveja daquele homem, tão próximo àquela beleza
santificada. Por que não a abraça,  acaricia os seus lindos
e bem cuidados cabelos ?
Por que não conversa com ela, olhando-a nos olhos,
segurando as suas mãos ? Por que não ... bem.
Da inveja, passei a sentir raiva daquele homem, frio feito
uma geleira. Um imbecil. Não sabe apreciar o que é belo...
Hora de descer. A aeronave prepara os procedimentos.
Aeroporto  Santos Dumont, Rio de Janeiro.
O casal fica sentado, mas é o término daquela viagem...
Queria dar um "look", naquela linda mulher, antes que
desaparecesse na multidão.
No lado de fora, 4 viaturas da polícia aguardavam o
casal. Ele, Delegado de Polícia. Ela, chefe de quadrilha,
ligações perigosas, e  devidamente algemada.
Observando,  atônito, de boca aberta, um imbecil,
assustado e  desapontado...
 
 
 
 
 
 

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Conto poético: MONÓLOGO DA PARTIDA

Amanhece.
Não ouço a natureza. Parece muda.
O silêncio é absoluto.
Somente um cachorro  abandonado,  ladra
desesperado. Talvez,  de fome.
Estranho, mas tudo está em seu lugar.
No ar, um aroma de triste notícia, parece
me avisar...
A noite foi de isolamento, de  indiferente
comportamento, para dois seres que
compartilham o mesmo ninho.
Agora, ela  se veste,  para partir.
Entendi...
Não me olha  nos olhos.
Seus pertences, sobre a cama,  acenam num
Adeus. 
Está  linda, parecendo ir a uma festa.
Foi ao portão e, por várias  vezes,  falou ao
telefone.
À frente da casa, esperou por muito tempo .
Ninguém  chegou...
Voltou, e ficou  em sua cama, o dia  todo,
chorando copiosamente.
Sinto compaixão. Não está feliz.
Ofereci ajuda. Não aceitou.
Quem prometeu, não cumpriu.
Iludiu uma  mulher apaixonada, cega de
razão. Nada entende de amor, apenas,
desejos.
Continuo compreendendo, embora confuso,
deduzo. Sou demais,  neste ninho.
Quem vai embora, sou eu.
Escuto uma voz suave, colada ao meu ouvido,
cheia de ternura, me convidando para a
primeira refeição do dia.
Felizmente, apenas, um pesadelo...

sábado, 20 de abril de 2013

Poema: MANTRA


 Retirei as algemas dos meus pensamentos,
deixando  que voassem soltos ao vento, sem
destino  para aportar.
Chegaram às frias geleiras, e ao  deserto
abrasador.
Afastaram-se  dos tempos,  rebuscando 
esquecimentos,  alegria e dor.
Escutaram palavras  de amor,  e gritos de  horror. 
Receberam abraços, reviveram embaraços...
Chegaram  aos tempos de criança, abastecendo
lembranças,  que a vida, maldosamente,  sepultou.
Nos bancos da escola, pediram  perdão.
Voltaram às  encruzilhadas,  apreciando as estrelas
da madrugada, à procura daquele  amor, que não
mais voltou.
Descansaram  nos  jardins perfumados.
Ainda  estão lá, abrigando os passarinhos, como palco
decorado, para acolher os sonhadores, como eu, que
não esquecem aquele lugar.
Reconferiram  toda  a  minha  história.
Agora, retornam  aos meus aposentos, cansados de
percorrer as longas  trilhas do tempo.
Nada mudou.
Sou, apenas, um homem que amou.
 
 
 
 

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Conto poético: O VELHO SANFONEIRO


 
Observei, atentamente, um velho sanfoneiro, nos arredores
do mercado público, da minha querida Cidade.
Sobrevive de pequenas doações, dos transeuntes.
Chamou-me  atenção, a  profunda emoção  com  que
executava  as suas canções.
Dedilhava,  com uma maestria impressionante.
Suas mãos pareciam deslizar sobre o teclado, sem toca-lo,
num domínio, absoluto.
No seu repertório, músicas nacionais, e todas românticas.
Mas, o tango, era a sua preferência. Claro, fiquei curioso.
Depositei a minha oferenda,  na caixa de sapatos, e aproveitei
uma pausa, para com ele conversar.
Eu  desconfiava. Por trás  daquela profunda emoção, existia
uma  história de amor.
Viveu com uma  cantora   argentina, segundo ele,  "a mais 
encantadora  mulher do universo".
Mostrou-me  algumas fotos. Realmente, muito bonita.
Com ela, esteve no apogeu,  se apresentando nos palcos de  
vários países.
Ela cantava, e ele a acompanhava com estas mesmas músicas,
hoje executadas  nas ruas.
"Eu a vejo,  a minha frente, cantando e sorrindo para mim, em 
cada música que executo.
Escuto, até,  o público  aplaudindo...
Anos depois que a perdi,  alguém depositou, nesta mesma  caixa, 
um pequeno bilhete,  pedindo-me perdão. A letra  é a dela.
Por isto, ainda tenho a esperança de  reencontra-la, embora já
decorridos mais de trinta e cinco anos ".
Falou-me com os olhos mareados...
Fiquei, também, emocionado.
 
 
 
 

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Conto poético: SEMPRE SERÁS BEM VINDA


Estou convencido. No amor, não há regra rígida.
Meu dia de trabalho, já havia  encerrado.
Estava à frente do escritório, pronto para retornar à casa.
Era um final de tarde.  Protegido à  sombra de uma
acolhedora figueira,  observo  o gorjear de um sabiá
branco, tentando conquistar a sua amada. 
Ouço, do meu amigo de trabalho, uma história que me
deixou pensando, sobre a tolerância dos que amam.
Parece não haver limite.
Pacheco, como o chamo, relatou-me:
" Sou um homem, profundamente apaixonado.
Meu grande amor, já foi embora  várias vezes, com outros
homens.
É uma mulher sonhadora.
Extremamente carinhosa,  e sensível, facilmente se
apaixona,  arruma as malas, e vai embora.
Decorridos alguns dias, diz sentir minha falta, e  volta,
cheia  de ternura e, novamente, me convence a ficar.
Isto já se repetiu, pelo menos, umas oito vezes.
Creio  que  me acostumei, com estas idas e vindas.
Conta-me tudo. Absolutamente tudo... e eu gosto de ouvi-la.
É sincera.
Nunca  vai embora sem, antes,  me avisar,  e me alegro
quando retorna. Sinto-me muito feliz. "
Todas as expressões emocionais, li em  sua face.
Encerrada esta conversa, fui para minha casa, pensativo...
Não estou na sua "pele", nem tenho competência, ou o
direito, de  julgar um  relacionamento, como este.
Não soube  o que lhe dizer. Também, não pediu  minha
opinião.
Foi só, me pareceu, um desabafo  de  amigo, para amigo.
Ah, sim, soube, por terceiros, que da última vez que ela
partiu, nunca mais retornou.
Embora decorridos mais de  vinte  anos, ainda só, nutre a
esperança de, com ela,  terminar  os  seus dias...
Creio que  o amor, e somente o amor,  poderá explicar tudo
isto,  se necessário for.
 
 
 

sábado, 13 de abril de 2013

Conto poético: EXPEDIÇÃO A MINH' ALMA


 
Nesta madrugada, algemado  à insônia, fui  levado ao
jardim da minha  imaginação.
Passei, então,  a observar... tudo.
A Cidade dormia profundamente, permitindo-me
escutar solitários  prantos, vindos da mata e dos
canteiros floridos.
Não sei de quem partia. Talvez de mim.
Aves noturnas gorjeavam,  parecendo comigo falar.
Barulhos   diferentes, por vezes estridentes,
misturavam-se  às águas da corrente,  querendo minha
consciência lavar.
Segui  em direção ao mar, como um barco sem destino,
só querendo navegar.
Sob as batidas compassadas do meu coração,  viajei até
o amanhecer.
Aportei  no interior de  minh'alma.  
Quase não a reconheci.
Ninguém esperava por mim.
Senti-me  só. Estranho !
Aquele porto, vazio, depois de tanto tempo ... 
Minha angústia aumentava, enquanto a hora  passava,
num sofrimento sem fim.
A minha frente, a vastidão do  nada, não me  dizia que
rumo  tomar.
Voltar, não me permitiu a corrente.
Finalmente,  encontrei  os meus grandes amores,  berços
da  vida  que recebi.
Saudade,  beijos e abraços.
Perdão,  pedi.
Não havia corrente,  e  barco não existia.
Acordei  encharcado pelas  lágrimas,  que dos meus
olhos rolavam. 
Copiosamente, chorava em teus braços, amparado por
este lindo amor !
 
 
 

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Conto poético: UM HOMEM QUASE LENDA

Há pessoas, tão obstinadas, que até parecem haver
nascido  "carimbadas", tamanho  o modo de proceder.
Os  obstáculos  são como rosas sem espinhos,  suaves
como  vento na relva,  ou água fresca, caindo  da serra.
São  seres que chegam  de  tempos, em tempos, para a
história registrar.
Creio, até , que nasceram antes da vida  começar.
É o caso deste admirável  homem.
Descendência indomável,  trouxe  nas veias, o sangue bom
do herói.
Neto da nobreza indígena, da linhagem  dos Bororo,
Terena,  e dos Guará,  herdou dos melhores guerreiros, as
 as armas morais do fiel lutador.
Mostrou  valores inestimáveis, orgulhando a Nação Brasileira.
Embrenhou-se pelos sertões do  Brasil, liderando homens,
amantes do desconhecido, ávidos pelo cumprimento de
nobres missões.
Chegou  às salas de visitas  dos temidos  povos indígenas,
conquistando a todos, apenas, com respeito e amor.
Nunca um tiro, sequer,  disparou, embora um índio quase o
matou.
"Morrer, se preciso for.  Matar, nunca".
Com esta nobre filosofia  pessoal, implantou nas entranhas do
meu País,  uma rede de telégrafos, e caminhos  pioneiros.
Abolicionista  e Republicano, por luta intensa, Cândido Mariano
da Silva Rondon,  Mato-Grossense, de um nascimento  datado
de  5 de maio de 1865, e eternizado  em 19 de janeiro de 1958....
Ah, sim, desculpa-me,  refiro-me ao Marechal  Rondon, do
Exército Nacional.
Um homem, quase  lenda...
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Conto poético: VILA PALMIRA


 Já se passaram muitos anos.
Conheci  muitos personagens... até o cenário.
Minha terra viveu um período de intenso glamour,
concentrado numa única rua, " Vila Palmira".
Lá frequentava a hipocrisia,  com o título  de
"burguesia ".
Uma  larga  avenida, embora sem calçamento,
tinha atrativos especiais. Acolhia o amor vendido.
 Vizinhança, não havia, nem podia.
Trocava-se dinheiro por amor.
Frustração  e  tristeza, por alegria. 
Mesmo na penumbra,  podia-se ver a felicidade,
desfilando no palco da vida, quase sempre
vestindo  fantasia, que só o seu  personagem 
conhecia.
Música  romântica, no lado de dentro.
Luz vermelha,  lá fora.
Sorrisos e lágrimas, misturavam-se à taça da
 vida.
Choro de saudade, também  havia.
Amor, paixão e ódio,  juntos, pacificamente,  
conviviam.
Muitas criaturas de lá saíram, a convite de
 "clientes" apaixonados. 
Algumas voltaram. Outras, não.
Conheci uma que  jurou amor eterno, voltou no
primeiro flagelo, ou não suportou a  saudade da
música, da bebida, e das companhias.
Até a Vila, não é mais Palmira, mas a risada  ainda
pode ser ouvida,  debochando da  burguesia, que 
perdeu a sua  fantasia...
 
 
 
 
 

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Conto poético: A VISITA


Ah, esta minha  querida  Ilha, possuía costumes,
no mínimo, inusitados, se vistos com os olhos de
hoje.
A Cidade se compunha de casas residenciais,
todas térreas, e afastadas  da rua, sem calçamento.
À frente, um portão, como entrada social à
propriedade.
Nos fundos, galinheiro e uma horta viçosa.
Talvez  seja desnecessário  lembrar que telefone,
somente aos ricos era permitido, pelo seu alto

custo. Televisão, só de nome  se conhecia.
Automóvel,  ficava estacionado na  garagem da
imaginação.
Assim, os meios de comunicação, e locomoção, eram
extremamente restritos.
Uma realidade distante da atual.

Chegava, então, o domingo.
Ouvia-se o "bater palmas" no portão.
Era "sua majestade", a visita,  que chegava sem avisar,

quase em cima  do  horário do almoço.
Mas que  maravilha !
Quanta honra,  alguém haver se lembrado daquela
família !
Assassinava-se uma "penosa", colhiam-se verduras

e legumes fresquinhos, mais um pouco de macarrão
na panela, enquanto  a  conversa rolava  na "sala de
visitas". Daí, a origem do nome desta sala, sempre
impecavelmente arrumada, para  estas  ocasiões. 
Hoje, chamada "sala de estar",  de livre acesso a
todos da casa...
Sinto saudade daquela  vida, da gente simples e
querida, e do cachorrinho latindo no portão,  
anunciando a  inesperada visita,  mas  sempre  bem
vinda.