Centro antigo da minha Cidade.
Ruas estreitas, prédios tombados, mal iluminados.
Fazem parte da história.
Lembram o bem e o mau deste lugar.
Há mendigos, infelizes criaturas, sem endereços,
sem amigos, sem conhecidos...
São fortes. Sobrevivem.
Ah, sim, muitas prostitutas.
No meio desta legião de zumbis sociais, avisto um
ser pequeno, esquálio, maltrapilho.
Bípede, caminha.
Curioso, vou ao seu encontro.
É um ser humano ! Uma menina com, aproximadamente,
13 anos. Nem ela sabe ao certo.
Veste roupas de adulto e doadas, também desdentada.
Arisca, como o vento sul, evita meu contato.
Converso com uma mulher, que faz "ponto" naquela rua.
Satisfaço a minha curiosidade.
É filha de uma lata de lixo, pois ninguém quis assumir o
parto.
Disse-me mais :
"Pode, até, ser filha de alguém da sociedade, que não
podia assumir a vergonha de ter um filho.
Por aqui, na época em que foi encontrada, nenhuma das
mulheres estava grávida.
Então, a vó Zita a criou como pode, por piedade.
Ela se nega a trabalhar como nos.
Muitos fregueses querem ela, pagam bem, mas ela
não aceita. Diz querer ser gente diferente deste mundo.
É uma boba..."
Pois bem.
Esta "boba" é, hoje, uma respeitabilíssima senhora casada,
Assistente Social, dedicada às crianças abandonadas da
minha Cidade... mesmo sendo filha de uma lata de lixo.
Não sei bem onde está a poesia deste conto.
Mas, verdade, também é poesia, principalmente, nesta época
de tanta hipocrisia.
E você diz que não sabe onde está a poesia aqui? Quer maior poesia do que aquela que brota do caos? Quer maior poesia do que essa força de viver e vencer?
ResponderExcluirÉ sempre bom passar por aqui.
Grande abraço.
Olá, Sônia Brandão !
ResponderExcluirMuito grato, querida.
É que conheço a criatura. Minha amiga.
Fico entristecido com o seu passado,
embora orgulhoso do presente.
Um abração nessa alma maravilhosa.
Sinval