Sentada na mureta do jardim, lançava todo
o charme que lhe restou da vida, em cima dos
homens que passeavam a sua frente.
Sorria, mesmo sem achar graça, como se
aqueles fossem os últimos trunfos de
conquistas.
Cheirava uma rosa, já sem vida, e fingia
prestar atenção na voz do sino, vinda do
campanário.
Demonstrava carinho ao pombo, que cortejava
a sua amada, próximo aos seus pés.
Bem vestida e exalando açucena, parecia
ansiosa, esperando por alguém, ou por qualquer
um, que já estava atrasado.
Consultou o relógio uma dezena de vezes,
agora, assinalando mais de 22,00h.
Nem os homens mais velhos, sequer por
educação, a cumprimentavam.
Muitas jovens, na área, tiravam o seu brilho,
já ofuscado pelo tempo...
Entristecida e só, foi dormir numa pensão antiga,
frente ao jardim.
Foi a última vez que a vi.
Quando os sinos dobram, parecem chamar por
aquela mulher, hoje, vestindo uniforme num asilo
de idosos, bem próximo ao jardim onde reinou,
soberanamente, por muitos e muitos anos.
Nem mesmo os seus antigos "súditos", seriam
capazes de reconhece-la...
Sinval Silveira