pulsando

Seguidores

quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Conto Poético : O VELHO E A MOCHILA




Um velho homem, já cansado de andar e
sem destino, sentou-se ao "meio fio" da 
calçada, frente a minha morada.
Ofereci-lhe água fresca e uma cadeira
confortável, à sombra ventilada de um   
cajueiro perfumado.  
Seus pés descalços, quase em chagas,
pediam socorro. Não aguentavam  mais
o chão abrasivo.
Ofertei-lhe banheiro, uma muda de roupas
limpas,  calçados e refeição do meio dia...
Foi grande a transformação !
Notei, ali, um homem  desprovido de   
ambição e  educado, mas  magoado com 
a vida, ou com alguém.
Espontaneamente,  satisfez a minha 
curiosidade, ao mostrar o que trazia em sua
mochila.
Quase nada havia, além de recordações,
fotografias, bilhetes e muita saudade de um
passado, que não se despede do presente...
Migalhas  de pão, que colheu no seu trajeto 
sem fim,  negavam-se abandonar as poucas
 quinquilharias que carregava.
Ao apertar minha mão, emocionado  pela
gratidão,  disse-me:
" Esta mochila não pode carregar muitas
 coisas materiais.
É o  depósito do meu  universo imaginário,
da eterna saudade que transborda os limites do coração.
Nela,  deposito os versos que componho, sem 
escrever uma só letra... "
Foi embora, deixando-me um largo sorriso, sem 
dentes, mas uma alma transparente querendo

ficar. 
E, em sua mochila encantada  levou 
 a minha saudade, com vontade de querer voltar !
Sinval Santos da Silveira

10 comentários:

  1. Que lindo!
    Essa leitura traz um resgate do que somos, do que fomos e no que nos tornaremos. Sempre as lembranças em nossa "mochila mental"... É só o que levaremos...
    Abraço.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Querida Amiga/Poetisa, Célia Rangel !
      Muito Grato pela generosidade do
      Comentário. Estás coberta de razão, em
      tuas sábias observações.
      Um fraterno abraço, aqui do Brasil.
      Sinval.

      Excluir
  2. um belo texto como síntese de uma vida que rica de sonhos e lembranças é um sopro de esperança ...
    Um abraço

    ResponderExcluir
  3. Querida Amiga/Cientista Social, Guaraciaba
    Perides !
    Ainda que parecendo caminhar sem destino,
    procurava ou fugia de alguma coisa...
    Mereceu o meu respeito e apoio.
    Muito grato pelo carinhoso comentário.
    Uma ótima semana e um fraterno abraço.
    Sinval.

    ResponderExcluir
  4. Comovente este seu poema narrativo, meu Amigo Sinval. A vida é por vezes muito dura para alguns que, apesar de tudo, conservam o fulgor da alma...
    Uma boa semana.
    Um beijo, daqui de Portugal.

    ResponderExcluir
  5. Belíssimo ! Parabéns pela sensibilidade, de emocionar!
    Um texto forte , traduzindo uma vida que ainda sobrevive porque tem suas lembranças...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi, Escritora/Poetisa, Cristina Luzia Fontes !
      Verdade. São heróis do sofrimento...
      Muito agradecido pelo carinho, querida !
      Um bom dia.
      Sinval.

      Excluir
  6. Querida Amiga, Mestra/Poetisa, Graça Pires !
    O sofrimento daquele velho homem, a si
    mesmo imposto, é interminável.
    Comoveu-me...
    Muito grato pela atenção e um carinhoso
    abraço, aqui do Brasil.
    Sinval.



    ResponderExcluir
  7. Quando ele se foi a mochila estava mais pesada, carregava mais alguma coisa: a esperança.

    Belo texto, Sinval.

    ResponderExcluir
  8. Querida Poetisa, Sônia Brandão !
    Bela observação em teu generoso
    comentário.
    Muito agradecido e um feliz final
    de semana.
    Sinval.

    ResponderExcluir

Querido leitor...seu comentário é muito importante para mim. Obrigado.