Circulava pelas estreitas e históricas ruas da Laguna,
um homem, um grande homem, um velho padre !
Caminhava amparado numa bengala, quase um cajado.
Mais se arrastava, do que caminhava...
Vestia o seu hábito, uma velha batina preta, comprida,
quase escondendo as sandálias, de couro rústico.
Pés com profundas marcas, que o tempo, impiedoso,
esculpiu, testemunham os longos caminhos da vida, já
percorridos.
Suas mãos, trêmulas e abandonadas pela beleza da
juventude, acariciam a barba comprida e nevada,
parecendo esconder o rosto de alguém, de quem sente
muita saudade...
Não frequenta cinemas, bailes, praias, festas, rodas de
amigos, nem qualquer outro prazer desta vida.
Perguntei-lhe quantos casamentos, batizados e outros
rituais católicos praticou ?
Sorriu, calmamente, e me disse que, durante os seus
62 anos de sacerdócio, trabalhou muito para a sociedade,
e que, dele mesmo, esqueceu.
"O importante é ver as outras pessoas felizes... e isto me
traz uma imensa felicidade.
Mas, agora, recebi a recomendação de não mais celebrar
missas. Só posso assisti-las... e desejo ao novo sacerdote,
todo o sucesso que experimentei.
Minha atividade principal, no momento, é ajudar a cuidar da
paróquia, das hortaliças, da qualidade da água, e de todas
as demais coisas."
Tomei coragem, perguntei-lhe se amou alguma mulher, ainda
que em silêncio, platonicamente ?
Olhou-me, profundamente, nos olhos, não conseguindo
esconder uma cascata de lágrimas, que despencou da sua face...
Levantou-se, nem de mim se despediu, e foi procurar abrigo na
gélida casa de Deus, onde o calor só se faz presente, no coração
dos verdadeiros homens, como o do velho Padre.
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