Um velho homem, já cansado de andar e
sem destino, sentou-se ao "meio fio" da
calçada, frente a minha morada.
Ofereci-lhe água fresca e uma cadeira
confortável, à sombra ventilada de um
cajueiro perfumado.
Seus pés descalços, quase em chagas,
pediam socorro. Não aguentavam mais
o chão abrasivo.
Ofertei-lhe banheiro, uma muda de roupas
limpas, calçados e refeição do meio dia...
Foi grande a transformação !
Notei, ali, um homem desprovido de
ambição e educado, mas magoado com
a vida, ou com alguém.
Espontaneamente, satisfez a minha
curiosidade, ao mostrar o que trazia em sua
mochila.
Quase nada havia, além de recordações,
fotografias, bilhetes e muita saudade de um
passado, que não se despede do presente...
Migalhas de pão, que colheu no seu trajeto
sem fim, negavam-se abandonar as poucas
quinquilharias que carregava.
Ao apertar minha mão, emocionado pela
gratidão, disse-me:
" Esta mochila não pode carregar muitas
coisas materiais.
É o depósito do meu universo imaginário,
da eterna saudade que transborda os limites do coração.
Nela, deposito os versos que componho, sem
escrever uma só letra... "
Foi embora, deixando-me um largo sorriso, sem
dentes, mas uma alma transparente querendo
ficar.
E, em sua mochila encantada levou
a minha saudade, com vontade de querer voltar !
Sinval Santos da Silveira
Que lindo!
ResponderExcluirEssa leitura traz um resgate do que somos, do que fomos e no que nos tornaremos. Sempre as lembranças em nossa "mochila mental"... É só o que levaremos...
Abraço.
Querida Amiga/Poetisa, Célia Rangel !
ExcluirMuito Grato pela generosidade do
Comentário. Estás coberta de razão, em
tuas sábias observações.
Um fraterno abraço, aqui do Brasil.
Sinval.
um belo texto como síntese de uma vida que rica de sonhos e lembranças é um sopro de esperança ...
ResponderExcluirUm abraço
Querida Amiga/Cientista Social, Guaraciaba
ResponderExcluirPerides !
Ainda que parecendo caminhar sem destino,
procurava ou fugia de alguma coisa...
Mereceu o meu respeito e apoio.
Muito grato pelo carinhoso comentário.
Uma ótima semana e um fraterno abraço.
Sinval.
Comovente este seu poema narrativo, meu Amigo Sinval. A vida é por vezes muito dura para alguns que, apesar de tudo, conservam o fulgor da alma...
ResponderExcluirUma boa semana.
Um beijo, daqui de Portugal.
Belíssimo ! Parabéns pela sensibilidade, de emocionar!
ResponderExcluirUm texto forte , traduzindo uma vida que ainda sobrevive porque tem suas lembranças...
Oi, Escritora/Poetisa, Cristina Luzia Fontes !
ExcluirVerdade. São heróis do sofrimento...
Muito agradecido pelo carinho, querida !
Um bom dia.
Sinval.
Querida Amiga, Mestra/Poetisa, Graça Pires !
ResponderExcluirO sofrimento daquele velho homem, a si
mesmo imposto, é interminável.
Comoveu-me...
Muito grato pela atenção e um carinhoso
abraço, aqui do Brasil.
Sinval.
Quando ele se foi a mochila estava mais pesada, carregava mais alguma coisa: a esperança.
ResponderExcluirBelo texto, Sinval.
Querida Poetisa, Sônia Brandão !
ResponderExcluirBela observação em teu generoso
comentário.
Muito agradecido e um feliz final
de semana.
Sinval.