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terça-feira, 29 de abril de 2014

Conto poético: A L Z I R A


 
 
Impossível, defini-la.
Santa, certamente não, pois seria muito pouco.
Fico emocionado, em relembrar esta história.
Alzira, posso garantir, veio ao mundo por um
equívoco da natureza.
Ninguém pode ser tão generosa, e pura.
Desprovida de ciúme, maldade,  e ambição, fazia
do seu coração a morada da resignação.
Simplesmente, admirável !
Trazia estes predicados, em seus olhos estampados.
Em sua alma, a alvura da inocência, a bravura de
mulher.
Doadora de sangue, foi além.
Do seu corpo sagrado, transferiu ao sobrinho amado,
um pedaço que Deus lhe  deu.
Com um sorriso naquela face serena, referindo ao
seu amor,  a mim, confidenciou:
" Ele sai todos os finais de semana, para se  divertir 
com os amigos. Nada questiono.
Não quero, e não posso interferir na sua liberdade.
Retorna no domingo, já no final da tarde, exausto.
Eu disponho deste tempo para limpar, arrumar a
casa, e costurar para alguns clientes, ajudando no
orçamento familiar.
 Não posso vê-lo  triste. É o amor da minha vida."
A natureza percebeu que o ser humano, ainda não
estava preparado, para conviver com uma  criatura
tão pura, e a levou de volta, prematuramente... 
Nunca  a esqueci, embora tantos anos já se passaram.
Hoje, faço comparações, procuro nas multidões, e não
encontro outra "Alzira ".
 
 
 

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Conto poético: A MAGIA DE UM NOVO AMOR


 
Ouvi, atentamente, a história de uma mulher
apaixonada.
O expediente chegara ao final, naquele escritório.
Eu dispunha de tempo, muito tempo, para ouvi-la.
Era a expressão da  angústia.
Esfregava as mãos, que eu já havia sentido, geladas.
E  seu pranto, era de muita dor...
Seu olhar parecia distante, perdido em algum lugar
que ela, somente ela, conhecia muito bem.
Colocou um ponto final em seus pesadelos.
Fiquei confuso.
Talvez  fosse o início de uma nova  vida, o  nascimento
de um amor, que jamais havia  conhecido.
Disse-me, com os olhos transbordando de lágrimas:
" Já fui jovem, e muito bonita.  
Assumi compromissos, fui amada, muito amada, mas
nunca amei.
Não sei que apelido receberei  da sociedade, mas não me
importo.
É a mesma sociedade que vigiou os meus  passos, durante
todos estes anos de infelicidade.
Que nunca me viu sorrir, somente chorar, e nem percebeu
a cor das minhas lágrimas... que, posso garantir, era
cinza, de tanto sofrimento.
Agora, estou vivendo  um verdadeiro amor !
É tudo o que sonhei na vida.
Coisas simples, sabe amigo ?
Um beijo, ao amanhecer, e outro, ao anoitecer, falando
que me ama.
Uma rosa em meu aniversário, e um abraço carinhoso,
olhando nos meus olhos, e me ver  como sua mulher ...
Achas  muito, amigo ?
Pois nunca tive isto na vida. Hoje tenho !
Sinto-me a mulher mais feliz do mundo ! "
Fiquei emocionado ao ouvi-la, e aprendi muito.
 

domingo, 20 de abril de 2014

POEMA: MEU HERÓI ESTÁ VIVO

Lamento, profundamente,  a tua dor, compatriota !
No fundo da bateia, os  gritos de liberdade te levaram
às portas da maldade, não te poupando  a traição. 
Não conheceste  a  sinceridade, de quem a ti se juntou.
Lealdade, somente do teu cavalo,  tropeiro e errante,
da voz do teu berrante, que  do campo,  ainda  se pode
ouvir o triste lamento.
Teus sentimentos, transformaram-se  em sofrimento.
De dentista a Alferes, Dragão de Polícia, teu coração
ansioso se inflou.
Teu sonho era  gigante, do tamanho da minha Pátria,
não caberia num coração, ocupado  pela  ambição,
ainda que fosse de um rei.
Impossível dividir  esta riqueza, com a nobreza, pois
é sonho de amor !
Sei de alguém que morreu, assim,  não enforcado e
esquartejado, como tu, mas pregado numa cruz...
Também doeu, Joaquim, e por amor a  ti, a mim...,
a todos.
Ninguém, nem mesmo um rei, poderia  sufocar a
voz do coração.
Não chegaste ouvir o grito de liberdade, após o teu
gemido de dor.
Teus sonhos continuam vivos, transformaram-se em
anseios de decência, de crimes em ausência, de
honestidade em presença !
O Brasil não precisa mais da tua bateia, do teu cavalo
tropeiro, do dentista, com dor, ou do Dragão da Polícia.
Minha Pátria, nobre Patriota Tiradentes, precisa, apenas,
te manter vivo, ainda que somente no coração  dos poetas.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Poema: SENTIMENTOS ENJAULADOS


 
Em meus pensamentos, estás.
Não me libertas deste forte sentimento de
te amar.
Sem resposta, debate-se meu coração, em
permanente aflição, de tanta saudade.
Dia e noite, sequer um minuto, não consigo te
esquecer.
Sinto-me dominado por tua indiferença,
abraçado  à ilusão de merecer, pelo menos,  
um  olhar.
O ciúme, esta cruel imaginação, aumenta
o meu sofrer, não me deixando viver.
Compondo estes versos, com tua sombra
converso, que  de  ti  vem falar.
Vejo passar  o vento recadeiro, que tantas
vezes foi  meu companheiro, agora, nenuma
palavra  tua me  traz.
Aflito, o mar parece querer alguma coisa me
dizer, mas não consigo entender.
As gaivotas, agitadas, não pescando  na 
madrugada, só conseguem chorar.
Minhas mãos,  geladas e trêmulas, reclamam o
teu calor.
Já deitado, com a metade da  cama vazia, sinto
falta do teu amor.
Desesperado, penso em Deus, mas o teu perfume,
impregnado em minh'alma, não me deixa rezar.
No escuro, vejo o teu vulto gargalhando e, sem
piedade, fecha a porta do quarto, me enjaulando
neste lugar.

sábado, 12 de abril de 2014

Conto poético: AEROMOÇA


 
 
Uma viagem aérea, como  tantas outras.
O trajeto, Brasília /  Rio de Janeiro.
A Empresa, "Air France, " propiciando conforto internacional
aos seus  passageiros.
Na poltrona vizinha, meu colega de escritório. 
Ainda na pista, iniciou-se  uma agradável conversa, para
afastar  o "stress" profissional daquele dia.
Repentinamente, uma voz feminina, meiga, solicita-nos
"colocar a poltrona na posição vertical."
É a aeromoça... deslumbrantemente  linda !
Fascinante, até, posso afirmar.
Um "presente," daquela   Empresa, para encher os olhos
dos seus clientes.
Com um sotaque charmoso, ostentava quatro bandeiras
internacionais, em seu impecável, e vistoso uniforme.
Poliglota !
Meu amigo emudeceu, paralisou... encerrando a conversa
comigo.
Ficou hipnotizado, diante da  Aline, seu nome gravado na
plaqueta funcional.
Ao desembarcar, jogou todo o seu charme para cima da moça,
repetindo os agradecimentos, pelo menos,  por três  vezes.
Recebeu, apenas, uma "boa noite", como todos os demais
passageiros, e no mesmo tom, educado.
Guardou, em sua pasta, o guardanapo como suvenir,
dizendo-me que conseguia sentir o cheiro  das suas mãos.
Desesperado, já no saguão, conseguiu aproximar-se do
comandante da aeronave,  e lhe fez inúmeras perguntas
sobre a Empresa e, claro, a tripulação...
Aline, foi o ponto central das suas curiosidades.
Disse-lhe, então,  o comandante:
" Ela é de nacionalidade francesa.
Só trabalha  em voos internacionais, por sua facilidade de
comunicação. É uma mulher  admirável ! 
Em todas as  viagens, sempre alguém  quer saber alguma
coisa a respeito dela. Eu compreendo.
Estamos de casamento marcado para este ano.
Eu, também, me apaixonei por ela. "
Emudeceu, novamente...
Voltou ao aeroporto, na manhã seguinte, para ver a partida
daquela aeronave, com destino a Europa.
Seus olhos, marejados pela emoção, acompanharam o avião,
até sumir nas alturas de um lindo céu azul, da cor do uniforme
da aeromoça !
Em terra, permaneceu o sofrimento de uma paixão, realimentada
sempre que olha para um  " Céu de Brigadeiro. "
 
 

terça-feira, 8 de abril de 2014

Conto poético: CONFISSÕES DE UM HOMEM


Esta história, bem que merece um "longa metragem ".
Fins do século XIX, é a âncora do tempo, com o regime

escravagista, ainda em plena vigência.

Brasil Império, às portas da República.
Imagino a efervescência  política...
A via marítima, era a única possibilidade de deslocamento pela   costa.
Neste ponto, aparece o nosso personagem, real, Antônio Fernandes de Oliveira.

Negociante, marinheiro - barqueiro, dono de embarcação movida
à vela.
Navegava o trajeto  Laguna / São Francisco do Sul, Cidades Catarinenses, históricas e misteriosas, por  estarem entre as mais antigas do País.

Nesta rota, negociava mercadorias em vários portos.
Homem trabalhador, corajoso e enérgico.
Um mercador, por excelência, e bem sucedido.

Entretanto, somente no final da vida, revelou segredos guardados  por muitos  anos.

Confessou, no leito de morte, a sua filha mais velha:
"Tenho consciência de tudo o que fiz.
Não devo dinheiro à ninguém. Portanto, se baterem  à porta,
cobrando dívidas, não pague. Nada devo.

Sempre cuidei muito bem dos meus negócios.
Mas, se disserem que eu tive uma mulher, em cada porto,
acredita, é verdade.
Tua mãe sempre teve razão, em suas desconfianças a meu

respeito.
Fiz tudo por amor. Talvez por solidão, sentida nas longas e
solitárias viagens, por estes mares de Deus. 
Viajava dia e noite, sob à luz do luar, ou do sol escaldante.

Meu companheiro, sempre foi o vento.
Assobiava no mastro, parecendo comigo conversar, a relembrar
cada amor, aumentando a minha saudade...

Tu  tens outros irmãos, fora deste lar. Receba-os bem, se vierem
por aqui.
Caso alguém diga alguma coisa, além desta confissão, creia-me,
não é verdadeira.
Outra coisa, presta bem atenção:
Ganhei muito dinheiro, e tenho as minhas economias.
Eu as enterrei em uma vasilha de barro, no lado norte da

"pedra do lagarto," nos fundos do quintal.
Conheces bem."
Dito isto, fechou os olhos, suspirou fundo e ...
A família quase arrancou aquela pedra do local, de tanto que

escavou. Nada encontrou.

Há quem diga que foi, apenas, uma alucinação momentânea.
Até hoje, os familiares ainda falam deste assunto.
Infelizmente, não conheci aquele meu bisavô  ...

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Poema: UMA LINDA CERIMÔNIA DE AMOR


 
Faltou-me coragem...
Não falei o quanto  amei.
Do banho de rosas, e  das essências, ainda sinto
o suave perfume, aliviando o meu cansaço, de tanto
que por este mundo  andei.
Lembro-me das pétalas enciumadas, na banheira
encurraladas, por tuas mãos ao me tocar.
Daquela maneira, somente uma santa me banhou,
a que Deus levou, e nunca mais voltou...
Abaixada aos meus pés,  te observei.
Foi lindo o ritual, parecendo um musical, com versos
só de amor.
Tuas macias mãos, deslizavam  com afeição, lavando
até meu coração que, de tanta emoção, quase parou.
A  água  gargalhava, e de  tanta felicidade, eu não 
conseguia falar.
Hoje,  entendo...
As pétalas de rosas, as essências tão cheirosas, eram
doces frutos de um grande amor !
Lamento, não haver beijado as tuas mãos,  e teu rosto 
acariciado, culpa da minha forte emoção...
Quero ter, ainda  nesta vida,  a grata  oportunidade de
retribuir aquela felicidade que, até hoje, guardo com
profunda saudade.
Quando lavar os teus pés, murmurando estes versos,
conversarei com a rosa amarela, para  nenhum ciúme
despertar nela.
E ao te  enxugar, tua canção preferida  haverei de cantar,
olhando nos teus lindos olhos, para ver as lágrimas a rolar.