Na área central da minha Cidade, conheci uma bela
e simpática mulher.
Morena, da cor do amanhecer, possuía um invejável
sorriso, emoldurado por um rosto divino.
Educada, delicada, e pobre. Muito pobre, e humilde.
Chamava-se Márcia.
Moradora de um conjunto habitacional, localizado na
periferia.
Vendedora ambulante de loterias, muitas declarações
de amor ouvia.
Era analfabeta, mas possuía perfeita compreensão
da vida.
Muitos homens compravam seus bilhetes, apenas,
para admirar os seus lindos olhos.
Reservada, não falava da sua vida privada.
Expulsa do centro da Cidade, pela administração
municipal, foi vender as suas loterias no município
vizinho, à porta de um banco.
Reencontrei-a num rodeio, vestida de "prenda".
Estava linda !
Tratou-me com carinho, ao me reconhecer.
"Quero que o senhor conheça o meu marido, o amor
da minha vida".
falou-me com tanta ternura, que fiquei curioso para
conhecer o homem que a mereceu, como sua mulher.
Conheceram-se na mais tenra infância, e nunca mais
se distanciaram, emocionalmente.
Ele perdeu os pais, ainda muito jovem.
Sem irmãos, e paraplégico, ela o assumiu, em
casamento.
Disse-me ser a pessoa mais feliz do mundo...
Após uma breve conversa, despediu-se de mim, com
aquele rosto iluminado, e passou a empurrar a cadeira
de rodas, sobre um leito de estrada todo esburacado,
e empoeirado, desaparecendo na primeira esquina.
Aumentou, a partir daí, minha admiração por aquela
mulher, fazendo-me repensar a vida, e na força
gigantesca do amor...