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quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Conto poético: GEMIDOS DO PASSADO

          
 
 
             Casa centenária de hospedagem social.
Corredores intermináveis, avisos pelas paredes.
Proibido... proibido...
Tudo é proibido, até de ser feliz.
Vozes em desespero, olhos opacos e fixos no
chão, como à procura de algo, ou de uma ilusão.
Também é proibido sorrir, pois a saudade,
madrasta, não permite.
Chorar, sim... e não há pressa para cessar, nem
lágrimas a derramar.
Conversam consigo mesmo,  já em  alucinação.
Observei um homem muito pequeno, um anão,
preso a uma cadeira de rodas.
Ao cumprimenta-lo, disse-me:
" Sabes há quanto tempo estou nesta casa ?
Há  29 anos... sem caminhar, dependendo
destas rodas, para me movimentar.
Não recebo visitas... nem de parentes, ou
amigos.
Fico muito feliz quando alguém  me dá atenção,
assim como tu, neste momento.
Não vá embora, por favor, fica mais tempo
comigo".
Aquele gesto, de um homem tão fragilizado,
ensinou-me a repensar tudo o que aprendi na
vida.
Fui embora, mas meu coração, rebelde,
permaneceu  naquele asilo.
A  batalha, desigual, é pela reconquista da
dignidade, no meio de gemidos que ecoam do
passado.
 
 

8 comentários:

  1. Uma verdade crua deste nosso tempo.
    Deixamos de ter espaço para os nossos velhos e os lares nem sempre estão vocacionados para os tratar como eles merecem.
    Proíbem de proibir até de se queixar ou sorrir.

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    1. Olá, amigo luís rodrigues coelho coelho !
      Quem pretender se entristecer, é só
      visitar um asilo de idosos que, com raras
      exceções, é um pavor.
      Muito grato pela opinião e atenção.
      Um fraterno abraço.
      Sinval.

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  2. Sinval , é uma verdade tão triste a que acontece nos asilos . Excelente seu post a nos lembrar destes abandonados irmãos . Abraços .

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    1. Oi, querida amiga, Marisa Giclio !
      Verdade. Dá-me um aperto no peito, esta
      realidade. É muito difícil encara-la... e a
      revolta nos domina.
      Muito agradecido pela nobre atenção, e um
      ótimo final de semana, com um fraterno
      abraço.
      Sinval.

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  3. Olá, amigo!
    Apesar da melancolia explícita, achei seu Conto fenomenal, pois apresenta, lamentavelmente, a realidade...
    Forte abraço, e um ótimo fim de semana.
    P.S – vendo a resposta dada por você, lembrei-me de mencionar que suas respostas não chegam até mim; não as vejo na minha caixa de entrada.

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    Respostas
    1. Olá, nobre amigo, " Vendedor de Ilusão " !
      Como me honra receber a tua presença, e o
      comentário ! Fico imensamente grato.
      Quanto as "respostas", vou tentar desvendar o
      "mistério".
      Muito agradecido e um ótimo final de semana.
      Um fraterno abraço.
      Sinval.

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  4. Conheço a realidade que descreve, amigo Sinval. O seu poema é tão realista que comove e choca ao mesmo tempo...
    Um beijo.

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    1. Ah, minha querida amiga, Graça Pires !
      Diante de uma realidade social, tão cruel como esta,
      sinto-me igualmente fragilizado. Tudo o que posso
      fazer é muito pouco...
      Muito agradecido, e um carinhoso abraço, aqui do
      Brasil.
      Sinval.

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