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segunda-feira, 26 de março de 2018

Conto poético : VISÃO NA PROA



Mar a dentro,  o pequeno barco  seguia  o  seu destino.
No leme,  um pescador apaixonado,  carregado  de  
saudade !
Nada enxergava, além do denso nevoeiro e a sagacidade
da pescaria.
Sua visão não ultrapassava  a  proa.
O ronco do motor abafava o grunhido das gaivotas
aventureiras  e  atrevidas,  que  cruzavam a  embarcação.
Os respingos das ondas,  frios  e salgados,  acariciavam
sua face, dando-lhe  as boas vindas.
Já em alto mar,  em profundo delírio, enxergou sua amada, 
na proa sentada,  implorando por amor !
Abandonou o leme e, cegamente,  abraçou seus cabelos,
longos e negros, e amou...
O barco, na sua derradeira pescaria, nunca mais  retornou,
nem  se ouviu qualquer notícia do pescador.
Ainda hoje, as gaivotas pousam nos convés dos barcos
pesqueiros, querendo  contar esta misteriosa história
de alucinação.
Mas, ninguém presta atenção...
 
sinval silveira



domingo, 18 de março de 2018

Poema: MARIELE, QUEM ROUBOU O TEU SORRISO ?


Não  te conhecia...
O  teu nome,  jamais ouvi.
Falam muitas coisas a teu respeito...
Idade:  38 anos.
Nível de escolaridade:  3. grau.
Uma filha, órfã  de pai,  com 20 anos.
Negra, nascida e criada em favela do Rio de Janeiro.
Defensora dos direitos humanos.
Vereadora, eleita com mais de 46.000 votos.
A quinta mais bem votada.
Acho que não sei mais nada, nem saberei,
Teu assassino não permitirá.
Teu motorista ?
Bem, ele também morreu...
Faz alguma diferença ?
E Mariele Franco, falou :
" Enganam-se os que pensam que
calaram a minha voz.
Só fizeram aumentar mnh´alma, sedenta
por justiça e que, agora, transfiro ao meu povo.
Espero que a minha morte, e a do Anderson,
sirvam para reduzir a  miséria e  consolidar o
respeito entre as maiorias e as minorias sociais, 
nascendo  um novo amor entre as  pessoas." 
E eu lhes digo:
Sejam bem vindos à lista dos condenados e julgados
sem defesa.
Dos que lutam,  corajosamente, de frente, mas
 morrem  à traição, por mãos  covardes que espreitam
à sombra da maldade.
 
Sinval Silveira

terça-feira, 13 de março de 2018

Conto poético: COM O LÁPIS NA ORELHA


Mas, o que  era aquilo  ?
Simplesmente, um símbolo de trabalho ou,quem sabe,
de poder.
Foi usado durante séculos, pelos comerciantes.
Sacavam,  detrás  da orelha, aquele  indispensável
instrumento de trabalho, para efetuar as quatro 
operações aritméticas,  sobre as  vendas realizadas.
Um modesto lápis... e uma orgulhosa orelha, por
vezes  até  calejada.
Era um  ritual charmoso !
Poderia até ser  analfabeto mas, nas contas, 
era "bamba".
Privativo dos homens.
Jamais vi  uma mulher com este hábito, possivelmente,
impedida pelos cabelos longos.
A  calculadora,  traiçoeiramente,  "quebrou o lápis" e 
"aposentou a orelha".
 
Sinval  Silveira


segunda-feira, 5 de março de 2018

Conto poético: UMA BARATA ESPECIAL



Os ponteiros do  relógio assinalavam
 22,00 h...
Encontrava-me confortavelmente sentado,
divagando os pensamentos sobre o dia que passou.
Noite quente de verão, abafada, sem vento...
Desviei o olhar para o lado, lá estava uma
barata, devorando alguma migalha de 
alimento, perdida pelo chão.
Como quase todo mundo, tenho pavor deste
inseto.
Condenei-a à morte, sem julgamento, apenas
por  preconceito. 
Sem fazer movimento brusco, fui à despensa,
peguei uma vassoura e, com a habilidade de
um caçador,  apliquei-lhe uma tremenda vassourada.
Inexplicavelmente, saiu viva daquela ptimeira
"tentativa de homicídio" .
Correu em direção ao roda-pé,  para se 
esconder. 
Apliquei mais quatro golpes de " taekwondo ".
Quebrei o cabo da vassoura e ela fugiu,
embrenhando-se num esconderijo. 
Desisti.
Passados uns trinta minutos,  surge, novamente,
a infeliz.
Desta vez, caminhando trôpega e com uma 
das  asas avariada.
Parou a minha frente,  por alguns segundos,
olhou-me com  desprezo, magoada, e seguiu 
seu caminho.
Fiquei paralisado de remorso...
Como se não houvesse me ferido o suficiente,
minutos depois retornou e veio falecer aos 
meus pés, como  me presenteando 
com a sua morte, parecendo falar:
" Estás satisfeito, agora ?  
Qual o mal que te causei ? "
Fui dormir com a consciência arrasada.
Que lição terrível, aquela barata me deu.
 
SINVAL  SILVEIRA