Era uma tarde de verão escaldante.
A sombra fresca da copada da seringueira
frondosa, me protegia do sufoco.
Num banco de jardim, a minha frente, sentou-se
uma mulher bonita e sem pressa, saboreando
um belo sorvete.
Envolveu-me numa conversa descontraída, com
a língua gelada e doce, como o teor do assunto.
Disse-me:
" Sabes, moço, já completei quarenta e oito anos
de idade.
Aparento ter mais ?
As minhas amigas acham que sim.
Sei que sou bonita, mas já fui muito mais !
Enlouquecia os homens !
Rastejavam-se aos meus pés, fazendo propostas
de casamentos e tudo mais.
Entre uma coisa e outra, optei por " tudo mais ".
Entendeste ?
Ganhei muito dinheiro !
Cheguei a sentir compaixão das mulheres que
optaram pelo casamento.
Fiz, disto, a minha profissão.
Fui uma boa ouvidora dos homens, quase todos
casados.
Veja só, pagavam para que eu ouvisse as suas
reclamações conjugais !
Bebiam, riam e choravam.
Sempre demonstrei compreensão
para com estas reações.
De mim , ninguém tem nada a falar !
Não sabem o meu nome, endereço, de onde
vim, como estou, se feliz ou infeliz....
Sou, tão somente, uma mulher que degusta
um sorvete, num banco de jardim, gelando
a língua..."
Não falei uma só palavra, pois o momento
era todo dela.
Displicentemente, jogou a casquinha do sorvete
no chão, foi embora, sem se despedir...
Sinval Santos da Silveira
Uma mulher que fez a sua escolha e gostou de ser quem era... Muito belo este teu poema narrativo, meu amigo Sinval.
ResponderExcluirUma boa semana.
Um beijo daqui de Portugal.
Oi Amiga, Graça Pires, boa noite !
ExcluirConcordo plenamente, no que se refere
a escolha do caminho.
Fico muito grato pelo generoso comentário.
Um carinhoso abraço, aqui do Brasil !
Sinval.