" Moro no mundo.
Estou casado, há mais de trinta anos, com uma
filósofa, ou melhor, com uma filosofia de vida, e
nos damos muito bem.
Trabalhei no garimpo, durante uns 14 anos,
e saí mais pobre do que quando entrei.
Por facínoras, que habitavam aquele lugar, fui
ameaçado de morte.
Mas estou vivo, e nem sei como. Certamente,
graças a Deus.
Esta minha aparência, cabelos e barba por
fazer, além de maltrapilho, e cheirando mal,
é por exigência da minha fiel companheira.
A sociedade, de um modo geral, me rejeita.
Raramente alguém conversa comigo, ou me
escuta, como neste exato momento.
Hoje sou um pensador, um artista artesão.
Fico feliz quando vejo alguém desfilando com
objetos, criados por mim.
Deixa-me mais alegre do que o dinheiro que
recebo, na sua venda. Este, eu entrego todo
a minha companheira, que me retribui com a
renovação da minha felicidade..."
Apertou minha mão, e foi embora.
Observei os seus passos, lentos, parando à
frente de cada turista, sentado ou deitado na
areia, à beira mar, oferecendo o seu artesanato.
Fiquei pensando... curioso... que companheira
espetacular é essa, que supre todas as
necessidades de um homem, embora roubando
o seu amor próprio, transformando-o num miserável
zumbi ?
Dois dias depois, por coincidência, encontrei-o,
novamente.
Cumprimentos renovados, e já com o direito de
" velhos conhecidos", perguntei por sua companheira.
Respondeu, em tom irônico
"Ah, vai bem sim. A Marijuana sempre está ótima.
Mas, eu, preciso de ajuda, urgente..."
Nem posso traduzir, o que escutei daquele homem...