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sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Conto Poetico: PÉ DE BICHO



No passado, não muito distante, os bairros desta 
querida Ilha  eram chamados de   "sítios".
Os seus moradores não aprovavam esta denominação,
pois a entendiam  pejorativa. 
Eram locais lindos, como até hoje, cercados por montanhas 
e  exuberantes praias intocadas. 
Verdadeiros paraísos, habitados por descendentes de 
portugueses, na sua grande maioria.
Sobreviviam da pesca, de pequenas  lavouras, engenhos
de farinha,  criação de animais, etc..
Eram criaturas excepcionalmente puras e socialmente
receptivas.
Como sempre,  estigmatizadas por redutos políticos.
Só  valorizadas em épocas de eleições.
Dominação absoluta.
Saneamento  e infraestrutura, nem se conhecia.
Precariedade social... uma  lástima.
As  doenças endêmicas, grassavam.
Em decorrência da falta de higiene, o "bicho de pé"
predominava nos quintais, caminhos, escolas, etc.
Os moradores, então descalços,  eram chamados 
de "pé de bicho".
Hoje, seria "bullying".
Ofensa e briga, na certa...
Tudo mudou.
Os "bichos de pés"  sumiram, os sítios ganharam 
nomes  de "bairros" e viraram zonas turísticas.
Continuam paradisíacos e os seus moradores
muito orgulhosos !  


Sinval Santos da Silveira

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Conto poetico: Abner

 
Ouço, ao longe, uma suave melodia de natal ! Os bons sentimentos afloram à pele, pedindo para falar, escutar, ajudar... Sentado, com as costas apoiadas a um muro de pedras, protegido por uma acolhedora sombra, um homem, um velho homem, descansa. Não me atrevi importuna-lo com as minhas curiosidades, para saber o que já imaginava. Limitei-me, então, somente observa-lo. Uma bolsa vermelha, certamente contendo de tudo, foi o que da vida lhe restou, além de muitas lembranças. Em seu sono profundo, esboçava sorrisos inocentes, parecendo uma criança adormecida. Toda a sua inconsciente expressão, era de felicidade ! Serenamente, acordou. Cumprimentei-o, carinhosamente. Sem que nada lhe perguntasse, disse-me: " Chamo-me Abner. Estou cansado e com muita saudade de todos e, em especial, das crianças. Minha estrada é longa, infinita... Um mundo de amor, fantasias e realidade. Há poucos minutos, sonhei com momentos felizes, vividos intensamente por mim. Prometi, aos meus amigos e irmãos, sempre voltar nesta época do ano. Estou aqui, cumprindo minha promessa." Incrível, retirou daquela sacola suas vestes vermelhas, transformando-se no mais lindo, autêntico, e único PAPAI NOEL, jamais visto por esta região ! Voltou para trazer um tríplice e fraternal abraço, a todos os seus irmãos, que retribuem com alegria e interminável saudade !

quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Poema: AO FLORESCER DAS HORTÊNSIAS


Parece o céu  descer à terra, pintando de azul
as  encostas  da serra.
Minh´alma sorri de tanta felicidade !
Meus olhos lacrimejam de emoção !
Talvez,  o azul do firmamento  sejam as pétalas que
voaram com o vento.
Sejam   hortênsias  perfumadas, pelas abelhas 
levadas à presença do Criador,  falando  de amor.
Inspiram o poeta, fazem  zumbir  o zangão e  voar o
beija-flor !
São cachos, em formato de coração, querendo o 
infinito alcançar.
Aplaude o viajante,  choram de  emoção os amantes,
faz promessa a menina apaixonada, levando a mais
linda  flor ao seu amor ! !
No ofertório da Capela, cobre  de  azul o altar, para
a Santinha homenagear !
Finalmente, hortênsia azul,  descubro quem és tu  !
És tudo o que imagino.
És lágrimas de felicidade,  recadeira  da  saudade,
aplausos ao meu amor !

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Conto poético: CONFISSÕES DE UMA PROSTITUTA APOSENTADA



Conversei com uma ex prostituta.
Estava sentada na escadaria  da  Catedral da
minha Cidade.  
l6,00h,  assinalava o relógio do campanário,
parecendo me cumprimentar.  
Eu a olhei e ela  pediu para acender a sua piteira.
Como não fumo,  sorriu, agradeceu  e puxou conversa.
"  Trabalhei  aqui, na Praça XV de Novembro, por mais
de trinta anos.
Ninguém pode imaginar o que passei, para criar e
educar a minha filha.
Minha única filha... hoje uma  Dentista bem sucedida,
numa cidade do Estado vizinho.
Abandonei a prostituição.
Prostituta velha ?  Nem pensar !
E, por justificada vergonha, fui abandonada por minha 
filha.
Meu genro e meus dois netos, pensam que sou
falecida.
Já se vão mais de  dez anos que não os vejo.
Nem me conhecem. É melhor assim.
Lá, naquele prédio,  recebia a minha clientela, fiel e
assídua.
Todas as segundas feiras , às 13,00 h., eu ia ao 
banco fazer a remessa do dinheiro à  ela, quando
estudante  e até se firmar na  profissão.
A última mensagem  me dizia que não remetesse mais
dinheiro, pois já estava independente.
Hoje, solitária,  vivo de uma pequena aposentadoria da 
previdência.
As  lembranças do  passado  me contam  lindas  histórias 
mas, por vezes,  tristes..."
Neste momento, uma lágrima viajou por sua face, repleta de 
profundos desenhos, artisticamente esculpidos pelo tempo,
que somente ela é capaz de interpreta-los...