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terça-feira, 24 de setembro de 2019

Conto poético: SÓCRATES



Atenas te viu  nascer, admirável Filósofo, nos  anos 470 - A.C.
É muita distância, em tempo, do mundo contemporâneo.
Fico a imaginar o orgulho da  Grécia, em te registrar como
filho !
Nossa, como gostaria de te haver  conhecido, pessoalmente,
para   observar as tuas excentricidades !
É verdade que não tinhas o  hábito de tomar banho ?
E daí ?
Conheço muita gente que também não o tem, mesmo 
com todo o conforto que a vida moderna oferece.
Achavas o " belo", algo sem nenhuma importância ?
Uma questão de opinião.
Andar descalço é muito  confortável e te invejo, Amigo !
Dizem que, quando pensavas em alguma coisa,  
ficavas tão concentrado, ao ponto de permaneceres imóvel,
ainda que sobre a neve...
Que resistência, homem !
Não gostavas de escrever ou, pelo menos, não deixaste
escritos os teus feitos ?
Respeito a tua opinião,  mas  Platão  te alfinetou por isto.
Olha, correste o risco de ser transformado num mito, pois
a história  chegou duvidar da tua existência. 
Mas este episódio foi superado. Fica calmo.
O Romano, Cícero,  te concedeu o mérito de  fazer descer 
dos céus à terra, os conceitos de filosofia !
Também, não é para menos. Formaste um trio de peso, 
com os Filósofos Platão e Aristóteles !
Quem ganhou foi o ocidente !
Passaste a maior parte do teu tempo discutindo sobre 
justiça, verdade e virtude, com os teus alunos ?
Mesmo, assim, foste  julgado e condenado por corrupção
de mentes jovens e por heresia ?
Fico confuso ...  não havia liberdade de expressão ?
Que maldade, homem !
Eras feio, mesmo, ou intriga dos que não gostavam de ti ?
Mas te reconheceram como o mais sábio dos homens.
Com 55 anos de idade, Xenipa  aceitou casar contigo.
Dizem que era uma mulher insuportável. Também, com 
um nome deste...
Coitado de ti, Amigo. Deves ter sofrido  muito, até os
71 anos de idade.
Trouxeste ao mundo tanta sabedoria, como tua mãe,
parteira, trouxe  vidas !
Mas que personalidade forte, meu Amigo!
Não te dobraste às imposições, nem que isto pudesse  custar a
tua vida.
E as tuas últimas palavras foram para lembrar que devias um galo
a um amigo.
O que é isto,  Senhor Gênio, não precisavas exagerar !
Olha, jamais desejarei ser um filósofo. 
É só  humildade, com o risco permanente da perda da 
dignidade.

Sinval Silveira

sexta-feira, 13 de setembro de 2019

Poema: MAGIA LAGEANA


Paredões  que se transformam em calabouços gelados,
paralisando os  seres  alados.
O grito de guerra  do gavião  valente,  entala na garganta,
amedrontado.
O vento gelado sopra sem piedade.
A  água  dura do riacho, não  dá  de  beber ao  animal
sedento.
A coruja  esconde a cabeça sob as asas,  procurando se
aquecer.
No  rancho  do  fazendeiro,  somente  um fio de fumaça se
atreve  no  terreiro...
Nem  o  "caboclo"  acoa.
Não é bobo, fica  embaixo do fogão, esquentando  sua lã
de proteção, enquanto a chapa quente prepara  o chimarrão. 
Agora, com o sol  a pino, gorjea  a passarada, o boi bebe
água na corredeira, e a gralha  azul  canta  faceira !
Lá,  no despenhadeiro,  sobrevoa  o gavião guerreiro,  
convidando  o mundo inteiro  para "roncar"  um  mate 
quente e amargo, na cuia do chimarrão !
A sombra  fria  da  Serra Lageana,  se  rende ao sorriso
franco do povo hospitaleiro, e ao  sabor mágico do fruto
do pinheiro ! 


Sinval Silveira

segunda-feira, 2 de setembro de 2019

Poema: AMAZÕNIA, O GRITO QUE NÃO SE OUVE






" Estou ardendo em chamas".
As vidas, que agasalho,  em pânico  pedem socorro.
Ninguém escuta meu grito. 
Nem o eco responde.
O fogo não sabe  a extensão do meu sofrimento.
Tento te avisar,  com sinais de densa fumaça, mas
não  acreditas.
O mundo precisa de mim.
Os reinos precisam de mim !
O tuiuiu abandonou seu ninho e as plantas  viraram
cinzas.
Parece  que o inferno se mudou para cá.
Quero pedir socorro  a Deus, mas não enxergo o Céu.
Na Terra, ninguém me escuta.
O beija -flor leva água no biquinho,  mas  a fogueira
é grande demais.
Os rios tentam, em vão,  sair do leito, para afogar o
dragão.
A chuva parece temer o foco,  caindo  distante  daqui.
Meu desespero é grande...
Até a rima destes versos,  como Joana D´Arc, foi
queimada na fogueira. "

Sinval Silveira