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sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Conto poético: A DECADÊNCIA DA PROSTITUTA



Sentada na  mureta do jardim, lançava  todo 
o charme que lhe restou da vida, em cima dos
homens que passeavam a sua frente.
Sorria, mesmo sem achar graça, como se 
aqueles fossem os últimos trunfos de 
conquistas.
Cheirava uma rosa, já sem vida, e fingia
prestar atenção na voz do sino, vinda do
campanário.
Demonstrava carinho ao pombo,  que cortejava
a sua  amada,   próximo aos seus pés.
Bem vestida e  exalando açucena,  parecia 
ansiosa, esperando por  alguém, ou por qualquer 
um,  que já estava  atrasado.
Consultou  o relógio uma dezena de vezes, 
agora, assinalando mais de  22,00h.
Nem os homens  mais velhos, sequer por 
educação, a cumprimentavam.
Muitas jovens, na área, tiravam o seu brilho,
já ofuscado pelo tempo...
Entristecida e só,  foi dormir numa pensão antiga, 
frente ao jardim.
Foi a última vez que a vi.
Quando os sinos dobram,  parecem  chamar por 
aquela mulher, hoje, vestindo  uniforme  num asilo
de idosos, bem próximo ao jardim  onde  reinou,
soberanamente, por muitos e muitos anos.
Nem mesmo os seus  antigos "súditos",  seriam 
capazes de  reconhece-la...
 
 
Sinval Silveira

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Conto poético. O FAROLEIRO



As grossas ondas lambem  as  escarpas rochosas
da pequena Ilha oceânica, provocando estrondos
assustadores.
Os poucos  arbustos  se curvam  aos fortes ventos, 
vindos do mar.
A visão da terra firme é muito distante.
Noite escura, chuvosa e fria...
Aos navios e  barcos pesqueiros, um grande farol
sinaliza  "zona de perigo".
No  seu interior, um homem solitário presta 
relevantes  serviços à  navegação marítima.
É o  faroleiro.  Um  herói !
Missionário da  bonanza, zelador da segurança,
"Anjo da Guarda"  do passante !
Durante  o dia, aproveitando a trégua da obrigação,
escreve contos vivenciados  na solidão.
Diz  receber a visita  de lindas sereias, na madrugada,
formando um lindo coral de vozes !
Submarinos,  que ancoram nas proximidades da Ilha, 
presenteando-o com  mimos,  vindos de muito longe.
Gaivotas gigantes, que habitam aquelas  águas, 
vigiando  embarcações naufragadas nas 
profundezas do mar.
Ao despedir-se, convidou-me  para testemunhar
a  veracidade destes  contos, permanecendo uma
noite na sua  "Ilha da Imaginação".
Agradeci, sensibilizado, pois já possuo a minha,
com histórias  semelhantes, igualmente "verídicas".
Sinval Silveira

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Poema: O PODEROSO BRUXO



Sentou-se no topo da montanha, olhou a linda
paisagem e resolveu rapta-la.
Anestesiou o mar, proibindo o banho  das encostas,  
sucumbindo a vida.
Sepultou as gaivotas no azul do céu.
Proibiu a açucena de exalar o seu embriagador
perfume e calou o canto dos passarinhos.
O vento não mais balançou as verdes folhas do
coqueiral, e as ondas adormeceram, preguiçosamente.
O pescador,  enfeitiçado,  não mais conseguiu recolher
a rede, nem  retornar  ao trapiche.
Finalmente, sarcasticamente sorriu, lavou os pincéis e
desceu a montanha, aplaudido pelo mundo das artes !
 
Sinval Silveira




quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Poema: SONHO DE ESPANTALHO


Condenado,  cumpro  uma  cruel missão...
Espantar  sabiá, gralha azul e  porco  do mato.
Sinto vergonha de fazer este  papel, mesmo sendo um 
espantalho.
Estou vestido de gente,  mas sem poder andar, dormir 
ou  falar.
Tenho compaixão dos  bichinhos, morrendo  de fome e 
de medo, não podendo desta roça  desfrutar.
Sou feito de palha seca, chapéu de aba larga e assustador,
parecendo uma cena de terror.
Consigo assustar a todos, menos  evitar  o  veneno que
sufoca este  lugar.
De braços abertos, no calor do sol  e  no  sereno da 
noite,  sonho em  ser, apenas,  o que pareço:  
Um  espantalho na  plantação,  um  palhaço na  vizinhança, 
uma brincadeira de  criança !
Quando passarem por mim, me olhem  com admiração.
Minh´alma é cheia de sentimentos, transbordando de 
amor, meu coração !
É assim que sonho ser.
Sinval Silveira

quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Poema: UM SÍMBOLO À EMOÇÃO


Quero  simbolizar  a  emoção !
Vejo estátuas de  corpo inteiro, meio corpo e,
até,  monumento sem corpo !
Nada me  emociona. 
É preciso mais...
Tem que falar aos amantes,  inspirar  os viajantes,
perfumar o Céu  !
Obra da natureza,  transpirar  alegria e  nobreza,
berçando  contos e poemas, mensageiros  das
paixões  !
Ter como residência a  alma do jardineiro,  ouvir
os campanários  e  aplaudir o cancioneiro !
Não carecer de  pedestal,  esbanjando  encantos, 
mesmo na presença do  pranto.
Tu,  somente tu,  ROSA  AMARELA, dispensas  o 
charme da  passarela,  para brilhar os  olhos  dela !
És o símbolo da emoção e carcereira  da minha 
eterna admiração !
Sinval Silveira