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quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Poema: RUTH






Nada mais foi preciso, para chamar a minha
atenção.
Um rosto moreno, sustentando  um olhar
sereno, testemunha as raízes milenares do
meu Brasil.
Uma Tupi Guarani, transbordante de ternura !
Mulher linda e  humilde,  cabelos  negros,
adornados em trança única, de voz  baixa e
macia, domina o cenário.
Gestos tão delicados, jamais comparados a
tudo que nesta vida já vi.
Deitada à maca paraguaia, deixa-se  pelo vento
balançar.
Seu corpo acompanha a dança das  verdes
folhas deste lugar.
Sua conversa, em guarani, nada me permite
entender, além da bela musicalidade do
linguajar.
Seu filho, pequenino, acariciado sem parar,
causa-me inveja ou  um sentimento maior,
que se queira imaginar...
Seu sorriso, inocente e franco, leva os meus
olhos ao  pranto, numa profunda emoção.
Brotam-me sorrisos loucos e, aos poucos, vejo
a felicidade chegar. 
Mas partiu, com o fim do  verão, para um distante lugar, 
prometendo voltar...




    

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Conto poético: TREVAS ILUMINANTES

 
Centro da minha Cidade.
Um homem respira... apenas respira.
Maltrapilho, mendiga.
Não conhece a cor da primavera, nem o prazer
de ver quem gorjeia  tão lindo !
Somente agradece a compaixão alheia.
Nada percebe ao seu redor, penso eu.
O destino lhe foi muito cruel.
Pés descalços, rosto hospedeiro do sinistro.
Mãos desprezadas  e encarquilhadas pelo tempo,
que se nega parar.
Ao chão, uma tabuleta indica o tamanho da
infelicidade.
As esmolas são jogasdas, e o sinal da cruz se
desenha.
Quase um ritual, talvez o cumprimento de uma
promessa feita aos céus.
Fico assustado com tanta desgraça.
Coloquei-me ao seu lado, e ouvi o seu
depoimento, por mim provocado.
Disse-me:
" Nasci assim, nas trevas, sem saber o que é
luz.
O teu mundo é diferente do meu.
Enxergo o que desejo ver, e não vejo as
maldades que estão ao meu redor.
Tenho grandes amigos, neste meu mundo de
sombras.
Conheço o sol,  pelo calor, e a água, pelo frescor
que causa em minha pele. O mar, pelo barulho das
ondas... deve ser lindo !
Os meus olhos estão em minh´alma, e em
meus ouvidos. Por vezes, nas pontas dos
dedos.
Mas posso andar, falar, escutar, sentir o sabor e o
cheiro das coisas...
Não acha que seria exigir muito da natureza,
ainda poder enxergar ? "
Senti-me pequeno, diante daquele homem.
Um verdadeiro filósofo... um ser iluminado
pelas trevas !
Como sou ingrato...