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quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Conto poético: GELANDO A LÍNGUA





Era uma tarde de verão escaldante.
A sombra fresca da copada da seringueira
frondosa, me protegia do sufoco.
Num banco de jardim, a minha frente, sentou-se
 uma mulher bonita e  sem pressa, saboreando
um belo sorvete.
Envolveu-me  numa conversa descontraída, com 
a língua gelada e doce,  como o teor do  assunto.
Disse-me:
" Sabes, moço, já completei quarenta e oito anos 
de idade.
Aparento ter mais ?
As minhas amigas acham que sim.
Sei que sou bonita, mas  já  fui muito mais !
Enlouquecia os homens !
Rastejavam-se aos meus pés, fazendo propostas
 de casamentos e tudo mais.
Entre uma coisa e outra, optei por " tudo mais ".
Entendeste  ?
Ganhei muito dinheiro !
Cheguei a sentir compaixão das mulheres que 
optaram pelo casamento.
Fiz, disto, a minha profissão.
Fui uma boa ouvidora dos homens, quase todos
casados.
Veja só, pagavam para que eu ouvisse as suas
reclamações conjugais !
Bebiam, riam e choravam.
Sempre demonstrei compreensão
 para com   estas reações.
De mim , ninguém tem nada a falar ! 
Não sabem o  meu nome, endereço, de onde
vim, como estou, se feliz ou infeliz....
Sou, tão somente, uma mulher que degusta 
um sorvete, num banco  de jardim,  gelando
a língua..."
Não falei uma só palavra, pois  o momento 
era  todo  dela. 
Displicentemente, jogou a casquinha do sorvete 
no chão, foi embora, sem se despedir...
Sinval Santos da Silveira

2 comentários:

  1. Uma mulher que fez a sua escolha e gostou de ser quem era... Muito belo este teu poema narrativo, meu amigo Sinval.
    Uma boa semana.
    Um beijo daqui de Portugal.

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    Respostas
    1. Oi Amiga, Graça Pires, boa noite !
      Concordo plenamente, no que se refere
      a escolha do caminho.
      Fico muito grato pelo generoso comentário.
      Um carinhoso abraço, aqui do Brasil !
      Sinval.

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