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quinta-feira, 31 de julho de 2014

Conto poético: ABRAÇOS RESPEITOSOS

 
 A pedido de um amigo, li a sua carta dirigida
ao seu grande amor.
Dizia;
"  Querida mulher da minha vida, permita-me,
desta forma, tratar-te.
Está completando um ano, que rompemos.
São 525.600 minutos, pensando em ti...
É grande o sofrimento de quem ama, sem
ser correspondido.
Tens  sido a minha oração, dia e noite. 
Não te procurei, porque esta foi a
promessa, para  evitar constrangimentos.
Lembras ?
Tentei, juro, apagar os rastros que deixaste
pelo caminho, mas alguns são teimosos,
negam-se...
As tuas pegadas na areia, nem mesmo
o vento, o mar, e o tempo, conseguiram
apagar.
Ainda estão lá,  para aguçar a minha forte
imaginação.
Todos os dias,  passeio entre as flores do
pequeno jardim,  para sentir o teu perfume,
apreciar o lindo voo dos beija-flores, e a
graciosidade das borboletas.
Como são belos, e atenciosos para comigo !
Certo dia, o beija-flor branquinho, aquele que
tanto amavas, veio saciar  a sede em minhas
lágrimas...
Fiquei muito emocionado, pois foi  delicado
como tu, quando me beijavas !
Desculpa-me, mas tinha que te lembrar desta
data.
Abraços respeitosos... "
Disse-lhe, então:
Amigo, somente olhamos para trás, quando
já confiamos no caminho à frente.
Abraçou-me, chorou, e sorriu ...finalmente !
 
 
 
 
 
 
 

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Conto poético: UM DIA, TE AMEI


 
Caminhei pelos trilhos da vida.
Cabisbaixo, para não errar os passos,  só
pensei em ti, em mais ninguém.
Alimentei a vã esperança da tua volta, aos
meus braços.
Recordei a tua partida, em direção  ao sol
nascente, à procura de  mais luz, ou de
alguém...
No poente, fiquei.
Minhas angústias, também...
O sofrimento foi incontável, como o número
de dormentes, por onde passa este trem.
Parei no  tempo para repensar...
Não me amaste, e só eu sofri.
Teu sorriso continuou o mesmo, e eu não
mais sorri.
Chorei desesperado à procura de ti, gritando
o teu nome nas montanhas, mas somente o
eco ouvi.
Até ele gargalhou de mim, e nem piedade
mereci.
Mas o tempo foi mais forte.
Esqueci de ti...
Teu nome apagou da minha mente, não mais
alimentando o desejo, de  voltares para mim.
Agora, percorro os campos, respirando a doce
liberdade, sem ter saudade do amor, que pensei
existir.
De cabeça erguida, sigo a minha vida, e acompanho
o ritmo  do vento, abraçado à felicidade. 
Voltei a sorrir !
É deste jeito, que eu gostaria que terminasse este
poema...
 

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Poema: OLHOS NEGROS


 
Sem luar, e sem estrelas, procura o céu te imitar.
A  natureza te premiou, o  poeta  cantou e, de
emoção, chorou.
Nas trevas do teu olhar, nunca sei, jamais saberei...
És o próprio  mistério !
Cortinas fechadas, não consigo ver a tua alma, pois
és noite, embora dia.
Acobertas a vida que tento, em vão, participar.
Sou prisioneiro dos teus negros olhos, como a sombra
da luz.
Caminho apressado, mas sem querer chegar... tenho
medo de te  encontrar.
E minhas forças se esvaem, diante dos teus segredos.
Então, és meu tormento !
Mas escuto uma doce voz...
" Do que tens medo, poeta ?
Meus negros olhos procuram, apenas, proteger duas
frágeis  meninas, das investidas maldosas da vida.
Os segredos e mistérios, de que tanto falas, são só
masmorras do amor, para não ferir o coração dos
apaixonados.
Aproxima tua alma dos meus sentimentos, e ouvirás
os meus pensamentos, por ti a chamar.
Não sou teu tormento mas, sim,  teu alento, nestes
versos soltos, querendo te abraçar.
São negros, meus olhos são negros, para realçar o
lindo azul do céu, o verde esmeralda do mar, e tantas
outras cores da alma, que a natureza resolveu criar."
 
 
 
 

terça-feira, 8 de julho de 2014

Poema: UM BRAVO NO POENTE


 
Sentado, à beira da estrada, descansa um velho
homem.
Apenas, uma pitangueira oferece-lhe abrigo, e doces
frutos.
Próximo, uma bica d'água sacia-lhe  a sede.
Observo os trapos que usa.
Deve ter sido grande o percurso caminhado na vida...
Arrastou-se do nascente ao poente, sem admirar a
beleza do zênite, e a magia das noites...
Somente o sofrimento, por companheiro.
Vejo os  seus cabelos brancos, parecendo aplausos
dos anjos, florada de algodão, provocando o meu
coração.
Lembram-me  alguém, para mim, tão importante
quanto  o Criador.
Minh'alma, incontida, lhe falou:
"Olá, meu velho !
Não  tenhas vergonha da velhice.
Antes, tenhas orgulho de viver tão longamente.
Sabes, amigo, vida longa, neste País de injustiças, é
um ato de bravura.
Embora abandonado, desrespeitado, és um bravo !
Andaste por caminhos que não conhecerei.
Então, levanta essa cabeça, tão bonita !
Fico imaginando, quantas histórias tens  gravadas
nessa mente, que  o tempo te premiou !
Não escondas as tuas  rugas, são comprovantes de
ternura, que a tua história conquistou.
Teus passos lentos, parecem calmos ventos, sem
pressa de chegar. E tens razão...
Claro, o crepúsculo virá mas, homem  bravo que és,
não deixarás  o sol se por, pois é hora de viver, e de
amar. "
Isto mesmo, amigo, viva e ame, e o sol sempre estará
em zênite.
 
 
 
 
 

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Conto poético: AMOR DE SAPATEIRO


 
 
Todos tivemos um amigo de infância, que
não tiramos da lembrança.
Também tive um, em especial.
Confidenciou-me estar apaixonado por uma
menina, sua vizinha.
Vivia sonhando acordado, mas amedrontado
de confessar aquela paixão, dado a coloração
da sua pele, diferente da moça.
Um drama, na época, sem solução.
Em seu aniversário, a menina compareceu e
presenteou-lhe com uma caneca, adquirida
na vendinha local.
Adicionou um carinhoso abraço de felicitações,
e isto foi o suficiente, para  escravizar o seu
coração adolescente.
A vida  nos levou para caminhos diferentes.
Decorridos dezenas de anos, estive em sua
residência, fazendo-lhe uma visita, para mim,
muito agradável e honrosa.
No armário, a humilde caneca que usa,
diariamente, ao tomar o seu café.
Com os olhos mareados, perguntou  se me
lembrava... claro que sim !
Disse-me mais:
" Sabe, velho amigo, certa ocasião, ela esteve
em minha oficina de calçados, para um conserto.
Dormi  abraçado aqueles sapatos, sonhando
com ela...
Jamais a esqueci.
Fui um covarde. Casou com um homem da
minha cor, e eu imaginava  tantas coisas
absurdas...
Eram só conceitos e imagens,  projetados
por  minha mente.
Hoje, tenho certeza, o  preconceito  era
somente meu."
Não conseguiu disfarçar  as lágrimas, que
rolaram  pelas  ranhuras da sua face,
testemunhas de um permanente sofrimento.