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segunda-feira, 31 de março de 2014

Conto poético: OS GALOS DA MINHA TERRA


Esgazeadas noites de outono.
Frias, e silenciosas.
Quantas lembranças passeiam em minha mente.
Do alto da montanha, da janela daquela pequenina
casa de madeira, tinha o mundo aos meus pés.
As luzes da Cidade tremulavam, parecendo vagalumes
acesos.
Dos arredores, chegava o som de uma cantoria, repleta
de alegria, para a noite festejar.
Cada qual cantava de um jeito, batendo asas no peito, 
gritando alto, e falando  sério.
Não há mistério.
São os galos da minha Terra !
Numa perfeita sinfonia, quebravam o silêncio da madrugada,
assustando as  namoradas, proibindo aventurar.
Os galos de natal, incrível, cantavam bonito, a longa
nota musical.
No meio dos galináceos, eram classificados como elite !
Eu mesmo tive um, "polaco," que cantava a noite inteira,
fazendo uma barulheira, querendo o morro acordar.
Em noite de luar, pensando o dia raiar, descia do poleiro,
esgravatava o terreiro, parecendo um macumbeiro,
assustando as galinhas.
No  pescoço,  nem  penas tinha !
As penas, agora, são  minhas, sentimento de saudade,
que invade a minh'alma, me fazendo  chorar.
A moça já pode "dar o fora", nem precisa ser fora de
hora, pois o vigia do morro foi embora, deixando o
meu  sofrido coração.
A montanha silenciou... e a saudade, somente a saudade,
restou.
 
 
 
 

quarta-feira, 26 de março de 2014

Poema: A MENSAGEM DO BATOM


Noites intermináveis, sem dormir, pensando
em ti.
Mesmo nas trevas, via  teu rosto a sorrir,
parecendo debochar de mim.
Era uma  paixão que doía, e a mim mesmo
prometia, nunca mais te procurar.
Porém, mal amanhecia o dia, como um louco eu 
corria, só para te ver passar.
Era uma doença, eu sabia, pois tua foto eu
beijava, noite e dia, sem parar.
Delírios alucinantes, me faziam sofrer.
Passei, então, de joelhos a rezar, fazer
promessas ao meu santo protetor, virar
andarilho por este mundo de Deus, pois  a
graça de te esquecer, queria muito alcançar.
Até benzedeira, e "Pai de Santo", procurei.
De cabeça para baixo, a conselho de
macumbeiro, Santo Antônio, coloquei.
Que heresia, Senhor !
Por um capricho do destino, tudo isto que eu
fazia, só aumentava aquele amor.
Fui embora desta Cidade, prometendo nunca
mais  retornar.
Quando cheguei ao meu destino,  já estava
arrependido, daqui haver partido, e tratei logo
de voltar.
Na minha casinha, tão  bela, por baixo da porta
um bilhete foi deixado,  e de batom marcado,
com os teus  lindos lábios a sorrir.
A paixão foi embora, sim,, mas chegou apressado,
o mais lindo amor que Deus mandou !

sábado, 22 de março de 2014

Conto poético: UMA LINDA PROFESSORA


 

Universidade Federal, em meu Estado.
Uma angústia, ser ex-aluno de uma professora, cujo
nome não devo declinar.
Sala mista, sendo mais homens do que mulheres.
O índice de reprovação, entre os alunos masculinos,
era alarmante...
Não se prestava atenção, no que explicava a bela
professora.
Era muito bonita, e a turma jovem, irresponsável,
irreverente... um sacrifício imenso.
Os comentários, nos corredores, eram intensos,
só superados pela fértil imaginação...
Muitos anos se passaram. Muitos.
Tive a feliz oportunidade de saudá-la, em uma
solenidade governamental.
Continuava a mesma beleza, frustrando o tempo,
que pensou haver passado.
Ainda que discretamente, não poderia perder
aquele feliz momento, para citar este fato.
E de forma alegre, massageei a sua vaidade de
mulher. Gostou !
Ao usar da palavra, no encerramento, agradeceu-me,
e fez uma revelação, deveras surpreendente.
Disse:
" Eu era jovem, bonita,  vaidosa, e não sabia como
lidar com  estas coisas.
Gostava dos olhares ... faziam-me bem.
Lecionava para  alunas universitárias, igualmente
jovens e  bonitas.
Certamente, imatura, queria concorrer com a
disputa dos olhares masculinos, presentes nas
salas de aulas.
Agora, na maturidade, tenho consciência do
quanto fui  inoportuna".
Respondi-lhe, veementemente, que a matéria
lecionada, dizia respeito ao relacionamento
social, no ambiente de trabalho, e que a
experiência, vivida em suas aulas, tem me
servido até os dias atuais.
Levantou-se da mesa das autoridades, dirigiu-se
à primeira fila, onde me encontrava, beijando-me, 
carinhosamente.
A plateia, emocionada, aplaudiu de pé, e os seus
ex-alunos, invejam-me, até hoje.
 
 
 
 

terça-feira, 18 de março de 2014

Conto poético: A MAGIA DO DIVÃ


Sala de embarque, bilhetes conferidos, pessoas
ansiosas, com medo de voar.
Uma fisionomia conhecida, nesta Ilha, aproxima-se,
e puxa conversa.
O destino é o mesmo, Rio de Janeiro, em voo com
escalas.
Sentamos em poltronas vizinhas, por  coincidência.
Professor Universitário, e Psicólogo autônomo.
Homem maduro, e experiente.
Muitas histórias para contar, certamente.
Contou-me uma passagem, que me impressionou.
Disse-me:
"Eu era, ainda jovem, logo no início  do meu
consultório.
Julgava-me bonito, e atraente. Pura vaidade !
Como pacientes, mulheres, principalmente.
Uma delas, marcou-me especialmente.
Último  atendimento, daquela tarde.
Adentra ao consultório, uma mulher "madura", 
exibindo um suave sorriso de  indisfarçável
amargura.
Sem dizer uma palavra, sequer, aproximou-se
do  divã,  despindo-se completamente e, a seguir,
deitando-se.
Até o final do horário, não pronunciou uma só
palavra. Apenas, gestos sensuais.
Em  mais quatro sessões semanais, eu a assisti,
sempre com o mesmo procedimento de profundo
silêncio.
Na sexta  sessão, resolveu falar. Era tudo o que
eu esperava.
Disse-me que, quando jovem, foi muito reprimida
por seu pai, não a deixando namorar, nem usar
roupas da época, ou frequentar ambientes privativos
da juventude.
Por isto, ficou solteira, e se sente só, neste mundo.
Agora, paga para mostrar o seu corpo despido, a um
profissional, em sinal de  protesto, já que, à outra
pessoa, não teria coragem de faze-lo.
Eu a curei dos traumas, sim, casando-me com ela..."
Soube, até o final da viagem, que a diferença de idade,
era de vinte e seis anos, e percebi a felicidade
estampada  em seus olhos.
Prevaleceu o amor, frente à magia do divã...
 
 
 
 

terça-feira, 11 de março de 2014

Poema: RANCHO DE POETA


 
Há lugares lindos, neste mundo, para se visitar.
Conheci  ranchos de pescador, e de gaúcho,
cada qual, com sua beleza peculiar.
São lindos !
À convite da minh'alma, visitei um rancho de poeta.
Indescritível !
Somente os poetas tem autorização de ingresso.
Fui uma exceção, por piedade do porteiro,  e
compreensão  dos convidados, vendo a minha  aflição.
Fiquei extasiado !
Um mundo  espetacular !
Não há móveis, nem barulho... silêncio absoluto,
pois os  convidados  murmuram, sem falar.
Nos olhos de cada poeta, um brilho diferente,
mexendo com a gente, fazendo-me chorar.
À entrada do rancho, um quadro  em óleo sobre
tela, deu à luz uma rosa amarela, pintada por
ela, uma artista tão bela quanto a própria flor.
Cada palavra,  silenciosamente pronunciada,
ecoa como um verso, fugitivo do coração.
Sorrisos francos, vindos das profundezas d'alma,
certificam a fonte, pura e transparente, daquela
bela gente, que  só fala de amor.
Não tem teto,  este  rancho, pois impediria das
estrelas avistar, e do luar, no mesmo leito,  repousar.
As paredes foram removidas, não há segredos
para  se guardar.
Por isto, deixaram-me entrar.
Ah, que felicidade poder estar aqui, neste  lugar !

quarta-feira, 5 de março de 2014

Poema: MEU CAMINHO, MEU DESTINO


 
Quero seguir meu caminho, como sempre, sem
destino.
Só, com as minhas lembranças.
Em minha bagagem, nada, além de ti...
Quero conversar com a tua ausência, ouvir todas as
coisas  que gostaria de ouvir.
Olhar para o céu, e ver o teu sorriso me acompanhando,
meu caminho iluminando, não me deixando perder.
Nas cachoeiras  em que passar, quero minhas lágrimas
lavar, simpatias realizar, para que te encontrem com
saudade  daquele amor...!
O vento será meu mensageiro, levará meu clamor, solto
no ar.
Em tua janela, nas madrugadas frias, assobiará com
ternura, falando das loucuras que, por ti, minh'alma
tem vivido.
Sentirás  o sabor do sereno, tão forte quanto o veneno,
remédio para acalmar a minha dor.
Mas, se da bagagem a lembrança se esgotar, apagarei
os rastros por onde passar, para não saber  voltar.
Sei, meu sofrimento aumentará, podendo me matar.
Minha essência renascerá, aqui ou acolá, regada pela
experiência que o destino ajudou  plantar.
Altivo, meu coração caminhará à procura de quem não
encontrei, neste lugar.
Seguirei, então, os conselhos do céu, lendo à luz das
estrelas, o caminho do luar, que destino deverei tomar,
desde que estejas lá, meu grande amor !
 
 
 
 
 
 
 

domingo, 2 de março de 2014

Conto poético: 60 ANOS APÓS


 
Fui testemunha de um reencontro de profundos
sentimentos, entre dois seres muito especiais.
Sentado no "Jardim dos Poetas," um recanto
belo e apropriado para as reminiscências  da
vida, meu colega  de trabalho,  respeitável
homem, vinculado à cultura do meu Estado,
fez-me um desabafo, seguido de um pedido.
"Amei uma mulher, quando jovem e residente
na Cidade do Rio de Janeiro, como jamais amei
qualquer outra, em toda a minha vida.
Por questões de oposição, e obediência familiar,
não foi possível prosperar aquele relacionamento.
Meu Deus, como me sinto culpado, por tanta
fraqueza, quem sabe, até covardia !
Agora, meu amigo, o tempo que já passou, para
ambos, sem oposição, e sem opinião paralela,
preparou-me, quase que teatralmente, um
reencontro com aquela mulher.
Seu nome é Ivana. Não a vejo faz, pelo menos,
uns 60 anos.
Já está nesta Cidade, desde o início da tarde
de hoje,  fazendo parte do elenco de  uma
companhia de teatro.
Ela é uma grande atriz !
Foi nos palcos de teatro de revista, na Cinelândia,
que a conheci.
Explica-se, neste ponto, o preconceito que sofri,
da minha família, naquela época.
Casar com uma atriz de teatro de revista... Jamais
conseguiria  permissão."
Neste exato momento, o relato  foi interrompido,
pelo segurança daquela Fundação Cultural,
anunciando que uma senhora gostaria de falar
com o Senhor Evangelista...
Adentra, aquele ambiente,  Ivana.
Entreolharam-se, demoradamente e, além  de
um abraço  prolongado, cascatas de lágrimas, e
soluços incontidos, nada conseguiram falar, por
longos minutos...
Pediu-me, apenas, que escrevesse esta história,
com o título " Sessenta Anos Após".
Retirei-me daquele ambiente... emocionado, e muito
revoltado.
Agora, compreendo o seu jeito triste de viver...