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sábado, 28 de junho de 2014

Conto poético: MESA DE RESTAURANTE


 
Cinelândia, Rio de Janeiro, idos de 1980.
Um dos pontos preferidos pelos boêmios.
Lindos cinemas, bares, boates, etc.
Perde-se a noção do tempo...
O calor da temperatura, mistura-se ao carinho carioca.
Chamou-me especialmente a atenção, uma bela mulher,
sentada à uma mesa vizinha, num confortável
restaurante tradicional.
Gesticulava, sorria, chorava, e conversava com alguém,
imaginando presente a sua frente.
Cena assustadora !
Curioso, perguntei ao garçom do que se tratava.
Disse-me:
"Ela frequentou este restaurante, com seu namorado,
durante uns cinco anos, pelo menos.
Formavam um casal alegre e elegante, sentando-se,
sempre, àquela mesa.
Soube que ele era piloto da aviação civil, no transporte
de cargas para outros países, segundo  entendi.
Agora, só, ela continua vindo aqui, como se fosse o
casal.
Quando chega, coloca o paletó dele na cadeira, onde
sentava.
Serve-lhe alimentos no prato, e preenche o seu copo
com bebida, desejando-lhe saúde, num lindo brinde !
Fico comovido e assustado, tamanho o realismo da
cena."
Aproximadamente, um ano após, retornei aquele
local.
Claro, estava curioso para saber o final daquela
história.
Disse-me, o garçom:
"  Jamais vou entender as mulheres.
O seu imaginário companheiro foi embora...
Ela  encenava tudo aquilo para chamar a minha
atenção.
E eu nunca havia entendido o recado, até que me
abordou com mais clareza.
Aquela mesa, por ser tão importante em  minha
vida, foi parar em meu apartamento.
Agora, somos três presentes às refeições.
Ela, eu, e a mais intensa felicidade ! "
 

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Conto poético: BONIFÁCIO, O VENCEDOR


 
Esta minha admirável Ilha, já vivenciou momentos
emocionantes !
Era, constantemente, visitada por circos famosos,
nacionais e internacionais.
Casa sempre  lotada, com os encantamentos próprios
de um circo.
Palhaços, malabaristas, animais... e uma linda, muito
linda trapezista !
 A moça  "enlouqueceu" um respeitável funcionário
público, desta Capital.
Era graciosa, corajosa, e filha  do  patrão.
De origem paraguaia, tez morena, olhos "rasgados",
cabelos negros e longos, que voavam nos trapézios,
mais parecendo uma garça negra, se existir.
Bonifácio, foi amarrado, algemado, e amordaçado
por esta paixão  tempestuosa.
Insistiu tanto, que conseguiu  aproximar-se da sua
musa.
O circo levantou  lona, e foi  para o Estado vizinho.
Bonifácio  não teve dúvida, foi junto, abandonando
o seu  cargo  público.
E a Cidade, ainda pequena,  não falava em outra
coisa.
Depois, seguiu para a Argentina, e demais Países
da América do Sul.
Notícias atualizadas, nunca mais...
Quase 15 anos se passaram, sem que  a história
caísse no esquecimento coletivo.
Repentinamente, explodiu a notícia da chegada
de um circo, aqui na Ilha.
Será que é o mesmo  circo  daquela  moça bonita ?
E o Bonifácio, o que houve com ele ?
Sábado à noite, estreia, circo lotado.
Espetáculo refinado, com muitas luzes, abundância
de cores, música alta, etc.
Pausa e silêncio, para  o mestre  de cerimônias
fazer as apresentações  dos artistas.
Jacyra, a trapezista paraguaia,  estava lá ... mais
linda do que nunca. Deslumbrante !
Ao seu lado, o já famoso Palhaço Gargalhada,
ou melhor, seu marido, Bonifácio.
Foi uma explosão de emoções, com aplausos
intermináveis, todos de pé, e muitas lágrimas.
É lindo  ver um palhaço apaixonado, chorando !
 
 
 
 
 
 

terça-feira, 17 de junho de 2014

Conto poético: DEIXA-ME SONHAR


 
Profundamente adormecido, sonho ...
e sempre contigo.
Vestida de carinho, me cercas de amor.
Cantas, danças, e me olhas na alma, com
intensa ternura.
Palpita meu faceiro  coração, querendo o
mundo inteiro acordar, só para  ver o teu
jeito de amar !
Recital de poesias, me ofereces, enquanto
minh'alma se aquece, na ardente fogueira
dos teus desejos.
Fascinado, parecendo acordado, assisto as
tuas fantasias, que me transportam  nas asas
da alegria, ao mundo dos meus sonhos.
E te movimentas, de canto a canto deste recanto,
libertando o meu pranto, que já não consigo
estancar.
Em cachoeira se transformam minhas lágrimas,
para banhar o teu desnudo corpo de mulher !
Como a primavera, me ofereces o teu perfume,
o doce fruto, e a  sombra acolhedora do teu
amor.
Não me faço de rogado, e mesmo não estando
acordado, participo de todo este esplendor.
Repentinamente, meus sentidos são agredidos.
Ouço vozes, trovões, gritos, e enxergo clarões...
Procuro refúgio nos teus braços.
Não estás. 
Cedeste lugar à realidade.
Estou, novamente, acordado...
Deixa-me sonhar !
 

terça-feira, 10 de junho de 2014

Conto poético: PACTO DIABÓLICO


 
Fresca, e silenciosa noite de outono.
Nos ponteiros do relógio, 20 horas.
Não sei porque, as corujas gorjeiam mais, nas
noites  frias.
Dão rasantes, surpreendendo pequenos roedores,
seus preferidos.
Estava distraído, observando este espetáculo da
natureza, e quase não percebi estacionar, ao meu
lado, um belo automóvel, ocupado por um casal.
Ele saltou do veículo, rapidamente, para abrir a porta
e permitir, à mulher, um desembarque tão elegante,
quanto a sua aparência feminina.
Após um breve contato, alguém vem recepciona-la no
portão, acompanhando-a até a entrada principal.
O homem permaneceu no automóvel.
Duas horas se passaram...
Tempo suficiente para conversarmos sobre os animais
predadores.
Outros assuntos surgiram, além das corujas.
Sua  linda mulher, como os roedores,  é uma presa
exposta aos  apetites humanos ou, quem sabe, desejos
selvagens...
Disse-me:
" Estamos casados há oito anos, e temos dois filhos.
Ela é linda, educada, culta, e de gestos delicados.
Uma coisa, é o seu corpo.
Outra, é a sua essência, que é pura.
As nossas almas, se fundem numa só.
Nada pode invadir esta privacidade emocional.
Amamo-nos, fervorosamente. "
Sai, daquele local, convicto de  haver presenciado
um pacto diabólico, com  ausência de amor, ciúme
e dignidade.
Compreendi, melhor, as corujas...
 
 
 
 

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Conto poético: O FALSO CARRASCO


Temido, até pelos amigos.
Dois metros de altura. Nenhuma ternura.
Nenhum sorriso naquela boca, que fala muito pouco.
Um olho disperso, e outro observador.
Assustador !
Arma  de fogo, e carta branca, até para calar...
Um carrasco ?  Não sei, mas um predador convicto..
Década de 7o. Mais precisamente, 1975.
Muitas histórias gravitavam ao redor daquele homem.
Até crimes de morte... e não eram poucos.
Fazia-lhe companhia, em viagem  ao interior do
meu Estado.
Já afastado da minha Cidade, cerca de 500 km,
resolvi testar as  emoções daquele homem, cuja
reputação era a de um carrasco.
Contei-lhe a história de um menino pobre. Muito
pobre.
Disse-lhe:
Coronel Fritz, frequenta a minha casa um menino
da favela, filho de um ex sentenciado.
Ele tem nove anos de idade, e é muito amigo do
meu filho.
Alimenta-se  com minha família, dou-lhe as vestes
do meu filho, toma banho em minha casa, etc.
Fisicamente, os dois se parecem muito, e possuem
a mesma idade.
Hoje, quando fui apanhar minha mala, para esta
viagem, observei que estava com um calçado diferente.
Perguntei-lhe se foi o seu pai quem havia comprado.
Respondeu-me que o seu pai havia encontrado no lixão
municipal, e para sua felicidade, coube "certinho nos
meus pés".
Neste momento, o Coronel não segurou, como eu, um
intenso acesso de choro....
Era um  falso carrasco, desmascarado por uma simples
historinha, embora verdadeira,  de um menino pobre...

domingo, 1 de junho de 2014

Conto poético: O DESAPARECIMENTO DAS BRUXAS


 
 
Provinciana, como a chamavam, mas uma Cidade
encantadora !
Parece que o mundo inteiro é diferente deste lugar.
Gente alegre, e  sonhadora, não vê a pobreza como
rival da felicidade.
A língua, a genética, a cultura, e o coração generoso,
fizeram, desta gente, um  povo especial.
Quase tudo veio de Portugal...
Cercada de montanhas, e de água por todos os lados,
está protegida  por um céu azul, parecendo os lindos
olhos do Criador !
Terra de pessoas místicas, acolhe benzedeiras, macumbeiras,
e crê em alma do outro mundo.
Mula sem cabeça, medo do escuro, e até cobra
mamando, no seio da mãe do bebê,  juram ter visto.
Quando a luz prateada, invade os mares, nas madrugadas,
cenário mais lindo, não há !
O velho pescador chora de emoção, e a mulher, ao seu
amado, entrega o coração !
Mas, um mistério se instalou nesta Ilha.
As bruxas desapareceram...
Eram malvadas e feias. Muito feias.
Gargalhavam, estremecendo os ares, assustando os
pescadores nos mares.
Desdentadas, cabelos longos e desalinhados, cheirando
mal, e habitando  cavernas, eram o símbolo da maldade,
especializadas em feitiçarias.
Descobriu-se, finalmente, o mistério.
Todas as mulheres, daqui, são generosas, bonitas e
cheirosas.
Não há mais ambiente para bruxas.
Foram viver noutro lugar !