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segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Conto poético: INSENSIBILIDADE


Quando menino, gostava de frequentar rinhas de galo.
Sentia-me atraído pelo lindo canto do galo de briga, sua
imensa energia, colorido ímpar, postura de guerreiro,
beleza nobre.
Consegui fazer uma bela criação, a partir dos ovos, que
coloquei no choco em uma bela galinha comum.
Tratava muito bem dos bichinhos, em gaiolas individuais,
passeadores, alimento diferenciado, sol adequado,
depilagem correta, massagens, fortalecimento da musculatura,
coisas que todos os galistas sabem muito bem fazer.
Sentia-me orgulhoso de pertencer a um grupo de adultos,
por imitação.
Os galistas me olhavam como um menino metido a adulto.
Sentia-me feliz, mesmo discriminado por alguns.
A emoção era muito grande, e o ambiente envolvente.
Gostava de ouvir meus galos cantando, desafiando
outros para a briga, e os pintinhos crescendo. Maravilhoso.
Entretanto, assisti a uma cena terrível. Um gesto de barbárie.
O grande campeão, um belo galo, na cor "pinhão", que muitos
troféus havia propiciado ao seu proprietário, foi disputar uma
briga muito anunciada, com um galo do estado vizinho.
O ambiente estava repleto de galistas. A festa estava assegurada.
Muita conversa, as apostas corriam soltas, e a luta se fez entre
os campeões.
O galo que eu tanto admirava, perdeu, pela primeira vez.
Com a maior naturalidade, sem nenhuma compreensão, seu
proprietário o retirou do "tambor", ofegante, todo ensanguentado,
degolando-o, sem nenhuma compaixão.
Desesperado, procurei explicação para tamanha maldade.
Não fui convencido.
Retirei-me daquele ambiente medieval, para nunca mais retornar.
Acabei com a minha criação, e ganhei a consciência de um ser
humano, sensível à vida, à dor, e à gratidão...

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