Praia dos Ingleses, nesta minha Ilha paradisíaca.
Uma bela manhã de outono, prenunciava um dia calmo,
de atividades pesqueiras, semelhante a tantos outros que
já havia presenciado.
Parei minha caminhada, e me pus a observar pescadores
artesanais, em plena operação.
Do rústico rancho, retiraram uma pequena embarcação,
carregada com uma rede, destinada à captura de um
enorme cardume, avistado da praia.
Neste momento, instala-se um frenesi, comum diante
da ansiedade por capturar os peixes.
Todos falam, ao mesmo tempo, coisas diferentes mas,
no final, se entendem, e remam na mesma direção.
Feito o cerco, estendidos os cabos até a praia, começa
o trabalho de "arrasto".
Há necessidade de muita força, e isto sobra nos braços
daqueles homens, já acostumados desde meninos.
Chamou-me a especial atenção, um velho pescador,
típico homem de um passado muito distante...
Pés descalços, encarquilhados pelo tempo, vestindo
uma camisa, feita de tecido usado em saco de farinha,
calça arregaçada até à altura dos joelhos, e à cabeça,
evidente, o chapéu de palha.
À boca, um "palheiro" ainda apagado.
Observei suas mãos.
Já não se fechavam ao redor do cabo, mas bastava a sua
presença, para dar segurança emocional aos homens, bem
mais jovens.
O resultado da pescaria foi ótimo, bem como a divisão por
"quinhões".
O Senhor Anastácio retirou do bolso uma pequena corda,
feita de "embira" e, pacientemente, organizou a penca de
peixes, a ser levada para sua honrada casa de pescador.
Fiquei imaginando a felicidade daquele homem, ao chegar em
sua residência, e poder entregar a sua velha companheira, o
tão precioso alimento, fruto, ainda, do seu trabalho.
Finalmente, encontrei a explicação, para o ardente brilho de
felicidade em seu olhar.
Naquela penca de peixes, estava, também, amarrada a sua
dignidade, pelo reconhecimento do seu trabalho honesto.
Ainda se sentia útil...