Um homem chorava, copiosamente, à frente de uma
bela casa antiga.
Tentei acalma-lo.
Percebi o seu estado deplorável.
Um maltrapilho, de causar piedade.
Relatou-me:
" Sabes onde moro ?
Em lugar algum. Na rua.
Sabes onde me alimento ? Nas caixas de lixo.
Sabes a quem pertence esta casa linda ?
Também não sei, mas já foi minha. Da minha família.
Sim. Tive uma família.
Tu deves ter uma, não ? Sou um fracassado.
Amei alguém, desesperadamente.
Hoje, ainda a amo, mais do que nunca. Só que, em silêncio.
Não consigo esquece-la. Nem tento.
Creio que só se ama uma vez na vida...
Ela ria do meu amor, da forma como a olhava, como me
vestia...
Chamava-me de "ultrapassado".
Isto me magoava muito. Não esqueço.
Um dia, querendo vencer minhas dificuldades, fui para a
Capital, tentar emprego, estudar. Estas coisas, sabes ?
Peguei uma carona, num caminhão carregado de madeiras.
O motorista foi parado no trajeto, distante, daqui, uns 60 kms.
Estava com uma carga, volumosa, de drogas proibidas.
Fui preso, também, como traficante. Que injustiça !
Ao sair, anos depois, voltei para cá. Fui desprezado por todos, e
aquela mulher... já havia casado, formado uma família.
Mora aí, na casa que já foi minha, e que a vendi para pagar
os advogados.
Recebo, da sua empregada, quase que diariamente, um prato
de comida, por esmola, sem saber que sou eu, o mendigo.
Agora me diga, o que devo fazer ? "
Respondi-lhe, com toda segurança:
Que tal começar, aceitando a minha compreensão ?
Temos uma história de vida, semelhante.
Seus olhos começaram a brilhar , e o homem saiu da frente do
espelho...
Sinval
ResponderExcluirEnquanto conto poético poderá ser considerado empolgante. Está muito está muito para esta época, em que o turbilhão da vida, pode arrastar, para caminhos inusitados.
Abraços
Meu amigo, Daniel Costa !
ExcluirCreio que te assiste toda razão.
Os atropelos da vida, não se
preocupam em fazer justiça. Este
conto se passou numa cidade do meu
Estado, e conheci os personagens.
Um fraterno abraço, aqui do Brasil.
Sinval.