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segunda-feira, 27 de julho de 2020

Conto poético; GAFANHOTO






Acordei com um zumbido estranho na vidraça...
Parecias faminto, comendo tudo o que vias pela frente.
Em poucos minutos, a pequena horta caseira, foi 
devorada.
Tua fome, nada sacia.
O teu apelido  é  "praga", só porque sentes  necessidade 
de comer. 
Mas, também, sinto o mesmo !
Minha  espécie  necessita de  alimento, tanto quanto a tua .
 Somos do mesmo reino !
Na infância, foste parte das minhas inocentes fantasias...
Cantarolei,  por muito tempo, uma música em tua homenagem.
Enterrei uma garrafa em meu quintal, contigo dentro, para
te proteger dos venenos que espalharam pelo vilarejo.
Quando adulto,  fizeste parte dos meus sonhos e pesadelos...
Voltei ao lugar do enterro, dezenas de anos após.
Somente a garrafa lá estava. Tu, não...
Deus ouviu  minhas preces, pois tenho certeza que
dentre esses quatrocentos milhões de gafanhotos,  que
estão  chegando, um és tu. meu amigo !
Sei que me reconhecerás !
Sejas bem-vindo  !
Terminou meu  pesadelo.
 Recomeçou minha fantasia !
Consegui te salvar !




segunda-feira, 20 de julho de 2020

Poema: PREFIRO SER POETA


Mesmo que não seja verdade, finjo acreditar !
Vivo noutro mundo.
Sei entender. 
Preciso entender...
A vida real não mais me satisfaz.
Necessito de outra lua, de novas estrelas, de um
novo sol !
Preciso  acordar com outro gorjear, com um novo
amanhecer, com os aplausos das borboletas !
Quero as flores com outros perfumes e cores.
O mar mudando o seu leito, abraçando o  amor,
sorrindo de felicidade !
Finjo que tudo isto  é  verdade !
Saturei dos olhares sem ternura, dos sorrisos sem
graça e dos abraços,  com amargura.
Quero sentir o calor de um aperto de mão !
A vida real, não mais me satisfaz.
Prefiro ser Poeta !

quinta-feira, 9 de julho de 2020

Poema : LAMENTO


 
Tentarei confortar estas lágrimas, que despencam sobre minha face...
Não as enxugarei, em respeito aos seus sentimentos, que são puros e verdadeiros.
Direi, apenas, que  continuem rolando, até que meus olhos sequem...
Até lá, viverei da saudade que deixou aquele amor .
Foi tão forte que imaginei somente Deus para  nos separar.
Precisou algo invisível, poderoso o suficiente para nos fragilizar,
emocionalmente.
Entretanto,  no meu aparente silêncio, de que reclamas, estive
sempre recolhido aos meus pensamentos, agradecendo e pedindo
a Deus por tua felicidade, junto a  mim, sem machucar ninguém.
Deus, equivocadamente, interpretou minhas orações.
Acabou te machucando e, também, a mim...
Agora, trôpego, pois não tenho mais em quem me apoiar,  sigo
abraçado a esta saudade, que já  é imensa, saciando a sede deste
amor, na fonte quente destas  teimosas, mas verdadeiras, lágrimas.
Sabes onde me encontrar e o endereço do meu coração, que 
estará sempre de portas abertas, esperando a volta dos teus passos.
Um teimoso abraço... muito sincero, no silêncio do meu
 "lamento ".

Sinval Silveira

quarta-feira, 1 de julho de 2020

Conto poético: EU VENDI FIADO...


Minha geração  e, também, as anteriores, conviveram com
o terror  desta  inibidora frase:  " EU  VENDI  FIADO ".
os comerciantes a colocavam em locais das lojas, bem visíveis
aos olhos da freguesia.
Era ilustrada pela foto de um homem magro, mal vestido e,
ao canto do estabelecimento, um cachorro com as costelas 
à mostra.
Representava o "calote", o fracasso e a falência.
Ao lado, no mesmo quadro,  outra frase:  " EU  VENDI  A 
DINHEIRO ", ilustrada por um homem  corpulento, fumando
um  vistoso charuto, acompanhado  de seu cachorro bem
alimentado.
Como as coisas mudaram...
O termo " fiado "  foi substituído por  " prestação ", onde se
realizam quase todas as vendas.
As placas ilustrativas e,  talvez  ofensivas, desapareceram
das paredes dos comerciantes, sendo substituídas por
ofertas a perder de vista .
Certamente, aquele homem gordo, da ilustração, morreu
de diabete, colesterol altíssimo, câncer de pulmão ou 
doenças cardíacas.
O magérrimo,  foi devorado  pela tuberculosee pelo stress.
O vendedor das placas, antes bem sucedido,  FALIU !
É, os tempos mudaram mesmo, e não foi por  culpa dos
velhacos...

SINVAL SANTOS DA SILVEIRA.